MRN Entrevistão: Luisa Parente, gerente de esportes terrestres do Flamengo
O MRN entrevistou o ícone da Ginástica brasileira e Rubro-negra de "um clube só"
MRN ENTREVISTÃO Bruno Vasconcellos Diogo Almeida Igor Pedrazzi Luiz F. Machado Luiza Sá Thiago Fellix
A convidada para a estreia do MRN Entrevistão foi escolhida a dedo.
Quando o Mundo Rubro Negro esteve presente num seminário de apresentação no Clube de Regatas do Flamengo, chamou-me a atenção o fato de Luisa Parente fazer parte da Diretoria. Eu não fazia ideia! Mais um ponto para a Gestão Bandeira de Melo: Luisa conhece muito o esporte olímpico, como atleta e como acadêmica. E eu sempre admirei aquele menina que a TV da minha infância anunciava sozinha em Seul, representando um país inteiro contra soviéticas, americanas, romenas...
Formada em Educação Física, com projetos premiados como consultora educacional. Acima de tudo uma cidadã consciente da participação civil no processo de mudança estrutural do esporte brasileiro. Fundou o Instituto Cultural Esportivo e Recreativo (I-CER), ONG que tem a missão de promover o bem-estar através do esporte, particularmente dimensionando a Ginástica no âmbito da Educação Pública.
Campeã estadual, brasileira e sul-americana em todas as categorias (mirim, infantil, infanto-juvenil e adulto) foi a primeira ginasta brasileira a participar de duas olimpíadas, Seul/88 e Barcelona/92.
Com vocês, Luisa Parente.
Diogo Almeida
Mundo Rubro Negro: Luisa, você foi o primeiro nome da Ginástica brasileira a ganhar destaque. É Rubro-negra de alma também. Então é a maior satisfação estar conversando contigo. Você pode contextualizar o momento que o esporte vivia no Brasil enquanto você ganhava projeção nacional e internacional? Todos se lembram que o único nome era o seu nas Olímpiadas de Seul e Barcelona...
Luisa Parente: Primeiro agradecer pela oportunidade, o privilégio de ser a primeira a inaugurar o MRN Entrevistão. Um agradecimento a todo o pessoal do Mundo Rubro Negro.
De fato era essa a lembrança mesmo. Eu sozinha! Por que nessa época que eu treinava, o Brasil era o décimo oitavo - entre o décimo oitavo e o vigésimo - como equipe no mundo da Ginástica. Então não classificava para enviar uma equipe completa. Tinha que ser classificação individual, sem reserva. Até Seul foi assim..
Em 80 nós tivemos a primeira representação feminina que foi a Claudia Magalhães. Em Moscou 84, a Tatiana Figueiredo. Todos pensam que eu fui a primeira a ir, mas não, eu fui a primeira a ir a duas olimpíadas. A verdade é que o Brasil já foi representado em 80 e 84, e em Seul foi a minha primeira olimpíada e em Barcelona 92, a segunda.
E no masculino idem, em 80 tivemos um representante apenas, o João Luiz Ribeiro. Em 84 o Gerson Gnoatto. Seul, o Guilherme Sagese, que também era rubro-negro e depois em Barcelona o Marco Monteiro, outro rubro-negro! Depois daí, o Brasil começou a classificar um pouquinho melhor, ganhou vaga pra duas, aí tivemos a Daniele e a Camila Comin, depois veio Daiane dos Santos, aí depois conseguimos a equipe completa, já mais recentemente, pra poder participar.
MRN: E como é que foi a sua iniciação na ginástica?
Luisa: Eu tinha 5 pra 6 anos no Flamengo, eu brinco que sou mulher de um clube só!
Então eu comecei aos 6 anos de idade aqui no clube, na escola do clube, e fui detectada aqui na escolinha. Em seguida, passei para a pré-equipe e depois para a equipe, foi muito rápida essa minha ascensão porque detectaram um certo talento e comecei a treinar já com 7, 8 anos.
