João Luis Jr: Na esquina da burrice com a indolência, o Flamengo escolheu morar
Se formos ser sinceros, a grande surpresa é a gente ainda conseguir se surpreender. Não existe novidade no Flamengo empatando. Não há inovação em perder pontos pra uma equipe tecnicamente inferior. O time rubro-negro abandonando a partida durante o segundo tempo já é um roteiro mais batido do que o de qualquer episódio de Chaves.
Os problemas também foram basicamente os mesmos. A equipe intensa prometida por Sampaoli segue atuando como se estivesse em coma. O meio de campo não dá combate algum. A defesa tem tantos espaços vazios que o MST já cogita organizar um assentamento. Além disso, nossos atacantes são tão pouco acionados que você chega a se perguntar se Pedro, por exemplo, está mesmo em campo.
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As ações ofensivas mais uma vez foram caóticas, com posse de bola que nunca se transformava em chances claras, uma total ausência de chutes a gol e uma partida onde se esperava que três pontos fossem garantidos até com relativa tranquilidade no final quase se tornou uma derrota traumática em pleno Maracanã.
Novidade mesmo? Apenas o pênalti perdido por Gabigol, uma comprovação de que, se as coisas que estavam quebradas seguem sem conserto, as poucas que pareciam funcionar estão sim começando a azedar também. Em suma, o Flamengo vive um momento tão negativo, tão desesperador, tão mundo invertido, que não seria surpresa se amanhã Filipe Luís acordasse careca e Diego Ribas ficasse feio, por exemplo.
E se os problemas são os mesmos, as causas e as razões também são pra lá de repetitivas. A total e absoluta falta de planejamento para essa temporada garantiu o elenco desequilibrado que não cria nada sem Everton Ribeiro e Arrascaeta, assim como proporcionou a condição física absolutamente miserável do grupo como um todo e a chegada de Jorge Sampaoli, que conseguiu até agora oferecer apenas relances de sua ideia de jogo.
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Mal montado, tendo que se reformular na metade de temporada, já com a pressão de todos os vexames do começo do ano, o time do Flamengo se encontra absolutamente na mão do palhaço, completamente na luvinha do Mickey, 100% a aba do chapéu do Seu Madruga, sem que a torcida sequer saiba quem está jogando mal por questões físicas, técnicas ou táticas, de tão ruim que tudo se encontra.
Há um problema grave que obviamente não tem soluções fáceis, já que está óbvio que não vai acontecer com Sampaoli o que aconteceu com Dorival ano passado, de um treinador apenas chegar do nada e consertar a bagunça rubro-negra em um mês. Quatro ou cinco boas contratações na janela podem ajudar? Claro. Mas não apenas não vão resolver problemas estruturais como cada dia é mais difícil acreditar que Marcos Braz vá mesmo contratar certo ou sequer contratar.
Porque o Flamengo precisa de grandes mudanças, que vão desde dirigentes mais competentes e profissionais até uma ideia de futebol mais coerente. Sem uma gestão que contrate treinadores e jogadores através de sorteio, como parece estar sendo feito.
Até lá, o que resta, como vem ficando claro para o torcedor rubro-negro, é a agonia de acompanhar um Flamengo que não apenas não sabe pra onde quer ir como parece se arrastar, muito lentamente, em direção a lugar algum. E ainda por cima tropeça no caminho.