Ricardo Martins - Blogueiro da Nação, Minas Gerais
Passamos por um momento paradoxal no Brasil, onde convivemos com um conflito da popular “Lei de Gerson”, do levar vantagem em tudo, com a busca de uma nova moral. Talvez por isso, alguns (ou muitos) de nós expressem opiniões permeadas por comportamento politicamente correto, na ingênua tentativa de ser a referência de um caráter exemplar de probidade.
Eu tenho um amigo tão paradoxal que é nordestino, mora em Belo Horizonte, posta fotos nas redes sociais com a camisa do Flamengo, mas confessa torcer também para o Clube Atlético Mineiro. O mais curioso é que ele fica chateado quando o Flamengo é beneficiado por algum erro de arbitragem, mas sequer se manifesta quando o Galo recebe uma mãozinha do juiz. O Atlético, assim como o Botafogo carioca, se coloca sempre em uma situação de eterno prejudicado, lhe concedendo uma espécie de crédito e imunidade nas ocasiões de erros de arbitragem em seu favor.
É habitual dizer-se que o “juiz roubou”, falar mal a progenitora do outrora homem de preto quando da entrada em campo, e também ofendê-lo ao longo da partida, nos lances, pasmem, que não nos beneficiam. Reclamar e não concordar com os árbitros é comum nas peladas, nos torneios amadores, na várzea, ou seja, em qualquer jogo de futebol, mesmo que não esteja valendo nada o árbitro é criticado reiteradamente pelos seus supostos erros.
E a função do árbitro é justamente decidir. Mas essas decisões são tomadas com base nas regras, na percepção e na velocidade de interpretar e marcar, ou não marcar. O árbitro de futebol não tem nem tempo para essa chatice de ficar repetindo o lance e revendo o que aconteceu. Ele normalmente marca o que vê, de certa forma associado também ao local no campo onde ocorre o evento. Por exemplo, ele é capaz de marcar uma “faltinha” fora da área, mas pondera se o mesmo lance for dentro.
O Flamengo e Vasco dessa semifinal do Carioca foi um jogo onde a polêmica tomou o lugar do bom futebol. Isso poderia ser considerado até normal, pois jogos decisivos tendem a ser truncados, mas nós negamos a ser pragmáticos, diante de um quadro onde treinadores e jogadores precisam se proteger de resultados negativos consecutivos.
A situação tornou-se mais complicada diante de um regulamento estranho, que privilegia o empate como vantajoso. Observem que a vantagem no Campeonato estadual do Rio de Janeiro está centrada em dois empates. O Flamengo pode ser campeão com cinco placares de 0x0 consecutivos!!! Mas se ganhasse três jogos semifinais, perdesse a última, poderia morrer na disputa de pênaltis...
Logo no início desse confuso mundo da Federação de Futebol do Rio de Janeiro surge um lance que um monte de gente reclamou expulsão para nosso Jonasteiger. Não bastasse o arco-íris, membros históricos da Magnética ficaram apontando para nosso volante, e alegando sorte por ele não ter recebido o cartão vermelho. Vi o lance ontem na tranquilidade do meu lar, longe de influência emocionais. Hoje foi dia de ver a reação geral.
Na imprensa esportiva, pelo pouco que assisti, unanimidade que nosso jovem atleta deveria ter sido expulso. A maioria dos amigos, a mesma coisa, boa parte dos flamenguistas, idem. Todavia, eu me reservo ao direito de discordar. E tenho um argumento objetivo: a regra do jogo. Vejamos o que está detalhado nas REGRAS DO FUTEBOL publicado para 2014/2015 pela CBF – FIFA:
REGRA 12 – FALTAS E INCORREÇÕES
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Maneira imprudente, temerária ou com uso de força excessiva
“Imprudente”significa que o jogador mostra desatenção ou desconsideração na disputa da bola com um adversário, ou atua sem precaução.
Não será necessária sanção disciplinar se a falta for considerada imprudente.
“Temerária” significa que o jogador age sem levar em conta o risco ou as consequências para seu adversário.
Um jogador que atua de maneira temerária deverá ser advertido com cartão amarelo.
“Com uso de força excessiva” significa que o jogador excedeu na força empregada, correndo o risco de lesionar seu adversário.
Um jogador que faz uso de força excessiva deve ser expulso.
Então nobres rubro-negros, pela imagem acima, e baseado na regra, o árbitro entendeu (e eu também) que Jonas teve atitude temerária. Observem que o juiz está em cima do lance, aonde claramente o volante do Flamengo vai de maneira bizarra, mas não aparenta força excessiva. O lance foi feio, mas longe de ser violento.
No mais, outros lances em que reclamaram expulsão, também entendi (ao contrário da COAF-RJ http://globoesporte.globo.com/blogs/especial-blog/bastidores-fc/post/arbitro-de-fla-e-vasco-vai-para-reciclagem-e-nao-tem-chance-de-apitar-final.html) que os cartões amarelos ficaram de bom tamanho. O que não podemos é cair na armadilha de entrarmos na boca da baleia politicamente correta. Nós já ganhamos e perdemos jogos com erros de arbitragem. A diferença é que quando são em nosso favor repetem os lances a exaustão, mas viram normalidades do jogo quando nos prejudicam, passando a falsa impressão de que majoritariamente somos ajudados.
Na escola do rubro-negrismo não existe chôrôrô. Vale o escrito. E nada vai adiantar se no próximo jogo Jonas se comportar como um grande cavalheiro e deixar Guiñazu apresentar suas armas, como quando deixou a marca das travas de sua chuteira na perna do Brocador, e nem sequer foi marcada a falta...