O Flamengo não joga hoje. O Maracanã está em silêncio. E nesse dia de silêncio, uma voz se calou. Gerdau de Oliveira, torcedor símbolo da antiga geral do Maracanã, faleceu neste domingo (24). Afastado do estádio desde o fim da geral, Gerdau ficou famoso nos anos 1980 por berrar instruções para os jogadores do Flamengo durante todo o jogo.
Gerdau era um daqueles personagens que apenas a geral do Maracanã poderia conter. Negro forte, de voz potente, fazia seus “comandos” chegarem aos ouvidos dos craques em campo. Se faziam o que Gerdau “mandava” e dava certo, ele dizia: “Não falei?”.
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Se não faziam e dava errado, ele dizia: “Eu avisei!” Por sorte, sua presença no Maracanã coincidiu com o esquadrão de Zico, Junior, Leandro e companhia. Ai, ficava mais fácil. O radialista Washington Rodrigues, que cunhou o termo “geraldinos e arquibaldos”, era fã de Gerdau. Da cabine, costumava chamar atenção para as instruções do torcedor.
Gerdau virou capítulo de livro de Luiz Antônio Simas
Estudioso da carioquice e das coisas do povo brasileiro, o professor Luiz Antônio Simas lançou em 2021 o livro obrigatório para qualquer um que ama o Rio e o futebol. Em Maracanã – Quando a cidade era terreiro, Simas conta histórias dos mais de 70 anos do estádio, com seus personagens e a sua simbologia. E um desses personagens foi justamente Gerdau.
No capítulo “O Flamengo de Zico e Gerdau”, Simas resume o que era torcer para o Rubro-Negro entre 1979 e 1983, quando o time de Zico ganhou literalmente tudo, sempre com as instruções de Gerdau. Simas escreveu: “É possível que o torcedor símbolo da história do Flamengo tenha sido Jayme de Carvalho, que em 1942, antes do Maracanã, criou a Charanga, e praticamente inventou o que entre nós seria uma torcida organizada.”
O professor continuou: “Se o Flamengo é vermelho e preto, como Exu, entretanto, não há torcedor nos tempos de Maracanã que tenha encarnado mais a mística que unia time e torcida numa coisa só do que Gerdau, uma das figuras mais populares da geral do estádio. Não importava o jogo, Gerdau chegava na geral imbuído de uma missão: dar ordens para o time do Flamengo, aos berros, com a certeza fulminante dos profetas.”