João Luis Jr: O limite entre paciência com o trabalho e tolerância com o fracasso
Muitas coisas nessa vida precisam de tempo. Amizades surgem através do convívio, certos aprendizados podem levar anos, ditos populares nos lembram que não apenas é a prática que leva à perfeição, como Roma não foi construída em um dia, o que parece fazer sentido dado o tamanho da cidade.
Ainda que a ansiedade natural do ser humano crie expectativa por resultados imediatos, por respostas instantâneas, a vida muitas vezes testa a nossa paciência fazendo com que certas conquistas só sejam possíveis se a gente conseguir respirar fundo e esperar um pouquinho mais.
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Mas, ao mesmo tempo, existem certas coisas na vida que tempo nenhum vai resolver. Se você não estudou nada da matéria, não importa o quão longo seja o tempo de prova. Em um relacionamento esquisito onde a pessoa te xinga em público, dar mais tempo só vai garantir que mais desconhecidos te vejam sendo chamado de frouxo e banana em avenidas por aí. Se você trancar um cachorrinho dentro de um quarto com todas as peças de um automóvel, por mais esperto que o animalzinho seja e por mais tempo que você dê, a tendência é que em nenhum futuro provável você abra a porta e encontre o carro montado.
E da mesma maneira que São Francisco de Assis pedia a sabedoria para diferenciar o que precisa ser mudado do que deve ser aceito com resignação, muitas vezes na vida o ser humano se vê em situações em que precisa definir se está diante de uma Roma que merece tempo para ser construída ou diante de um cachorrinho que, por mais fofo que seja, por mais peças que sejam oferecidas, jamais vai ser capaz de montar um raio de um automóvel.
Pois é essa a situação do Flamengo, neste presente momento, após mais uma derrota do time de Vitor Pereira, que mais uma vez jogou abaixo das expectativas, mais uma vez se mostrou fraco no ataque e confuso na defesa, e mais uma vez foi superado por uma equipe que, no papel, poderia ser considerada inferior. Dessa vez num clássico, dessa vez no Campeonato Carioca – torneio para o qual o Mundial Interclubes aparentemente foi pré-temporada – dessa vez nos custando a invencibilidade no torneio.
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Porque claro, existe o impulso de garantir mais tempo para Vitor Pereira. O treinador português assumiu a equipe em janeiro, está começando seu terceiro mês no cargo. Teve um tempo menor que o ideal para transmitir suas ideias, colocar em prática suas filosofias. Talvez, com o tempo, possa conseguir extrair da equipe rubro-negra mais do que vem extraindo até agora. E quem sabe levar o Flamengo a conquistas que compensem os três fracassos seguidos no começo da temporada.
Mas aí entra a grande questão que é: Vitor Pereira tem capacidade pra isso? Além de dois títulos portugueses 10 anos atrás e uma temporada regular no Corinthians, o que ele fez que justifique qualquer expectativa positiva sobre ele? Existem sinais claros de evolução na equipe do Flamengo? Temos feito bons jogos? É possível perceber a equipe se ajeitando? O que até agora, na passagem de Vitor Pereira pela Gávea, dá motivos pra acreditar que é de tempo que ele precisa?
Porque sim, existem vários problemas que se resolvem com o tempo. Mas isso depende de já existirem, nos locais, as ferramentas e a capacidade para que esses problemas sejam resolvidos. Afinal, sem isso você está apenas jogando tempo fora – e no caso do Flamengo, títulos e a paciência da torcida também.