Hugo Souza sobre críticas por jogo com os pés: 'Não posso ficar marcado'

30/10/2020, 17:51
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Em entrevista, goleiro do Flamengo se esquiva sobre disputa por vaga de titular com Diego Alves: ‘Dor de cabeça para o treinador’

Destaque do Flamengo nas últimas partidas e eleito melhor em campo contra o Athletico-PR no jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil, o goleiro Hugo Souza ganhou foi convidado para participar do programa “Seleção Sportv“. Na entrevista, o goleiro se esquivou falar sobre a disputa pela titularidade com Diego Alves, reverou admiração pelo companheiro e respondeu a outros questionamentos.

A primeira pergunta foi sobre como ele prefere ser chamado. Conhecido por boa parte da torcida como Neneca, o jovem goleiro respondeu:

– Claro que já me acostumei com o apelido, é normal para mim me chamarem de Neneca. Mas como Hugo Souza é meu nome, nome escolhido pela minha mãe e meu pai, eu fico com o meu nome. E acho mais bonito também.

Hugo Souza chamou ainda mais a atenção de todos ao defender seu primeiro pênalti na carreira e usar uma técnica parecida com a de Diego Alves. Segundo ele, o movimento não foi feito por acaso:

– Tem toda influência dele, total. Eu acompanho o Diego (Alves) há muito tempo. Desde a base eu sempre peguei muito pênalti, durante os jogos e nas decisões. E eu sempre acompanhei o Diego, é uma técnica que ele usa, deu muito certo na Europa, não à toa ele é o maior pegador de pênalti da La Liga. Ele é uma referência. Não só nisso, mas pelo goleiro que ele é, pelo ídolo que se tornou. Então tem total influência dele. Vi ele fazendo isso na Europa e hoje vejo ele fazendo isso nos treinos, nos jogos. Se isso deu certo para ele, então pode dar certo para mim também.

Hugo teve a primeira oportunidade no time na partida contra o Palmeiras, quando um surto de Covid-19 deixou o Flamengo com muitos desfalques. Desde então, vem tendo atuações incríveis e foi de quarto goleiro à xodó da torcida. Com Diego Alves recuperado de lesão, os questionamentos sobre quem deve ser o titular são inevitáveis. O camisa 45, no entanto, preferiu deixar essa responsabilidade para Domènec Torrent.

– Essa dor de cabeça eu prefiro deixar para o treinador, estou fazendo o meu melhor. Eu trabalho com três grandes goleiros, o Diego é uma referência, um ídolo. Tenho a oportunidade de trabalhar com ele no dia a dia, e eu fico honrado com isso. Só eleva o nosso nível de competição, que é uma competição sadia, vai sempre existir. Mas é uma dor de cabeça que fica para o treinador – disse.

– A gente trabalha sempre para fazer o melhor, e acredito que o treinador vai saber fazer a melhor escolha, é um treinador inteligente, sabe o que faz. O Dome é um cara que sabe ganhar o grupo, ele vai sempre decidir o que é melhor. Isso faz com que a gente tenha que se manter sempre num alto nível para ajudar o Flamengo, que é o maior privilegiado – completou.

Confira outros trechos da entrevista:

Críticas da imprensa por falhas com os pés:

– É uma coisa que a gente treina muito, muito mesmo. Treinamos bastante durante a semana, quase todos os dias a gente toca a bola com os pés. É um trabalho que vem desde a base, justamente por isso estou acostumado. Acho que é uma característica muito boa minha, me acostumei a jogar assim, nas seleções de base também. É um fundamento que graças a Deus eu sempre dominei bem. Mas eu sei que, quando há um erro, a gente fica marcado por aquilo. Infelizmente errei dois passes contra o Athletico e fiquei um pouco marcado negativamente por isso. Mas se parar para ver, dos jogos que tiveram de lá para cá, eu só errei dois passes. Acho que não posso ficar marcado por uma coisa assim.

Primeira chance “na fogueira”:

– Na verdade, a gente sempre tem que estar preparado para as oportunidades. O futebol é muito rápido, as coisas acontecem de uma forma que a gente não espera. Por isso que tem que estar preparado. Eu me preparei, coloquei na cabeça que teria jogo, que eu ia jogar, fui lá e dei o meu melhor. Graças a Deus fui feliz, fiz um grande jogo e tenho mostrado um bom trabalho. Estou colhendo os frutos desse trabalho. Isso não quer dizer que tenho que parar de trabalhar, porque esse é o momento em que eu tenho que trabalhar mais ainda. É difícil chegar, mas é mais difícil ainda se manter.