Com 10 já estava competindo no estadual, todas as categorias. Fui para o sul americano aos 11, aos 12, 13. Panamericano... Primeiro foi em Indianápolis 87, com uma medalha de bronze. Depois Havana 91, o Panamericano das duas medalhas de ouro. Já tinha passado Seul, mas enfim, eu comecei quando a ginástica era ao lado do basquete, coincidência ou não, a gente nunca sabe, porque sou casada com um jogador de basquete (Alexei, hoje radialista esportivo), mas ele na época não era dessa geração.
MRN: E ele já virou rubro-negro (risos)?
Luisa: Ele ta muito mais rubro-negro do que qualquer rubro-negro!! (Risos)
MRN:Por causa do basquete, que tá arrebentando?
Luisa: Exatamente! Ele sabe muito do Flamengo, sabe mais que muita gente. Ele realmente se interessa, acho que ele tem muito gosto do trabalho que está sendo feito aqui hoje em dia.
Mas no fundo no fundo ele é rubro-negro mesmo (risos). E assim, até uma curiosidade: antes de eu ingressar na Ginástica, já tenho história familiar aqui, meu avô e meu tio (Nelson Parente Ribeiro e Nelson Parente Ribeiro Filho) remaram pelo Flamengo e estão na calçada da fama, inclusive. Meu avô foi para a Olimpíada de 36, então é uma história de esporte na família muito forte.
A ginástica era limitada, não tinha tablado, era só uma passadeira, mas tinha os aparelhos todos e a gente treinava lá. Aí, na época de competição, montava-se tudo onde era a quadra do basquete. A gente fazia o salto em um corredor entre a grade do basquete e a arquibancada, então a gente corria no meio pra saltar lá no ginásio da ginástica. Era uma loucura!
De lá, a gente conseguiu, em uma disputa muito grande com o futsal, o Cláudio Coutinho, na época. Parece que as medidas não eram ainda as oficiais, aí eles ficaram assim “ah, pra que ter uma quadra não oficial”. Pois bem. Fizeram o fosso suspenso, depois alargaram o fosso em baixo, e foi se modernizando, foi tentando se adequar com uma realidade da ginástica, com a evolução da ginástica no mundo. Mas a gente, embora fosse sempre o Flamengo um dos maiores centros do Brasil, como um todo, estávamos sempre um pouco aquém do que eram os centros de treinamento no mundo inteiro. Até hoje, pra falar a verdade... Agora, pela primeira vez, o centro de treinamento recém-inaugurado lá na Barra condiz com a realidade mundial. O nosso aqui do clube, em breve, vai ser igualmente avançado.
MRN:Sobre a sua carreira. Você se aposentou novinha, 22 anos parou. A Daniele Hypólito taí na sua quinta olimpíada com 30 anos. Por que você parou tão nova?
Luisa Bom, acho que tem dois fatores importantes pra ressaltar.
Um é o sistema de competição. Favoreceu o prolongamento da carreira.
O outro é um ponto negativo, talvez uma falta de renovação do próprio Brasil. Por que se a gente não tem renovação, quem está ali se mantém, consegue se manter um pouco mais. Todavia, eu acho que ela tem condições diferentes das minhas. Ela viveu um período que ela consegue viver financeiramente da Ginástica. Um período profissional do esporte.
Eu vivia por uma ajuda de custo mesmo, mal conseguia bolsa de estudos. Era uma coisa mais de permuta do que financeira... Os atletas que despontaram nessa época mais profissionalizada da modalidade ginástica, realmente conseguiram fazer um pé de meia muito bom. É o caso dela. E ela tem algum nível né? Enfim, na minha época foi diferente.
A minha decisão pessoal de parar... Bem, já vinha gente gente nova competindo bem; eu preciso pensar em outras coisas pra me sustentar. 22 anos... não vou ficar na barra da saia da mamãe, nunca fiquei, então eu já estava me formando em educação física e em direito. E aí precisava de apoio né, não dá mais pra ficar só tirando do bolso a vida inteira, desde os 6 anos praticamente.
