Linda tarde para William Arão, dia terrível para fãs de um gramado decente
Paulo Sousa avisou, as partidas anteriores indicavam e até o bizarro horário das 15:30 já sinalizava: esta quarta-feira iria ser mais um dia de experiências.
Experiências na escalação, experiências na formação e até mesmo experiências no campo mais conceitual do esporte, já que normalmente o futebol profissional costuma ser disputado num campo com grama e a partida de hoje, entre Flamengo e Madureira, no Conselheiro Galvão, parecia estar acontecendo numa espécie de saibro mal terraplanado onde algumas ervas foram salpicadas para fins estéticos.
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E como em todas as experiências realizadas pelo treinador português desde a sua chegada ao Flamengo, alguns testes tiveram resultados visivelmente positivos e outros consequências claramente negativas, com sinceramente poucas surpresas em relação a cada um desses aspectos.
A formação inicial com a linha de quatro jogadores na defesa e Andreas, Diego e João Gomes no meio-campo, por exemplo, não funcionou tão bem. Seja pelos espaços deixados por Isla, seja pelos flashbacks da final da Libertadores que Andreas parece ter, seja pelo fato de que Marinho possivelmente não consegue entender bem o sotaque português de Paulo Sousa e fica sem graça de pedir pra ele repetir as orientações, o que se viu no primeiro tempo foi um Flamengo profundamente confuso, que sofreu o primeiro gol logo nos minutos iniciais da partida e se viu incapaz de articular qualquer tipo de reação.
Mas se na etapa inicial o que se via era uma espécie de trote da faculdade em que o calouro João Gomes precisava carregar as mochilas de todos os veteranos do meio de campo, as entradas de Wiliam Arão e Éverton Ribeiro ajudaram a organizar o jogo do Flamengo, com o volante ajustando a marcação e organizando a saída de bola e o meia oferecendo mais articulação ofensiva e movimentação nas jogadas. Não por coincidência foram exatamente deles os gols que viraram a partida: Éverton, após um desvio de cabeça de Arão, e logo depois Arão, num belo chute colocado de fora da área na sobra de uma tentativa de drible de Éverton.
E com o time mais ajustado, acabou surgindo espaço para outros destaques, como a grande partida de João Gomes, não apenas um guerreiro na marcação como também cada vez mais preciso nos passes ofensivos e o retorno de Bruno Henrique, que se mostrou plenamente recuperado e já capaz de esticar suas pernas com toda a elasticidade que parece faltar em suas expressões faciais.
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O placar poderia ter sido mais elástico? Certamente, já que Pedro perdeu ao menos uma chance clara tendo que se desviar de uma moita para logo depois escorregar num areal, além da baixa qualidade do gramado prejudicar bastante um time de toque de bola como o Flamengo. Mas num período de experiências como o atual, o mais importante acaba sendo conseguir conjugar os testes que Paulo Sousa ainda precisa realizar com a conquistas dos pontos que permitem que a equipe siga bem no campeonato e a torcida não queira virar o carro do treinador português.
Mas se hoje, mais uma vez, os resultados do laboratório garantiram a vitória, domingo, na Supercopa do Brasil, contra o Atlético-MG, o novo treinador rubro-negro irá encarar seu primeiro grande teste na temporada, uma partida valendo título, contra o atual campeão brasileiro, em que ele precisará mostrar que todas essas experiência geraram lições que vão gerar também títulos. Se durante as últimas partidas nós apoiamos o processo, domingo é a hora do produto final começar a aparecer.