Defesa mais difícil:

– Eu fico lisonjeado de poder trabalhar dessa forma, mostrando o meu trabalho, mas ao mesmo tempo não fico deslumbrado. Eu trabalhei para isso e esperei por esse momento, quem me conhece sabe do meu potencia. Com toda a humildade do mundo, mas eu só precisava dessa oportunidade para mostrar. E graças a Deus ela veio, fico muito feliz de estar mostrando isso. Se for para escolher uma defesa, eu fico com essa (contra o Athletico), foi um jogo especial, de copa, diferente dos outros. E foi uma defesa muito difícil. Teve o pênalti também, o primeiro pênalti a gente nunca vai esquecer. E também fico com essa do Corinthians, duas bolas difíceis. E é uma coisa que a gente trabalha todos os dias com os nossos preparadores, a gente sempre trabalha essa reação, de ficar plantado esperando o chute, de definir somente quando o cara chutar, de esperar a bola vir para depois sair. Porque, se definir antes, fica mais fácil para o atacante. Graças a Deus, tenho conseguido fazer isso nos jogos.

Referências como goleiro (além de Diego Alves):

– É uma pergunta difícil (risos). Eu tenho grandes inspirações. Acho que a primeira é o Buffon, a segunda o Júlio César, que são goleiros por quem eu tenho uma admiração enorme. E a terceira eu fico dividido entre Dida e Casillas, que são goleiros que eu vi jogar e sempre me encantaram. O Júlio eu tive a oportunidade de trabalhar no Flamengo. Eu já era fã dele como atleta, como jogador e goleiro, e como pessoa virei mais fã ainda. Ele é uma pessoa incrível, fiquei muito feliz em poder trabalhar com ele. Hoje, na atualidade, eu fico com o Alisson, goleiro da nossa Seleção. É um cara que dispensa comentários. Tive a oportunidade de trabalhar com ele de perto quando fui convocado em 2018 e me impressionei ainda mais. É um baite goleiro, faz as coisas parecerem fáceis.

Vai cobrar faltas?

– Lá no clube, desde novo, eu treinava e brincava de bater faltas com a rapaziada. No profissional ainda não estou com essa moral toda de bater, de brincar (risos). Mas é um fundamento que eu gosto e sempre me aprimorei na base, brincando, batendo. Às vezes quando quero treinar, chamo um goleiro mais novo: “Pô, vamos lá, valendo uma camisa”. Que aí fica mais legal. Esse é um fundamento que eu gosto, muito por ter visto o Rogério Ceni.

Alegrias de convocação para a seleção e titularidade no Flamengo:

– São duas alegrias muito parecidas, são alegrias de realização, por ter realizado um sonho de chegar à seleção brasileira e realizado o sonho de jogar no profissional do Flamengo. São alegrias parecidas, e alegrias que eu vou continuar buscando, trabalhando para continuar tendo. Uma hora vai acontecer a falha, o erro. Tem que ter humildade para saber que isso é normal, vai acontecer. Eu vou trabalhar para ser quase perfeito no gol do Flamengo. Quando ao Flamengo, eu não tenho palavras. Tudo que eu tenho, tudo que eu conquistei no trabalho eu devo a Deus e ao Flamengo. São 12 anos de casa, 12 anos de trajetória no clube, 12 anos de caminhada. E a seleção brasileira é sonho, espero um dia voltar a ter a sensação de ser convocado.

Lembrança da tragédia no Ninho do Urubu:

– Foi sem dúvidas um episódio muito marcante negativamente para mim, eu estava no Sul-Americana com a seleção sub-20 e só sabia chorar a todo tempo. Eu me via naquela situação, passei por aquilo, sabia como era a rotina. Ficava o tempo todo pensando: “Cara, poderia ser eu”. Foi algo que ficou marcado negativamente na nossa história, é evidente que ninguém queria que isso acontecesse. Que Deus tenha essas 10 estrelas que estão lá, em todos os jogos eu penso neles, entro pensando em tudo isso. Desde fevereiro de 2019, quando aconteceu a tragédia, a gente já jogava por nós, mas desde então jogamos por nós e pelas 10 crianças que estão no céu. E também pelas 10 famílias que hoje precisam de todo apoio e consolo. Que Deus conforte o coração dessas pessoas.

O Flamengo se prepara para enfrentar o São Paulo no próximo domingo, no Maracanã, às 16h. O jogo válido pela 19ª rodada marca o encerramento da primeira metade do Brasileirão 2020 para o Rubro-Negro, que quer mais uma vitória para tentar ser “campeão” do turno.

*Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Divulgação/Flamengo