Wallim e opositores desmontam argumentos de Landim a favor de SAF no Flamengo
O ex-vice-presidente de Finanças da gestão Landim, Wallim Vasconcellos, e os opositores Walter Monteiro e Ricardo Hinrichsen desmontaram, neste domingo (10), o discurso do presidente do Flamengo de que o clube precisa se transformar em um Sociedade Anônima de Futebol (SAF) para erguer seu estádio próprio.
Os três participaram de um debate promovido pelo jornalista Mauro Cezar Pereira em seu canal no YouTube. Eles foram unânimes em apontar que, ao contrário do que o presidente Rodolfo Landim vem defendendo em entrevistas ao próprio Mauro, não há necessidade nem conveniência de o Flamengo se tornar SAF (Sociedade Anônima de Futebol) neste momento.
Eles disseram que há outros caminhos para financiar a construção de um estádio próprio e que o Flamengo ainda tem muito potencial para crescer por próprias pernas antes de tomar a decisão “irreversível” de se desfazer de parte do seu futebol. Veja abaixo os argumentos de cada um deles:
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Walter Monteiro
“Sou totalmente contrário à transformação do Flamengo em uma SAF porque nós não temos nenhum motivo para que isso aconteça. O Landim tem se aproveitado da desatenção de algumas pessoas para lançar mão de alguns argumentos falaciosos. O principal deles é que a criação de uma SAF transformaria o associado do Flamengo em uma pessoa com uma riqueza espantosa, porque a criação de uma SAF valorizaria o título do Flamengo de uma forma abissal a partir do momento em que o clube fosse comprado por 5, 6, seja lá 10 bilhões de reais. E isso não é absolutamente verdadeiro.
A primeira coisa que a gente precisa entender é que o Flamengo é uma associação. E uma associação é muito diferente de uma empresa. O membro de uma associação não tem direito à participação da riqueza que essa associação gera. O Flamengo não vende título de sócio proprietário hoje, mas se encontra gente no mercado secundário vendendo seus títulos de sócio por 15 mil reais, então é isso que vale um título do Flamengo hoje. O Landim disse para você e tem repetido no conselho, que a partir do momento em que o Flamengo fosse vendido esse título significaria que a pessoa seria dona de uma riqueza de 500, 600, 700 mil reais, o que é um argumento absolutamente sedutor. Porque se você tem algo que hoje vale 15 mil reais e alguém diz para você que pode valer 500 ou 600 mil reais daqui a alguns meses, qualquer pessoa se sente tentada a analisar essa opção.
Só que isso absolutamente não é verdade. O título do Flamengo vale 15 mil reais porque é o que permite à pessoa se associar e exercer seus direitos políticos no clube. Se esse raciocínio fosse verdadeiro, o título teria que valer hoje a quantidade equivalente ao patrimônio líquido do Flamengo. O Flamengo tem hoje um patrimônio líquido de R$ 600 milhões, tem aproximadamente 6 mil sócios proprietários. Se esse raciocínio do Landim fosse verdadeiro, o título de sócio proprietário teria que valer já hoje 100 mil reais, e não vale.
Eu só posso entender que essa tentativa do Landim de emplacar uma SAF no Flamengo é efetivamente uma tentativa de se perpetuar no poder. De transformar ele, que não pode mais ser presidente da instituição, no dirigente de uma futura SAF. Esse debate está totalmente enviesado, porque parte de uma premissa de um desejo individual do seu atual presidente.
O Flamengo não precisa de SAF para melhorar sua governança. Era a isso que o Flamengo deveria ter se dedicado na sua última gestão. Aprimorar seus processos internos, melhorar seu estatuto, melhorar sua governança, melhorar seu profissionalismo. Isso pode e deve ser feito dentro do mecanismo de associação.
