João Luis Jr: O adversário tentou ajudar, mas o Flamengo segue não se ajudando
Antes de qualquer coisa é preciso registrar o imenso agradecimento da nação rubro-negra ao atacante Gabriel Hauche. Com certeza ele contribuiu mais com a causa flamenguista na partida dessa quinta-feira (4) do que vários atletas do nosso próprio elenco fizeram nesta temporada.
Isso porque no primeiro tempo, quando o Flamengo, mesmo com mais posse de bola, apresentava um futebol medíocre e tinha imensa dificuldade na criação de jogadas, muito em virtude da desorganização ofensiva e de mais uma atuação narcoléptica do chileno Arturo Vidal, foi graças à absoluta coringada do jogador argentino, que se lembrou que “vivemos em uma sociedade” e tomou dois cartões amarelos desnecessários em duas jogadas bizarras seguidas, que a equipe rubro-negra finalmente conseguiu acordar na partida.
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E acordou com Gabigol, que vinha de um jejum de dois meses sem gols com bola rolando, finalmente desencantando, deixando sua marca, e colocando o Flamengo na frente. Em pleno estádio do Racing, o atacante iniciou o que parecia ser uma tranquila e importante vitória para a equipe rubro-negra.
Mas que não foi, claro, porque se tem uma coisa que está ficando clara desde o fim do ano passado, é o quanto o Flamengo, seja dentro ou fora de campo, parece realizar níveis quase sobre-humanos de esforço para tentar tornar complicadas e dramáticas mesmo as situações mais promissoras, tranquilas e gostosinhas.
Isso porque mesmo com um jogador a mais, o Flamengo não conseguia transformar a posse de bola em chances. Não conseguia criar jogadas. E parecia cozinhar a partida na firme crença de que um gol surgiria magicamente, através do fenômeno da combustão ofensiva espontânea. Ou a partida iria apenas terminar e conseguiríamos levar esse 1×0 pra casa sem grande resistência dos hermanos.
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Porém ações têm consequências e as ações burras costumam ter consequências um tanto quanto constrangedoras. E o Flamengo que achou que não precisava contratar um lateral-direito de verdade, porque contava com Varela e Matheuzinho, nesta quinta-feira dependeu mais uma vez de Wesley, jovem promissor mas que parece atuar com o mesmo nível de concentração de uma criança pequena que se perdeu da mãe no mercado. Resultado? Dois cartões amarelos, tão bobos quanto os do argentino, que colocaram o Racing novamente no jogo.
Depois do empate da equipe argentina, numa cobrança de falta, o que se viu foi um Flamengo que, mesmo com as entradas de Bruno Henrique e Arrascaeta, e mesmo com a surpresa representada pela boa atuação de Pulgar, penava para criar oportunidades e, mesmo quando criava, acabava sendo incapaz de concluir com eficiência, além de quase entregar a rapadura em pelo menos uma situação, numa chute da equipe de Buenos Aires que acabou batendo na trave.
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Então ainda que no papel seja um resultado até positivo – um empate fora de casa contra a equipe mais perigosa do grupo – a partida desta quinta-feira acaba sendo mais um exemplo da vocação do Flamengo de 2023 para complicar até mesmo as situações mais fáceis, transformando o que poderia ser uma vitória relativamente tranquila em um empate dramático e tentando trazer de volta fantasmas que já pareciam superados, como o da eliminação na fase de grupos da Liberta.
E se Sampaoli já parece ter conseguido se desapegar de alguns conceitos que não vinham dando tão certo – hoje não tivemos três zagueiros, Marinho não entrou no segundo tempo – é essencial que ele abandone mais alguns, como a titularidade de Vidal, e consiga oferecer um Flamengo um pouco mais rápido e equilibrado nas próximas partidas. Afinal, estamos em maio e esse time já se complicou demais, é horas das coisas finalmente começarem a ficar um pouco mais fáceis.