As desavenças envolvendo Flamengo e a Odebrecht, dona do consórcio que administra o Maracanã, não param. Após negociações de contrato complicadas e prejuízo para o clube de maior torcida no país, o embate ganhou mais um capítulo envolvendo as partes e a justiça. A juíza Milena Angélica Drumond Morais, da 38ª Vara Cível do Rio de Janeiro, analisou ação do rubro-negro, que visava a redução do valor a ser repassado à empresa por jogo, em 2018. A magistrada, no dia 19 de outubro, julgou o pedido da equipe da Gávea como procedente em parte, dando um parecer proibindo o aumento dos valores atuais fixados no contrato mas rejeitando o pedido de redução dos gastos.
Para 2018, um novo acordo precisa ser feito. O Flamengo se posiciona para conseguir a redução dos seus gastos para os mesmos R$ 100 mil do Fluminense. O consórcio não só rejeitou como queria negociar jogo a jogo com o rubro-negro e ainda praticando valores mais altos. Atualmente o rubro-negro paga entre R$ 250 e R$ 700 mil, mas a empresa planejava montantes em torno de R$ 1 milhão em partidas normais e R$ 1,5 milhão em embates válidos, por exemplo, pela Libertadores, em caso de classificação.
Ainda lutando para que o teto com despesas no Maracanã seja de R$ 100 mil, o Fla deve recorrer da decisão da juíza. Uma audiência de conciliação entre clube e administradora do estádio está marcada para o dia 05 de dezembro, às 14h (de Brasília).
A partir dos grandes gastos para deixar o estádio nos padrões exigidos pela Federação Internacional de Futebol (FIFA), valores altíssimos foram cobrados nos contratos, obrigando os clubes a terem sempre grandes rendas a cada partida para evitar prejuízos. Em 2013, Flamengo e Complexo Maracanã fecharam um "acordo-teste", com duração de seis meses, no qual ambos dividiram a receita praticamente meio a meio. Um contrato similar foi celebrado no ano seguinte, desta fez com um acordo para o triênio de 2014 a 2016.
Nesta nova fase, a participação flameguista na receita líquida dependia do apelo dos jogos. Em caso de partidas com receitas normais, divisão de 50%; já nas de receitas mais altas, o rubro-negro poderia ficar com até 72% da divisão. Um acordo confiante do clube de maior torcida no Brasil. Outro ponto era a possibilidade de ganhar dinheiro com camarotes e a parte de alimentação, com 12,5% da receita pra cada parte. O Flamengo ainda tinha receita integral da publicidade lateral ao campo em partidas como mandante. Isso tudo fora o R$ 1,70 em cima da venda de cada ingresso para o consórcio e para o Mais Querido do Brasil no caso de vendas para sócio-torcedor. Enquanto isso, o Fluminense costurou um acordo com validade de 35 anos, pagando um valor de R$ 100 mil, mas com menos espaços para o uso de outras áreas do estádio.
O ponto chave para o começo da derrocada na relação entre Flamengo e Odebrecht foram os altos custos do estádio. O consórcio alegava que só para abrir o Maracanã para jogos o gasto era de R$ 280 mil. O acordo então previa um valor de R$ 10,00 cobrados por torcedor pagante e que as despesas fossem limitadas a R$ 300 mil. O problema eram os jogos deficitários, os duelos contra times sem apelo, que levam pouco público ao Maracanã. Era estimado que o Fla levasse em média 40 mil pessoas por jogo. Soma-se a tudo isto os 5% de taxa para a Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) e também o custo de seus funcionários. Com tantas despesas, ficou difícil lucrar com o Maraca.
Sofrendo com prejuízos, consequentemente o clube também usou isso como fator para o aumento nos preços dos ingressos, o que dificultou a ida de grande parte da torcida. Com o fim do acordo, que durava até 2016, as partes negociaram um novo para a utilização do estádio em jogos do Flamengo. O objetivo do clube era um contrato com a duração de um ano, o rubro-negro costurou na marra um acordo com os valores a serem pagos por jogo, fixados em, no mínimo, R$ 250 e no máximo R$ 700 mil. Não foi o ideal, mas o Flamengo precisava desse contrato de curto-prazo e o consórcio era obrigado a fechar uma parceria com dois clubes (já tinha o tricolor carioca). Estes montantes desprezavam as despesas básicas, como conta de luz e água, que elevavam os gastos para entre R$ 400 e R$ 800 mil.
O surgimento da Ilha do Urubu como alternativa para ser a casa do Flamengo em 2017 não evitou que alguns embates precisassem ser mandados no Maracanã. O clássico contra o Vasco, no último dia 28, foi um exemplo destes jogos de grande apelo e com a necessidade de uma estrutura mais segura para os torcedores. O resultado foi o maior prejuízo do Maior do Rio em 2017: R$ 346.795,58. Considerando o fato de que era um dos clássicos com mais apelo do país, o déficit mostra como o contrato com o consórcio é perigoso para o orçamento rubro-negro, que praticamente paga as contas do estádio, por conta do péssimo acordo do Complexo com o Fluminense, no qual ambos saem prejudicados na maioria das partidas. O Fla, então, arca com os seus déficits subtraindo-os do arrecadado em jogos que geram lucro, os quais são quase unicamente os de grande público. Por exemplo: se no próximo jogo conseguir levar 40 mil para o Maracanã, usará a receita para pagar o que deve do último Clássico dos Milhões.
O Fluminense conseguiu, via 16ª Câmara Cível do RJ, barrar uma tentativa de aumento com a prerrogativa de um contrato assinado com a duração de 35 anos, o qual obrigatoriamente teria que ser cumprido pelo consórcio que, em contrapartida, tenta compensar o prejuízo cobrando do Flamengo valores que giram em torno de no mínimo 4 e no máximo 8,5 vezes mais que do rival tricolor. Na totalidade do ano, o Fluminense não tem condições de gerar lucro para si ou ao consórcio mediante sua média de público. É a chave para o prejuízo desde a grande reforma.
Acima de tudo Rubro-Negro. Sou baiano, tenho 28 anos e cursei Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Além do MRN, trabalhei durante muito tempo como ap...