O Flamengo não precisa de SAF para alavancar recursos, porque o Flamengo hoje é um clube superavitário, com uma receita acima de R$ 1 bilhão, uma geração de caixa fantástica, uma capacidade de investimento seja na gestão do seu futebol, seja eventualmente na construção de um estádio para a qual o Flamengo não precisa agregar um sócio. O Flamengo pode construir um estádio seja com recursos próprios, seja com recursos até de uma associação com terceiros, mas que seja uma associação exclusiva para a construção do estádio. O que o Flamengo não pode abrir mão de jeito nenhum é da gestão exclusiva do seu futebol enquanto associação.
Você pode eventualmente ter uma sociedade com um operador de estádio, um construtor de estádio, alguém que tenha mais know how que o Clube de Regatas do Flamengo. Isso não significa que o Flamengo não possa fazer sozinho se quiser. É claro que isso não vai ser dar sem algum nível de sacrifício. Mas o Flamengo gerou este ano um superávit acima de R$ 270 milhões em três trimestres. A média dos últimos anos é de cerca de R$ 140 milhões. É um dinheiro que o Flamengo tem sem comprometer sua capacidade de investimento. Eventualmente, o Flamengo poderia utilizar esse superávit que a própria operação gera, com potencial de crescimento. O Flamengo tem capacidade de alavancar sua geração de receitas “
Wallim Vasconcelos
“Eu tenho manifestado há muito tempo que eu sou contrário à SAF. O Flamengo consegue crescer muito ainda com as próprias pernas. O Flamengo fatura R$ 1,3 bilhão, pode faturar R$ 2, 2,5, 3 bi se tomar algumas atitudes melhores no marketing, comunicação, no engajamento com a torcida. Não precisa.
Se você ver hoje na Europa os clubes sendo negociados a 2 vezes e meia o seu faturamento, se o Flamengo fatura R$ 1,3 bilhão, valeria R$ 3,25 bilhão, mas se ele faturar R$ 2 bi, vai valer R$ 5 bi, se faturar R$ 3, vai valer R$ 7,5 bilhões. Se a gente vende 30% do Flamengo agora, olha quanto dinheiro na mesa você vai estar deixando antes de chegar ao potencial máximo de receita que ele pode alcançar ainda. Esse é o primeiro ponto que é a questão matemática.
Segundo, os argumentos que o Landim deu, de que o Bayern tem a Allianz, a Adidas e a Audi, ele até cita que a Allianz entrou no capital com 3% e ganhou o naming rights. Então tá bom. Allianz, você compra 20 anos do naming rights do Flamengo, não precisa entrar no capital, você me dá o dinheiro para ter o naming rights, você não ganha uma coisa pela outra. Adidas, você quer ficar 20 anos no Flamengo, fazemos um contrato de 20 anos, você não precisa comprar capital do Flamengo. E a Audi, ou qualquer outra empresa, estou citando essas três como exemplo porque o Bayern tá nessas três. Mas pode ser qualquer outra empresa.
Não precisa entrar no capital do Flamengo para prover os recursos de ganhar, entre aspas, um naming rights ou um fornecimento de material esportivo ou ser uma marca de clube. Não precisa disso. Sou totalmente contra. O Flamengo ainda não está no ponto. Pode ser que até um dia chegue neste ponto, bateu no teto, não consegue mais tirar receita de lugar nenhum, já estamos nos EUA, então vamos trazer um investidor que vai comprar 30% do Flamengo, ou 20% que seja, mas ele vai ajudar o Flamengo a faturar R$ 10 bi. É justo que ele venha quando a gente esteja faturando R$ 5, ou R$ 6 ou R$ 7 e ele vá nos ajudar a dar esse pulo que a gente não consiga mais, mas aí é uma outra história, que a gente tem que debater, estudar lá na frente. Mas eu não vejo no médio prazo, nos próximos cinco anos, nenhuma necessidade de a gente levantar esse ponto.
Eu não preciso ser dono de 100% do estádio. A questão de ser SAF para você fundear um estádio não existe. A gente precisa ter estádio, e o Maracanã não é este estádio. Não dá para o Flamengo ser concessionário do Maracanã com todas as exigências que o governo do Estado faz. Eu não sei se o Flamengo ganhar a concessão se vai continuar essa procura pela atual gestão. O Maracanã só se for privatizado, eu não vejo outra maneira.
