Inegavelmente, a dimensão de um clube como o Flamengo escapa das 4 linhas. Vai além dos jogadores e técnicos que marcaram o seu legado esportivo. Uma vez que é um clube de abrangência nacional, o Flamengo também é um pedaço cultural brasileiro, manifestado em suas mais diferentes formas. Por conta disso, existem figuras para além do campo que carregam forte identificação com o Rubro-Negro e merecem ser lembrados por isso.
É o caso de Henrique de Souza Filho, mais conhecido como Henfil. Histórico cartunista brasileiro e grande defensor do retorno da democracia em tempos de ditadura, Henfil faria aniversário de 80 anos na última segunda (05). Por isso, a coluna de hoje tem por objetivo lembrar da paixão que o mineiro desenvolveu pelo Flamengo, sua participação da adoção do urubu como mascote e sua contribuição nos chamadas Fla-Diretas.
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As origens
Henfil foi nascido e criado em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte. Depois de largar o curso de sociologia na UFMG, recorreu ao desenho com a finalidade de se dedicar à carreira que mudaria sua vida em 1964, contribuindo com charges políticas na revista Alterosa e no jornal Diário de Minas.
Assim como seus irmãos, o músico Chico Mário e o sociólogo e ativista Betinho, Henfil era portador de hemofilia. A doença, porém, nunca o inibiu de se arriscar brincando ou jogando futebol quando criança. De fato, isso demonstra era um prenúncio da personalidade irônica e desafiadora manifestada em suas charges e declarações públicas.
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Conforme percebia o mercado limitado em sua cidade natal, em 1967 o cartunista aceitou o desafio de produzir na área esportiva ao ingressar o Jornal dos Sports, no Rio de Janeiro. Posteriormente, Flamengo e Henfil se conectaram de maneira ímpar.
Nascem os mascotes
Primeiramente, as tirinhas focavam no tom político de Henfil. Logo depois, ele começou a brincar com a situação das equipes cariocas diariamente de maneira variada. Os clubes eram representados normalmente por seus torcedores ou figuras estereotipadas dos dirigentes, vestidos de terno e cartola.
A preferência pelo Flamengo já aparecia nessa ocasião, fosse através da retratação de sua torcida, fosse por meio de críticas ao clube e à fase ruim que o mesmo passava.
Em abril de 1969, Henfil surgiu com os mascotes dos clubes. Primeiramente criou o Urubu e o Bacalhau para representar, respectivamente, Flamengo e Vasco. A ideia tinha como referência o trabalho do próprio cartunista no Diário de Minas através da caracterização dos torcedores de Atlético e Cruzeiro como personagens.
Urubu e Bacalhau foram com a finalidade de representar os torcedores dos dois times mais populares da cidade. Diariamente Henfil explorava a dupla em tirinhas de humor. Eventualmente, as outras equipes ganharam seus mascotes com o selo do cartunista: o Botafogo era o Cri-cri devido às reclamações dos botafoguenses recebidas no jornal, o Fluminense era o pó-de-arroz dado seu estereótipo aristocrático, e o América era o Gato Pingado, em referência ao número pequeno de torcedores.
Segundo o autor Dênis de Moraes na obra biográfica O Rebelde do Traço, os mascotes não foram bem recebidos de início. Torcedores de Flamengo e Vasco chegaram a enviar um abaixo-assinado com 46 assinaturas para o Jornal dos Sports alegando que estavam sendo feito de chacota pelos apelidos. O jornal achou que isso era um sinal da boa venda de exemplares e resolveu manter os personagens. Até hoje alguns desses apelidos seguiram.
A consolidação do Urubu
A adoção do urubu, em substituição ao anterior Popeye, veio de maneira gradual, passando pelas tirinhas do próprio Henfil e se consolidando pelo jogo contra o Botafogo em 01 de junho de 1969.
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A partida não só marcou o fim do tabu de 4 anos sem vencer o rival, como também é lembrada como a vez que torcedores rubro-negros jogaram no gramado um urubu com a bandeira do clube. Era a consolidação do nosso mascote.
A Fla-diretas
Outa característica marcante de Henfil foi sua luta pela democracia num país comandado pela ditadura militar. Apoiador declarado do Movimento Diretas Já!, Henfil também contribuição na criação do movimento Fla-Diretas, de torcedores do Rubro-Negro que juntavam a torcida com o grito pelo fim do regime ditatorial.
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Henfil contribuição para a criação do logo do movimento, marcado por um urubu levando uma cédula de votação na boca. Além disso, o cartunista também foi diretor de criação do movimento.
Por fim, Henfil foi um mineiro que se apaixonou pelo Flamengo e demonstrou isso através de sua tirinha. Inegavelmente, seu legado tem grande importância em nossa história e será sempre lembrado.