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Quando eu era garoto colecionava os álbuns de figurinha do Campeonato Brasileiro. Aqueles da Editora Abril Panini. Um dia me perguntei por que o time do Flamengo não estava na primeira página, já que era o clube de maior torcida do Brasil. A ordem era alfabética? Não era. No álbum da Copa União, o Internacional era o primeiro. Depois vinha o São Paulo. Seguido pelo Atlético Mineiro. O Flamengo era o quinto, depois do Grêmio!
Foi só aí que eu percebi que a ordem seguia um ranking. Ranking Placar. Eu nem sabia o que significava ranking. O Flamengo não era o primeiro e eu fiquei chateado. Nós tínhamos o Zico. Nós tínhamos a maior torcida. O Maior estádio do mundo era nosso. Os artistas mais populares do Brasil eram Flamengo. O Flamengo estava na moda. No topo. O Flamengo era tudo. O Ranking da Placar que vá para o diabo!
Mas aquilo ficou me incomodando. Uma pulga atrás da orelha.
O tempo passou.
No final da década de 80, Zico nos deixou. Mas o Júnior voltou da Itália a pedido do seu filho. O Vovô-Garoto desfilava em campo, era o Maestro da camisa 5. E nos ajudou a conquistar mais um título Brasileiro. Todo mundo tenta mas só o Flamengo é Penta. A nossa molecagem desafiava a todos. Não é possível que agora não vamos liderar aquele maldito ranking. Eu quero o Flamengo em primeiro lugar em tudo. É uma obsessão. Até no álbum de figurinhas. Quando saiu a Edição de 1993 eu fiquei furioso. Estava lá a gente em quarto lugar!!
O tempo passou. Junior se aposentou. O último dos deuses do Estádio nacional de Tóquio. Romário chegou em 1995, ano do centenário do clube! O Flamengo é foda, rapá! As ruas pararam pra receber o Baixinho do Tetra, eleito melhor do mundo, que deixou o Barcelona de Cruyff para formar o maior ataque do mundo ao lado de Sávio e Edmundo.
Bem, a coisa não deu muito certo. Gol de barriga do Renato Gaúcho no Estadual, últimas colocações no Brasileirão. Em 1996, só confusão e crise. Despacharam o Baixinho para a Europa de novo. Entre idas e vindas, a década acaba com a conquista da Mercosul.
Veja o vídeo desse post na TV MRN
https://youtu.be/M9NV7hN9P8k
Caímos para a sexta página no álbum do Brasileirão de 2000. E é aqui que eu queria introduzir nesse papo as declarações do Léo Duarte, nosso zagueiro titular, cria da base. Léo tem 22 anos. Nasceu naquele ano em que o Sávio foi vendido e o Romário perdia a hora dos voos com o time por causa do trânsito da Grajaú-Jacarepaguá.
Léo Duarte disse na coletiva desta quinta-feira, 11 de novembro de 2018 pra você que tá no futuro, que eles, o atual time penso eu, mudaram o Flamengo de patamar. Que agora não briga mais pelo rebaixamento. Perguntado se o ano foi desastroso ele respondeu, abre aspas: “Desastroso não. Chegamos na semifinal da Copa do Brasil, fomos pra segunda fase da Libertadores, estamos brigando pelo título. Mudamos o Flamengo de patamar, chegamos perto dos títulos. Há alguns anos, a briga era na parte de baixo. Esperamos ser campeões ainda nesta temporada e na próxima buscaremos mais títulos”.
Então vamos ver aqui um negócio.
Em 2001, quando Léo Duarte tinha lá seus 5 anos em Mococa, interior de São Paulo, o Brasileiro contou com 28 clubes e o Flamengo foi o 24º da fase de classificação, dois pontos à frente do Santa Cruz, o primeiro rebaixado. Em 2002, o Flamengo terminou em 18º entre 26 clubes. 2003 é um marco nessa história porque foi o primeiro campeonato disputado em sistema de pontos corridos. Isso significa que todos agora jogam o mesmo número de jogos e fica ainda mais palpável aferir o nível de sucesso ou fracasso de um time. O Flamengo fez um Brasileiro meia boca. Terminou em 8º lugar, fez 66 pontos. Não cheirou nem fedeu.
Eu acho que em 2004 o Léo Duarte já pensava em ser jogador de futebol. Foi quando o Flamengo passou por maus bocados. Terminou em 17ª, com 4 pontos à frente do primeiro rebaixado e 39% de aproveitamento. 35 pontos atrás do campeão Santos. Foi só na última rodada, quando goleamos um desinteressado Cruzeiro por 6x2, que nos livramos do risco de rebaixamento. 2004 foi um foi muito maluco e eu acho que merece um vídeo especial aqui no canal.
Quando você encher a boca para falar mal de Joel Santana, lembre-se do ano de 2005, meu amigo. O Brasileiro de 2005 contava com 22 clubes e a nove rodadas do fim o Flamengo estava virtualmente rebaixado. Como era de ser esperar, a mídia e as torcidas adversárias estavam mais ligadas no drama do Flamengo do que na parte de cima da tabela. O nível da chacota era super-ultra-hiper-mega-blaster. Papai Joel foi o grande responsável por manter nossa honra e dignidade. Hoje em dia a gente só ostenta a frase TIME GRANDE NÃO CAI por causa do choque de motivação que ele conferiu ao time horroroso que a diretoria montou. Conseguimos seis vitórias e três empates nas últimas nove rodadas e não foi dessa vez que os vascaínos, tricolores, botafoguenses e toda a paulistada, mineirada e gauchada desvairada riu da nossa cara.
