Ídolo na Ásia, Jajá relembra passagem pelo Flamengo e falta de paciência com jovens: 'Ninguém é como Neymar'

13/11/2023, 15:41
Atualizado: 13/11/2023
Jajá em treino do Madura United FC, da Indonésia; Ex-Flamengo relembrou passagem pelo Rubro-Negro e falou sobre categorias de base

Destaque da base do Flamengo no início da década de 2010, o meio-campista Hugo Gomes, conhecido como Jajá, foi entrevistado com exclusividade pelo Mundo Bola. Aos 28 anos e brilhando no Madura United FC, da Indonésia, o atleta relembrou seus tempos com o Manto e as poucas oportunidades no profissional.

Hugo foi promovido no Fla aos 20 anos após representar o Brasil na Copa do Mundo Sub-20 de 2015, que a seleção foi vice-campeã. No entanto, passou mais de três meses realizando apenas os treinos antes de fazer sua estreia. O atleta conta que, na época, o jovem precisava dar resultado nas primeiras oportunidades ou se tornaria “só mais um”.

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“Naquela época, não sei se foi azar ou alguma outra coisa, era muito difícil. A estrutura do Flamengo não era como é hoje, que queira ou não facilita. Você está vindo da base para o profissional e ter uma estrutura e pessoas que vão lhe ajudar e ter paciência com você. Pois cada jogador é diferente. Ninguém é como Neymar, que já sobe e vira um dos melhores do mundo. Acho que tem que ter paciência e um trabalho individual e isso, naquela época, não acontecia. A gente subiu, ninguém falou nada sobre o que precisávamos melhorar. A gente subiu e, se jogar jogou, se não joga virava só mais um”.

Jajá em treino do Flamengo
Jajá em treino do Flamengo. Foto: Gilvan de Souza/ Flamengo

A estreia do meio-campista aconteceu apenas no dia 1º de novembro de 2015, quando foi titular contra o Grêmio, pelo Campeonato Brasileiro. Mas voltou a ser acionado apenas mais três vezes até o final da competição. Além disso, revela que ninguém da comissão da técnica dava conselhos ou o ajudava a melhorar.

“Então você fica ali treinando, treinando e não joga. Ninguém chegava para mim e falava ‘não, tenha paciência, você vai jogar, continua treinando’ ou ‘você precisa melhorar nisso, melhorar naquilo, por isso você não está jogando’. Então praticamente eu só treinava, ia para os jogos e não entrava. Um ou outro eu entrava cinco ou dez minutos e não vinha tendo uma sequência. Depois de muito tempo, eu tive uma oportunidade contra o Grêmio, que foi minha estreia no profissional. Depois eu não tive sequência e fui jogar a última rodada do campeonato contra o Palmeiras. Então talvez eu não tive, não sei, sorte, ou uma sequência.”

O técnico do Flamengo era Cristóvão Borges quando Jajá subiu para os profissionais, mas não teve oportunidades. O treinador foi demitido em agosto e o clube optou por Oswaldo de Oliveira como substituto. Hugo disputou seus quatro jogos no ano com o então novo comandante.

Garoto do Nino descarta arrependimentos da época de Flamengo

Jajá disputou uma partida no Carioca de 2016 antes de ser emprestado. O atleta rodou por times de menor expressão do Brasil até retornar em 2018, mas novamente foram pouco jogos e nova saída. Ainda assim, descarta qualquer arrependimento com o clube que o revelou para o futebol.

“Arrependimento eu não sei, só que eu imaginava que poderia ser mais aproveitado. Subimos eu e o Jorge e na época tinham muitos jogadores da minha posição. Quando a gente volta da Copa, passamos a ir para o profissional e o Jorge começou a jogar…. E quando você tá jogando, quer dar uma continuidade. E eu, jovem na época, achei que chegaria e ia jogar ou estaria entrando constantemente, oque não aconteceu.”

Jajá disputou uma partida no Carioca de 2016 antes de ser emprestado. O atleta rodou por times de menor expressão do Brasil até retornar em 2018, mas novamente foram pouco jogos e nova saída. O meia foi por empréstimo ao Kalmar, da Suécia, e ficou no país europeu após vínculo com o Fla chegar ao fim.