Então tive alguns patrocínios ao longo da vida, até um dos maiores que eu poderia ter usufruído um pouco mais de recursos financeiros pra mim pessoalmente, optei por um acordo à época visando a melhoria pra ginástica, então, ao invés de eu receber recursos financeiros desse patrocínio, eu recebi em equipamentos que nunca chegaram pra eu treinar.
MRN: Com essa evolução que você disse, sobre a parte financeira, que vem acontecendo ao longo dos anos, você acha que a visão dos esportes olímpicos tem melhorado de modo geral?
Luisa: De um modo geral sem dúvidas, os esportes olímpicos estão assumindo um papel importante de organização esportiva, como um todo, para o sistema esportivo brasileiro em todos os aspectos e todas as instâncias.
Agora, temos, ainda hoje, federações e confederações no sistema antigo e que se elas não derem um clique, não vão acompanhar. E clubes também. Desde aquela época que o Flamengo, nesse pioneirismo, começou com as empresas que queriam investir, transformar em empresa o clube, etc, já era nesse sentido, porque não poderia, mesmo uma associação sem fins lucrativos como são os clubes, não ter uma organização que seja profissional, nível olímpico, que você tenha um ambiente que seja correto.
Então, sem dúvida há uma transformação muito grande, acho que isso vai refletir em tudo e também, paralelamente a isso, há uma movimentação também de transformação no mundo político mesmo, rediscutindo o sistema, ter realmente a política de esportes no Brasil. Por exemplo, a gente olha para alguns países, a Inglaterra, o remo de lá é o melhor do mundo. Tem outras modalidades também muito boas, mas a política deles é ir categorizando, investido mais no remo, enfim, terem uma diretriz, uma política.
MRN: Aqui no Brasil quais são os esportes que disputam nessa questão de política de estado?
Luisa: De estado acho que não. É uma política das confederações. Já era para o Estado assumir alguns esportes como política sua. Mas o sistema (que era pra ser um sistema!) e, portanto, integrado, é totalmente cada um por si e Deus por todos.
O presidente que assume uma federação age de uma maneira. A própria CBV agora, tudo bem, tem uma série de questões aí, mas descontinuou uma série de programas que tinham uma relação com todo o histórico de evolução do vôlei! Por quê? Será que eles mereciam ser contestados e aprimorados ou é porque a nova cabeça que entrou realmente quer mudar tudo, por causa desse reflexo também do Brasil de descontinuidade.
MRN: A gente vê um pouco disso no basquete também...
Luisa: São Paulo é um mundo a parte. O Rio hoje no esporte está morrendo afogado de uma maneira geral. Assim, competição estadual de ginástica a gente sofre, os dois clubes que resistem em manter um certo nível, sem falar que em nível realmente de competição o maior é o Flamengo. Mas o Fluminense, enquanto clube não, é terceirizada a ginástica do Fluminense, uma coisa que clube não tem essa política também, então tudo muito difícil ainda.
MRN: Já que a gente começou a entrar nesse assunto de política do esporte, estamos às vésperas de uma olimpíada, como você vê as chances do Brasil nessas olimpíadas de modo geral e o Flamengo dentro desse contexto.
Luisa: Eu vejo muito promissora a nossa possibilidade de medalhas, de resultados positivos, porque o COB traçou a política dele com a meta Rio 2016 que é esportes individuais, judô e ginástica, porque dão mais chances de medalhas. E nesse ponto nós temos hoje a maioria da seleção brasileira no Flamengo, na Ginástica e no Judô. A ascensão de novos valores que têm chances reais de integrar essa equipe Rio 2016, então não ficamos com os nomes já consagrados do Judô, que já seriam certos, digamos assim, mas hoje o judô rubro-negro têm nomes que podem estar lá sim e surpreender.
MRN: Na equipe de Ginástica do Brasil são quantos?
Luisa: Na verdade a equipe é composta de quatro, então o Brasil tem doze pré-convocadas lá, o Flamengo tem oito ginastas lá dentro dessas doze e apenas quatro é que não, nós corremos a risco de ter a maioria também dessas quatro.
