Marcos Braz: o afamado mundial tratado como torneio de verão
O Especial “Personagens de um Semestre Perdido” apresenta 11 peças-chave para os resultados do 2023.1 do Flamengo. A maior parte desse elenco decepcionou, mas alguns se salvaram e outros contam com nossa certeza de que ainda podem muito em breve ajudar a reverter o quadro de vexames históricos que machucou a Nação nos primeiros meses desta temporada.
O torcedor Marcos Braz sabia perfeitamente o que o Mundial de Clubes significava para o Flamengo. Foi ele quem, no meio da comemoração de mais um título da Libertadores, já queria e prometia o mundo de novo. Mas ele esqueceu de combinar com o dirigente Marcos Braz.
O homem forte do futebol rubro-negro tratou uma das competições mais importantes do clube como um torneio de pré-temporada. Trocou o técnico que tinha classificado o time para a competição e deu férias prolongadas para um elenco que já havia passado o último mês da temporada com o pé no freio depois de conquistar dois títulos.
O resultado a torcida do Flamengo vem ouvindo nos estádios Brasil afora sempre que o time tem maus resultados em 2023 – o que aconteceu mais vezes do que qualquer torcedor esperava ou queria no primeiro semestre. O “Real Madrid pode esperar, a sua hora vai chegar” que começou como bravata de Braz virou provocação dos rivais.
Uma provocação bem melhor do que referências a divisões inferiores ou outras que os adversários têm de ouvir, é verdade. Mas algo dispensável se Braz não tivesse se especializado em promessas vazias e planejamentos falhos.
A falta que faz um bom planejamento e mais um vexame, agora na Libertadores
O Real Madrid não foi o único destinatário de uma promessa não cumprida do Flamengo no primeiro semestre. À torcida ele tinha prometido quatro reforços para o início da temporada. Trouxe apenas Gérson, uma volta que a torcida queria muito, mas que demorou a suprir a saída de João Gomes. Já Rodinei, titular da lateral direita em 2022, não teve a saída reposta.
Como a sorte costuma ajudar os competentes, o Flamengo em dado momento do semestre deixou de não ter lateral-direito apenas metaforicamente e passou a ficar literalmente sem opções para a posição.
Sem aprender a lição do Real Madrid, Braz redobrou a aposta e celebrou o grupo do Flamengo na Libertadores, dizendo que o clube não tinha do que reclamar. Na teoria, tinha até razão, já que teria pela frente os pequenos estreantes Aucas e Ñublense.
Na prática, as más escolhas de Braz transformaram o que era fácil num percurso turbulento sem vitórias fora de casa e com a vaga ainda não carimbada na última rodada. O Flamengo acabou passando em segundo lugar e perdeu o direito de decidir as oitavas, e possivelmente, as fases seguintes em casa.
O pior início de ano dos seus cinco à frente do cargo fez Braz balançar. Até aliados de Landim chegaram a pedir a cabeça do vice-presidente de Futebol nos bastidores. No Maracanã, apesar de seus estreitos contatos com torcidas organizadas, Braz chegou a ouvir que o Flamengo não precisa dele.
Um escudo para Landim e a carreira política em paralelo com a de dirigente do Fla
Landim, porém, não abriu mão do seu escudo. Disse que Braz não é bom, é ótimo. E reafirmou não ter motivo para demiti-lo. Com a boa sequência de Jorge Sampaoli, contratado para substituir Vitor Pereira após o fracasso nas quatro primeiras competições do ano, a pressão deu uma refreada, mas Marcos Braz já não tem tanto prestígio com a torcida quanto teve um dia.
Mais do que personalizar as críticas a Braz, oposição, imprensa e torcida cobram do bilionário Flamengo profissionalização no futebol. Embora no organograma existam dirigentes profissionais como o diretor Bruno Spindel e os ex-jogadores Fabinho e Juan – cujas funções ainda seguem algo misteriosas ao observador externo -, o comando do dia a dia fica por conta do amador Braz.
E Braz vem deixando claro que o Flamengo talvez não seja sua maior prioridade. Vereador e dirigente do PL no Rio de Janeiro, ele faltou a um jogo do Flamengo contra o Cruzeiro para comparecer ao casamento de um político. Pelos mesmos dias, surgiram rumores de que estava preparando sua saída do Flamengo para assumir uma vaga de deputado federal como suplente em Brasília.
Embora esses rumores não tenham se confirmado, Braz deu neste primeiro semestre os primeiros indícios de que prepara um sucessor. Diogo Lemos, membro do Conselhinho de Futebol, começou a ter protagonismo cada vez maior nas decisões do Flamengo. Representou o clube em viagens no exterior, brigou com o presidente do Fluminense na boca do túnel do Maracanã e foi o primeiro a falar em nome do clube na recente polêmica sobre a interdição da Vila Belmiro.
Antes mesmo de assumir, porém, Lemos já teve que responder questionamentos depois que o MRN revelou que o Flamengo foi cobrado na Justiça a explicar com que dinheiro o dirigente – que não é remunerado – faz viagens pelo exterior pelo clube enquanto deve mais de R$ 3 milhões à empreiteira Multiplan por conta de aluguéis não pagos de uma loja.
Por enquanto, Lemos segue apenas no Conselhinho e Braz continua como homem forte do futebol. O vice-presidente está tendo mais uma oportunidade de mostrar serviço à torcida e à sua base de apoio com a janela de contratações na qual já trouxe Allan e Luís Araújo e ainda busca um meia que pode ser Claudinho, De La Cruz ou outro nome.
Finalmente ele prometeu falar menos e trabalhar mais. Quem conhece Braz duvida de mais essa promessa. Mas espera que, como em outros anos, o que começou errado termine com final feliz com o Flamengo levantando novas taças no fim do ano. E quem sabe, voltando ao Mundial. Mesmo sem o Real Madrid.
A contratação do Vítor foi com convicção, isso é o mais importante para deixar claro. Não é porque perdemos duas finais que vou mudar o meu discurso. O Vítor não é um nome analisado no curto prazo pelo Flamengo
Marcos Braz, dois meses antes de perder a convicção e demitir Vitor Pereira