Hugo Gomes é destaque do Madura United FC, da Indonésia, e se tornou ídolo

Hugo Gomes, ou Jajá, em campo pelo Madura FC; Ex-Flamengo falou com exclusividade ao Mundo Bola
Foto: Divulgação/ Madura United FC

Após passagem de dois anos pela Europa, Hugo se transferiu para o futebol da Indonésia. O atleta chegou ao Madura United FC na temporada 2020/21 e rapidamente se tornou um dos principais nomes do time. Em seu terceiro ano, assumiu um papel de liderança e também é referência técnica.

No total, o meio-campista já disputou 76 partidas pelo clube asiático e tem ótimos números. No total, são 20 gols e sete assistências. Em 2023/2024, aliás, Jajá teve o melhor início de temporada de sua carreira e atingiu quatro gols e quatro assistências em 14 jogos.

Para comandar o time, o Madura FC contratou um treinador ex-Flamengo. Trata-se de Maurício Souza, que treinou as categorias de base do clube e fez alguns jogos do profissional entre 2017 e 2022. Jajá elogiou muito o treinador e atribuiu parte de sua base fase aos ensinamentos do técnico.

“Estou indo para o meu terceiro ano aqui e quando vim para cá tomei um susto por ser um lugar totalmente diferente dos que já atuei, mas foi aqui que eu consegui jogar. Hoje eu tenho um papel de capitão na equipe, com orientação e tudo mais. O Fábio, que foi meu treinador aqui e já foi treinador do Botafogo e me ajudou muito, hoje em dia o Maurício (de Souza) que foi da base do Flamengo me ajuda demais. Estou vivendo um bom momento aqui na Indonésia.”

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Assim como no Brasil, os clubes da Indonésia costumam ter torcidas apaixonadas. Apesar de jogar em um clube muito jovem, fundado em 2016, Jajá destacou a paixão do torcedor como a principal característica do futebol indonésio.

“É um país muito apaixonado, idêntico ao Brasil. Eles são muito muito apaixonados. Vários clubes aqui têm grandes torcidas como o Flamengo, como o Corinthians, São Paulo, Vasco… Têm muitas e muitas torcidas aqui, de vários clubes. Eles vivem muito futebol. Na rua, param para tirar foto, independente da torcida. Têm muitas semelhanças no futebol, eles são alegres e tem isso de parecido com o futebol no Brasil, pelas paixão que eles têm.”

Ex-Flamengo não descarta retorno ao Brasil

Por fim, Hugo afirmou ele e sua família estão adaptados à Indonésia e não pensa em retornar ao Brasil em um futuro próximo. No entanto, ressaltou que irá analisar caso algum clube brasileiro faça uma boa proposta e não descartou completamente a possibilidade.

“Estava conversando isso após o treino. Depende muito! Meus filhos estão super adaptados aqui e a gente vive muito bem. Temos que ser realistas… Tenho fé e creio que Deus pode fazer o que quiser e então entrego nas suas mãos e faço o meu melhor a cada dia. Se você está bem física, mental e coletivamente, o time anda bem e muitas portas podem se abrir. Mas a gente nunca sabe o dia de amanhã e o que pode acontecer na janela de transferências. Caso um clube faça uma proposta eu vou sentar com meu empresário e vamos decidir o que for melhor para mim, para minha família e, enfim, espero que possa acontecer mas se não acontecer a gente tenta se manter sempre em alto nível”.

Além do Flamengo, Jajá passou por Avaí, Tombense e Vila Nova no Brasil. A de maior destaque foi pelo time catarinense, em 2017, onde disputou 20 jogos. A última partida no futebol nacional foi com o Manto Sagrado, ao entrar no segundo tempo de vitória sobre a Cabofriense, pelo Carioca de 2018.


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Matheus Celani
Autor
Jornalista graduado no Centro Universitário IBMR, 23 anos, natural do Rio de Janeiro. Amante da escrita e um completo apaixonado pelo Flamengo, vôlei e esportes olímpicos.