O Flamengo já está com o Fluminense no Maracanã, já tem um parceiro no Maracanã, não vejo nenhum problema em ter um parceiro para viabilizar a construção de um estádio novo. Depois de 20, 25, 30 anos, dependendo do tempo vai ser mais ou menos valor que o investidor vai colocar, isso vai reverter de volta pro Flamengo. O Flamengo um dia vai ter 100% desse estádio.“
Ricardo Hinrichsen
“O presidente faz uma confusão entre associado e acionista. Entendo que ele vem do mundo corporativo, e tem muita coisa que a gente pode aprender e usar do mundo corporativo, mas a gente não pode simplesmente aplicar receita de bolo da Petrobras ou da BR Distribuidora no Flamengo, porque são entidades diferentes com fins, objetivos diferentes.
A gente precisa antes de mais nada entender qual é o objetivo de existir do Clube de Regatas do Flamengo, e a estratégia precisa ser montada em cima deste objetivo. Se fosse o caso de vender alguma coisa, se a gente aplicar um múltiplo em cima de um faturamento atual, sendo que a gente não está nem perto de atingir o faturamento que a gente pode atingir, seja com as próprias pernas, seja com parcerias. Seria vender o boi magro.
A minha origem antes do marketing é o mercado financeiro. Fazer um valuation com múltiplo em cima do que o clube fatura agora é deixar muito dinheiro em cima da mesa, é contra o interesse do Flamengo. A gente tem vários modelos para viabilizar investimentos quando forem necessários. Se a gente achar que a gente precisa para viabilizar o estádio, que é algo muito importante, mas é um investimento grande, que a gente precisa de uma alternativa de sócio, de parceiro.
Neste ponto eu concordo com o presidente, acho que o estádio é necessário neste momento, concordo que o ideal é não tomar dívida, até pelo custo de capital hoje no Brasil, e concordo com ele quando ele diz que a gente deveria evitar drenar recursos do futebol para investir em outra atividade. Só acho que a gente não tem nenhuma justificativa para resolver esse problema vendendo um pedaço do clube como um todo, ainda que mantendo o controle majoritário da operação. Existem outras formas de alavancar recursos, que não são endividamento, que não vão tirar investimento do futebol, mas sem necessidade de abrir mão de uma parcela do controle do futebol.
Essas alternativas precisam ser discutidas internamente pelo clube, não pode sair batendo o martelo em cima de uma alternativa só, ainda mais uma como essa, que é insolúvel, uma vez tomada essa decisão você não tem como voltar atrás nunca mais. A gente fala que a decisão de entrar numa concessão de um estádio como o Maracanã, ficar preso por 20 anos, é complexa, agora imagina uma decisão como essa de vender capital, que é definitiva, é para sempre.
Eu nunca tinha visto até hoje uma opinião tão unânime do torcedor e até mesmo dentro do clube nesta direção [de que o Flamengo precisa de um estádio próprio]. Quanto à maneira de transformar isso em realidade, eu não vejo problema nenhum de o clube ter parceiros em uma unidade de negócios separada. Dependendo do parceiro, se for um parceiro que seja do negócio, que conheça do negócio, não seja só um investidor financeiro, ele pode agregar ao negócio. Não seria uma coisa ruim para o Flamengo ter um sócio nesta operação.
As pessoas acham que apenas na transformação do clube como SAF teria um choque de governança, eu acho que você tem um choque de governança em qualquer circunstância. Mesmo que você tenha um sócio numa unidade de negócios isolada, esse sócio vai querer saber como é gerido o departamento de futebol do clube. A performance econômica do estádio está umbilicalmente ligada à performance do futebol. Portanto, você precisa dar a esse parceiro um conforto em termos de governança que garanta que o futebol esteja sendo gerido de forma técnica, blindado das influências do ambiente político-associativo do clube. A gente tem todas as ferramentas para viabilizar.”
Acima de tudo Rubro-Negro. Sou baiano, tenho 28 anos e cursei Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Além do MRN, trabalhei durante muito tempo como ap...