MRN: 2014 também foi um ano bom para o Judô do Flamengo e agora no final do ano a Bárbara Timo e a Daniele Karlla conseguiram vaga na seleção. Conseguiram uma vaga pra seleção que pode integrar o Rio 2016, certo?
Luisa: É, porque eles (CBJ) têm seletivas anuais e olímpicas também, não só seletiva nacional, mas tem a seletiva olímpica e elas conseguiram a vaga.
MRN: Luisa, fale um pouco aos leitores do Mundo sobre as super-academias que o Fla inaugurou em dezembro.
LuisaO Flamengo tem agora os Centros de Treinamento de Força e Condicionamento (CTFC). Locais de treino de última geração: equipamentos que você entra e, alguns se assemelham aos de uma academia de musculação, mas outros são com sistema pneumático, que é de pressão, e simulam a mecânica do gesto motor de cada modalidade. Eu posso fazer uma braçada da natação, uma puxada do judô, posso fazer um cristo das argolas e, com isso, você aprimora, ganha em performance lá na frente. Não só atletas como comissão técnica estão maravilhados com esse centro e já planejando todo o treinamento com base nisso e isso é um ganho maravilhoso. O nosso aqui se chama Centro de Treinamento Georgette Viddor, uma homenagem à altura. E lá na sede náutica também temos outro CTFC, para o Remo.
MRN: São chamadas de academias modernas...
Luisa: É, mas a gente chama de Centro de Treinamento de Força e Condicionamento, porque ele é muito mais do que uma academia de musculação.
MRN: Vamos falar um pouco da parte do Flamengo de trabalho, do dia a dia. Você é nossa gerente de esportes terrestres. Explica um pouco dessa hierarquia? O Vido é o nosso Diretor...
Luisa: Às vezes você tem até equivalência de algum cargo, mas com outra nomenclatura e outro lugar. No próprio Minas (clube anterior do Vido) por exemplo, lá o VP era diretor e ele era o gerente lá, mas enfim é uma questão só de nomenclatura.
Temos o Vice-Presidente de Esportes Olímpicos, cargo não remunerado, depois tem um Diretor, depois é dividido em várias Gerências. Está sendo criada mais uma, que é a Gerência de Ciência do Esporte, esta se juntará com as Gerência dos Esportes Terrestres - que eu comando - , mais a Gerência de Esportes Aquáticos (Gerente Edson Terra) e do Remo e Canoagem (Gerente Edson Figueiredo).
MRN: Luisa, como o torcedor pode diferenciar claramente o trabalho do diretor para o do gerente?
Luisa: O diretor é responsável por toda a área. Ele é um diretor executivo, mas acima de tudo ele está muito ligado na área de captação dos recursos para os esportes olímpicos. Os gerentes cuidam da operação toda da modalidade em relação a programação, calendário, instalações, a toda a infraestrutura, questão técnica também, aí nesse ponto eu aprofundo mais na ginástica, e nas demais, o judô e o vôlei, nós até temos os coordenadores. Para ter esse olhar mais técnico para a modalidade. Ou o técnico que é mais responsável, o chefe, digamos assim, essa função do técnico de pensar toda a programação técnica desde a base e ponta, a gente divide os esportes olímpicos assim. Equipes de competição.
É o que nós cuidamos, as equipes de competição e a Escola de Esportes Sempre Flamengo (não queremos chamar de Escolinhas). Ela tem uma supervisão própria, só que é nossa missão fazer essa integração também...
MRN: Se estiver um talento surgindo...
Luisa: É, e não só se tiver o talento lá, ver qual é o trabalho que está sendo feito lá, otimizado pelo conhecimento técnico de toda essa comissão técnica.
MRN: Luisa, em seu site você relata que um dos seus sonhos era levar os esportes olímpicos para as escolas. Certamente seria ótimo em diversos aspectos! Fale então pra gente sobre o ICER.
Luisa: Desde que eu encerrei a carreira e me formei em educação física comecei a trabalhar com a iniciação esportiva nas escolas. Desenvolvo, portanto, esse trabalho há 20 anos. Um trabalho particular, de consultoria, desenvolvimento e até implantação da ginástica.