2006 foi o ano da conquista da Copa do Brasil em cima do Vasco de Renato Gaúcho e Valdir Papel. E meio de tabela no Brão. Voltamos a conviver com um título longe do cenário estadual, que se tornou um refúgio de alegria em meio a decadência. Eu amo o tetratri, não me canso de rever o gol do Pet. Mas enquanto Vasco, Corinthians, São Paulo, Santos, Cruzeiro e até o Atlético Paranaense montavam times competitivos para o Brasileiro e Libertadores, a gente se iludia no início desse século com as levantadas de taça da FERJ. Sem contar que a maioria dos times também estavam reforçando sua infra-estrutura, inaugurando CTs e cada vez mais revelando grandes jogadores e faturando mais. A conquista da Copa do Brasil criou uma onda otimista para 2007 e 2008. Nestes anos , aqui no quintal da Baía de Guanabara, fizemos o Foguinho de gato e sapato.
Terminamos em terceiro e quinto lugares no Brasileiro, respectivamente. Voltamos a disputar Libertadores e em 2009, depois de 17 anos de fila… veio o Hexa na Raça. Também não vou me ater a tudo que representa e não representa esse título. Vou fazer um outro vídeo só falando daquele time e campanha inesquecíveis e as milhares de polêmicas fora de campo.
Depois de três anos de resgate de autoridade eu fiquei curioso em saber sobre o Ranking da Placar no álbum do Brasileiro de 2010. Os desgraçados fizeram tudo diferente e agora a ordem era alfabética. Não tem problema. Eu fui na Wikipedia e vi lá que o balanço da década de 2000 colocou o Flamengo em QUARTO LUGAR.
Ou seja, mesmo lutando alguns anos pelo rebaixamento. O Flamengo se manteve no mesmo patamar. É claro que foi uma década ruim. A pior talvez. Estão dizendo por aí que este seis anos de Bandeira são trágicos. Bem, precisamos analisar melhor isso. Assunto para outra hora, à luz de uma análise baseada na perspectiva história e na projeção de outros fatores que precisam estar no prato da nossa balança crítica.
Eu sei que o Léo Duarte já não era um bebê entre 2006 e 2009.
Em 2010, voltamos a um patamar de bagunça. Foi um ano difícil. O fantasma do rebaixamento começou a nos assolar novamente. Em 2011 a diretoria vendeu a alma para ter Ronaldinho, Thiago Neves, Luxemburgo e Cia. Lembrou aquele 1995 da chega de Romário. Deu tudo errado no final? O Fla ganhou o Carioca invicto mas já não ligamos pra isso. Não tivemos sustos no Brasileiro. Chegamos a sonhar com título. Mas teve tanta confusão e problemas financeiros… 2012 o Ronaldinho foi embora e no ano seguinte ajudou o Atlético a vencer alguma coisa na vida enquanto voltamos a chafurdar na lama da bagunça e namorar a segunda divisão.
A Era Bandeira chegou. Tempos de pagamento de boleto. 2013 e 2014 na parte de baixo da tabela. Certo drama, mas passou. Em 2015 já tínhamos time para fazer um papel mais bonito. Não fez. Em 2016 o elenco realmente já poderia ser apontado como um dos favoritos ao Brasileiro. Em 2017 ainda foi mais ilusão. O favoritismo era na Libertadores! Em 2018 alguns apontaram que seria o ano mágico.
Léo Duarte estava iniciando sua carreira no Desportivo Brasil em 2011. Provavelmente não é rubro-negro de infância. Bem provavelmente “torceu” para que o Flamengo fosse rebaixado em algum desses anos aí do passado, quando era um garoto paulista como qualquer outro. Super normal. Mas não foi esse time que mudou o Flamengo de patamar. Quem mudou o Flamengo de patamar foram os times que entraram em campo de 1978 a 1992. O penta, passando pela Copa Mercosul, os tri em cima de Vasco e Botafogo, a arrancada mágica de 2009, foram apenas vislumbres do Flamengo. Assim como os anos de fuga de rebaixamento.
O que o Léo Duarte tem que entender, que o “time dele”, esse de 2016 a 2018, é o time da decepção, do vexame e da pipocada.
O que Léo Duarte e todos os Léos Duartes que podem aparecer daqui para frente com esse discurso têm que entender é que o Flamengo não era um clube cuja história era brigar pra não cair, como eu acho que eles estão pensando que era. Ou pior, estão mudando a realidade de maneira a transformar fracasso em sucesso. Não vai colar.
Grandes merdas deixar de fugir do rebaixamento.
Diogo Almeida nasceu em Nova Iguaçu e fez pós-graduação no Complexo da Penha. Nem sempre vai aos jogos no Maracanã e nunca completou um álbum de figurinhas. Idealizou o MRN e escreve no blog coletivo Cultura RN. Siga-o no Twitter: @DidaZico.
Imagem destacada no post e nas redes sociais: Reprodução - Gilvan de Souza/ Flamengo
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