João Luis Jr.: A notícia boa é que vencemos, a ruim é que nosso treinador é maluco
Ele é careca, tatuado, viciado em emoções fortes, e roda o planeta com sua equipe, enfrentando os mais bizarros e absurdos desafios. Não, não estamos falando de Dominic Toretto, o protagonista interpretado por Vin Diesel na saga “Velozes e Furiosos”. Mas sim dele, Jorge Sampaoli, o técnico rubro-negro que a cada partida deixa mais claro que odeia a facilidade, despreza o tranquilo e absolutamente abomina qualquer segundo que seja de paz de espírito.
Pegue, por exemplo, a vitória do Flamengo contra o Bahia neste sábado, em plena Fonte Nova. Um triunfo importante e sofrido, que não apenas ajuda a afastar o Flamengo da parte de baixo da tabela, nos levando próximos à zona de classificação da Libertadores, como reabilita um criticado David Luiz, que com um gol e uma assistência parece estar finalmente voltando a realizar seu antigo sonho, de dar alegria para seu povo.
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Um excelente resultado, três pontos importantes, mas que poderiam ter sido conquistados de maneira tão mais fácil, tão mais tranquila, com tanto sofrimento a menos para a equipe e os torcedores, que a única explicação possível – fora, é claro, algum esquema de apostas – é o treinador argentino ter algum tipo de vício em adrenalina, alguma forma de patologia que o torne quimicamente dependente da complicação.
Afinal, o Flamengo, já no primeiro tempo, tinha a partida na mão. Um Bahia confuso na marcação havia falhado na bola parada e sofrido um gol, para que logo depois Arrascaeta, com um drible pornográfico, sofresse o pênalti, que Gabigol converteu. Tínhamos 28 minutos de jogo, o Flamengo vencia por 2×0, era um desses jogos para usar a inteligência, aproveitar o desespero adversário, matar a partida.
Obviamente o Flamengo, inimigo jurado da eutanásia, se recusou a cometer o crime e ficou assistindo enquanto o Bahia marcava, diminuindo a nossa vantagem e trazendo novamente um clima de pânico, terror e jogo aberto. Clima que só foi reduzido quando David Luiz, de cabeça, ampliou o placar para o Flamengo, criando a ilusão de que poderíamos ir com certa tranquilidade para o intervalo.
Ilusão porque foi aqui que Sampaoli, um homem que pode até não necessitar mais de “cinco refuerzos” mas claramente necessita de “muchas emociones”, decidiu realizar todas as cinco substituições. Sim, todas elas, todas as cinco, não apenas chegando ao extremo de colocar Vidal em campo e substituir até o goleiro, como garantindo que não teríamos absolutamente nada para fazer se alguém se machucasse ou fosse necessário mexer num jogador amarelado (ainda que ele tenha garantido que todas as trocas já haviam sido por lesão)
Amarelado como, por exemplo, Vidal ficou logo no começo da etapa complementar, gerando a falta que resultou no gol do Bahia, reduziu a vantagem e transformou a partida, que poderia ter sido tranquila, num festival de 50 minutos do puro caos existencial primitivo, mais ou menos como numa micareta em que Cthulhu estivesse no mesmo trio que o Chiclete com Banana.
Porque se de um lado tínhamos um Bahia alucinado, que mesmo após levar dois cartões vermelhos não parava de atacar, do outro lado tínhamos um Flamengo que, mesmo com a vantagem numérica, parecia incapaz de tomar qualquer medida para decidir o jogo, desperdiçando as chances mais absurdas e tomando pressão mesmo de um adversário absolutamente descaracterizado e sem seus dois zagueiros.
O resultado final é uma vitória valiosa, mas que deixa claro que, na mesma proporção em que parece ser ofensivo e dedicado, Sampaoli é um homem visivelmente maluco, caótico e, por que não dizer, pirocaço da cabeça. E está cada vez mais evidente que muito do sucesso do Flamengo nesta temporada vai depender tanto da nossa evolução defensiva e da nossa eficiência ofensiva quanto desse senhor careca conseguir controlar a sua busca desesperada por complicar a própria vida e, por tabela, a nossa.
É bom respirar fundo, porque emoção não vai faltar.