Contudo, sempre tive relacionada com algum tipo de atividade solidária sócio-esportiva. Então em 2008 eu ajudei a fundar o Instituto Cultural Esportivo e Recreativo (ICER) e o sonho também poderia se realizar através dele, trabalhar o ICER pra levar para as escolas municipais, em projetos públicos, etc, esse formato que deu certo durante 20 anos de iniciação na ginástica, porque a gente vê que tem muitas escolas com espaço! Não requer muito material, mas tem lá um plinto (aparelho destinado a execução de saltos com auxílio de um trampolim), um colchonete, um bambolê, alguns materiais que são suficientes pra você trabalhar a iniciação, mas nem sempre o professor está capacitado.
Hoje eu conheci já o modelo do ginásio experimental olímpico, que é o modelo daprefeitura municipal do Rio, que é maravilhoso, estilo escola americana, que você passa o dia inteiro na escola, em horário integral. Tem diversas modalidades que você realmente desenvolve e aprende, mas ao mesmo tempo tem a educação física bem elaborada, com um projeto pedagógico muito bom. Então eu visitei o de Santa Tereza, mas tem mais de um, tem em Honório Gurgel, se não me engano, tem até o ginásio experimental paralímpico. Eles estão buscando alguma coisa diferenciada para o futuro, porque isso aí é uma coisa que você tem que implantar aos poucos.
Então esse é o sonho, eu acho que não dá pra fazer tudo ao mesmo tempo, porque o Flamengo está consumindo, mas estou muito realizada e acho que outras entidades, outros profissionais estão fazendo isso. O fato até de eu divulgar o meu sonho ajuda a outros ajudarem a executar esse sonho também.
MRN: Os Esportes Olímpicos do Flamengo atual são auto-sustentáveis? Conseguem se manter com as próprias pernas?
Luisa: 100% não, mas praticamente. Nós temos reuniões periódicas com nosso diretor, ele nos explana claramente quais são as nossas fontes de recurso, o que a gente tem disponível, como que a gente pode agir.
Então isso nós traz uma segurança e uma perspectiva muito boa, porque não é fácil captar recursos, elaborar projetos - nós temos a gerência de projetos também, não é fácil executar projetos, prestar contas de projetos, mas quem disse que ia ser fácil?
A questão é que isso tudo está sendo feito e ao mesmo tempo estão sendo buscadas novas fontes de recursos. É como uma cartela de investimentos, não dizem que você tem que diversificar os investimentos? Não investir só em imóveis ou só nisso ou aquilo? Então a gente não pode se assegurar e se basear só em projeto incentivado. O Flamengo olímpico tem que contar com patrocínio direto também. Com a doação do Anjo da Guarda, ela é para toda a vida, porque se realmente não cancelarem a lei, o que eu acho que jamais vão fazer, então é uma questão progressiva, eu tenho essa convicção de que o Anjo da Guarda é progressivo e a gente precisa ajudar a divulgar. Então agora, talvez até nessa época, vocês possam ajuda aí também com essa divulgação, na época do próprio imposto de renda agora em abril, a gente reforçar, porque tem muita gente que já ouviu falar, mas não tem certeza do que é e que, se soubesse, falaria “era só isso? Ao invés de eu dar mil reais pra lá, eu posso dar mil reais pra cá?”.
MRN: Tem uma cartilha que o Flamengo fez...
Luisa: Exatamente. Eu mesma, como contribuinte, junto com outros gerentes aqui e outros técnicos, muita gente dá pro Flamengo também. Um detalhe importante, o CTFC aqui da Gávea recebeu o nome da Georgette Vidor, foi uma homenagem da Vice-Presidência de Esportes Olímpicos a ela. É um nome inesquecível aqui do clube, formou gerações e gerações da ginástica.
MRN: Como se consegue chamar atenção da torcida para os Esportes Olímpicos com a predominância do futebol? O Clube pensa em fazer alguma coisa em termos de marketing?
