Não existe nada de inerentemente errado em duvidar. Toda verdade precisa ser eventualmente questionada, toda fé se renova ao ser examinada, até mesmo Pedro (o apóstolo, não o atacante) duvidou quando Jesus garantiu que ele conseguiria caminhar pelas águas – o que é até compreensível porque não é muito comum isso de andar por cima da água, eu ficaria um pouco cético se qualquer amigo meu falasse isso também.
Mas se duvidar é normal, duvidar de coisas já comprovadas é um pouco menos. E duvidar de coisas já comprovadas seguidas vezes e são até mesmo bastante óbvias, sai totalmente do campo do razoável e entra, então, com força na famosa região geográfica da estupidez.
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E é disso que falamos quando se trata de questionar o futebol de Giorgian de Arrascaeta.
Porque Arrascaeta é, desde os tempos de Cruzeiro, um grande jogador. O que já torna absurdas nesse sentido, as declarações, dadas por dirigentes do Cruzeiro, de que teriam dado um “chapéu” no Flamengo ao vender o atleta e manter em seu elenco Marquinhos Gabriel (hoje no Criciúma) e Rodriguinho (sem clube após sair do Cuiabá).
Mas se firmou ainda mais como craque, após chegar no Flamengo, seja pelo papel essencial em todas as conquistas da chamada geração de 2019, seja pela qualidade da bola que joga e o diferencial que oferece quando está em campo. E a vitória desse sábado (1º), em que deu um passe magistral para que Gabigol abrisse o placar e marcou ele mesmo o segundo gol, definindo a partida, é mais uma prova do quão absurdo é questionar isso.
Não que a partida não tenha tido outros destaques, claro. Matheus Cunha segue mostrando que quer a titularidade mesmo com a chegada de Rossi, com uma defesa decisiva de pênalti. Gabigol segue fazendo história com 150º gol pelo Flamengo. Por fim, a equipe como um todo mostrou imensa solidez, dominando a partida e começando a oferecer regularidade. Aquela que a torcida pedia após os recentes altos e baixos.
O show do Arrasca
Mas o show foi de Arrascaeta. Que começou mal a temporada, como toda a equipe; que parecia estar em condições físicas precárias, como quase toda a equipe. Mas que, como vem fazendo desde sua chegada ao Flamengo, apresentou mais uma vez um diferencial que nenhum outro jogador no futebol brasileiro pode oferecer. A genialidade capaz assim de, em uma jogada, mudar completamente as perspectivas da partida. Como fez, aliás, no passe de três dedos que achou Gabigol logo após o pênalti perdido do Fortaleza.
Por isso é tão absurdo ainda questionar a qualidade de Arrascaeta ou a diferença que ele faz nesse time do Flamengo. Porque, para um não flamenguista, criticar Arrasca é inveja ou ignorância. Mas para um rubro-negro, duvidar da capacidade que esse uruguaio tem de decidir uma partida beira o sacrilégio. Porque não, o homem não anda por cima da água, mas quer você acredite nele ou não, ele continua conseguindo fazer milagres.