Léo Pereira: tão decisivo que precisa de apenas uma bola para mudar a partida
Não que o Flamengo estivesse jogando bem, é claro. Desde a escalação questionável, apostando mais uma vez num Marinho que apresenta alta disposição mas baixíssima cognição, e em mais uma chance para Vitinho, que, bem, é o Vitinho, né, a gente sabe como é o Vitinho, o rubro-negro já começou a noite sem ter exatamente grandes razões para otimismo, sem grandes motivos pra sorrir, sem grandes justificativas para se exaltar.
Mas se na teoria o time não parecia animador, o que se viu na prática foi exatamente o que a teoria apresentava. Diante de um Fluminense que não parecia muito interessado em atacar, a equipe rubro-negra dominava a partida, tinha a posse de bola, controlava as ações, mas também não parecia ter muito interesse em traduzir isso em gol. Éverton Ribeiro recebia a bola e pensava “por que não correr com ela até bater no peito de alguém?”, Marinho tinha a cobrança de falta e se perguntava “o que acontece se eu chutar ela bem alto e bem forte? será que ela bate na Lua?”, Matheuzinho possivelmente um leigo nas premissas básicas da física, se questionava se era possível cruzar uma bola que atravessasse o corpo dos adversários até chegar nos nossos atacantes.
E se o segundo tempo começou mais ou menos no mesmo ritmo, com um adversário recuado e um Flamengo que tinha a bola mas parecia ter perdido a reunião em que informaram que o objetivo do futebol é fazer gol, as coisas começaram a melhorar com a entrada de Arrascaeta, que ao lado de Bruno Henrique, ajudou a substituir as duas novidades da escalação. Com Arrasca o Flamengo começou, ainda que com certo grau de confusão, a criar jogadas, a articular ações, a obrigar Fábio, que possivelmente estava lendo tranquilamente a bíblia debaixo das traves, a trabalhar um pouquinho.
A partida ia nesse ritmo, com um Flamengo que tentava armar sem tanta eficiência e um Fluminense que buscava os contra-ataques sem buscar com tanta vontade, até os 36 minutos do segundo tempo, quando a lesão de Fabrício Bruno causou a entrada dele, sim, dele, Léo Pereira. E o Léo Pereira, amigos, o Léo Pereira é um jogador muito especial.
Porque o torcedor rubro-negro, se acompanha o time há algum tempo, sabe que o Flamengo já conviveu com absolutamente todos os tipos, matizes e categorias de zagueiro ruim. Seja com o violento desprezo pela vida de um Fernando, o total fracasso psicotécnico de um Welinton, o absurdo irreal de um Irineu, a soberba sem sentido de um Bruno Viana, ou até mesmo a existência inexplicável de Thiago Gosling e Gustavo Geladeira, o esperado era que já estivéssemos calejados, preparados, talvez até mesmo anestesiados para qualquer atitude sem sentido que um defensor com a camisa vermelha e preta pudesse tomar.
Mas eis que, como eu disse, entra em campo ele, Léo Pereira. E em sua primeira jogada, seu primeiro toque na bola, ele consegue se enrolar, cair sentado e causar o primeiro gol tricolor. Que é, imediatamente, seguido de um segundo gol tricolor, numa jogada em que Léo Pereira, ainda que não tenha sido protagonista, acompanhava com níveis de desinteresse normalmente dedicados apenas a fotos de férias de colegas de trabalho e stories de conhecidos pedindo pix no Instagram. E com apenas dois minutos em campo, Léo Pereira já havia, com apenas um toque na bola, mudado o rumo da partida.
Não que a culpa seja apenas dele, claro. Nosso ataque atuou de maneira medíocre, nosso meio de campo não criou praticamente nada e nosso treinador parece ser realmente um romântico, porém apaixonado por algumas ideias bem erradas. Mas a questão é que não apenas a presença de Léo Pereira em campo é sintomática de um Flamengo que segue dando chances a quem não merece, como o fato de que um erro colocou um campeonato todo a perder é sintomático do quanto o Flamengo segue sem transformar sua vantagem teórica em resultados práticos.
Talvez não esteja tudo acabado, talvez ainda tenha evolução por vir, mas se já está além do impossível acreditar em redenção para Leo Pereira, começa a ficar complicado dar mais e mais votos de confiança para Paulo Sousa.