Luisa: Eu acho que isso envolve ações educativas e dar a oportunidade para as pessoas sentirem aquele gostinho, porque a maioria dos que gostam de futebol também curtem esportes em geral. É porque as vezes eles também não estão ligados em como é bom outros esportes!
Quem tem já essa cultura desenvolvida parou até no tênis, está lá olhando e de repente ficou acirrado e quando menos espera você está empolgado com tudo e independente até se é o próprio Flamengo. Claro, se é o rubro-negro o cara quer torcer pelo Flamengo, mas eu acho que também tem uma coisa de campanha mais ampla, cultura esportiva geral, de apreciar mais o esporte. É uma mudança de paradigma, essa coisa da tecnologia, a geração nova está muito assim (olha para baixo imitando mexer no celular), só consegue ficar assim! Acho que é um desafio muito amplo, não só da gerência do Flamengo, nem da diretoria ou vice-presidência...
MRN: A partir do momento que o cara é torcedor, gostar de acompanhar outros esportes, e até dentro do Flamengo mesmo. Talvez haja um problema em exaltar apenas quem vence. Só percebe-se quem está ganhando. Então por que não fazer com que as pessoas, de alguma forma, criem esse hábito de gostar de esporte pelo esporte e não só porque tem um atleta do Flamengo e que pode vencer. Você vai lá pra assistir, pelo prazer, que nem o americano faz, é o evento, ele quer sair de casa. A mídia também trabalha só em cima do ídolo e não do esporte em si...
Luisa: Sim! E vocês podem ser essa mídia diferente que vai trazer esse enriquecimento cultural e educacional.
MRN: A nossa ideia é essa, fazer com que o torcedor rubro-negro saia de casa para assistir a competição de Ginástica Olímpica, a do Judô, e torcer pro cara independentemente de ganhar ou não, no final das contas.
Luisa: A gente sempre tem a noção de que, claro, quanto mais base é o nível, a categoria de mirim, etc, sabe que papai, mamãe e titia são o público mais direto ali, mas se conseguirmos tornar isso uma coisa de mais entretenimento, mais evento, não só os pais estarão nos locais de competição.
Eu tiro por mim. Acabo apurando meus conhecimentos, simplesmente vendo. Eu hoje me vejo mais conhecedora de outros esportes, passando a conhecer mais de perto o vôlei, porque né, eu assumi a gerência, você passa a observar a qualidade do outro time, quais os benefícios daquilo e se torna agradável assistir e torcer.
Mas acho que a gente precisa realmente mudar a mentalidade.
E aquela coisa também do futebol que é muito grotesca, lamentavelmente, que é essa postura de agressividade. A gente busca aqui, pelo menos nesse sentido, o atleta é torcedor também, ele torce pra outra categoria do time dele que está lá contra o outro e tal, então nossa filosofia aqui é que nós torcemos para o nosso time, não contra o outro time. Aquela coisa de vaiar o outro time, torcer pro outro time errar, não, eu torço pro meu acertar e valorizo o outro time, porque ele não é meu inimigo, é meu adversário.
Então aqueles valores do esporte, e isso vai vir muito à tona agora nas olimpíadas. Temos que aproveitar realmente isso, que é aquele legado intangível e saudável do fazer esporte e saber competir.
MRN: Luisa, muito obrigado! Foi realmente espetacular conversar contigo. Soubemos que seus filhos já estão a caminho de uma Olimpíada aí... (risos)... O Portal Mundo Rubro Negro deseja toda a sorte pra Luisa Parente e para o Esporte Olímpico Rubro-negro.
Luisa: Muito obrigado vocês, foi ótimo. Desejo muito sucesso ao projeto. Fiquei realmente empolgada com a proposta. O que puder ajudar contem comigo! E foi bom falar um pouco de tudo mesmo. Foram 16 anos de carreira como ginasta rubro-negra. Comecei com 6 anos e terminei com 22, passei por todas as categorias. E agora meus dois filhos também praticam esporte, Manuela de 15 anos está no vôlei e José Afonso de 11 está no futebol.