Há 52 anos, Garrincha se preparava para entrar em forma e jogar pelo Flamengo
Ídolo do Botafogo e campeão do mundo pela Seleção Brasileira, Garrincha chegou a jogar pelo Flamengo, seu time de coração
Talvez o melhor jogador da história do futebol brasileiro após Pelé. Muitos, que o viram jogar, ousam dizer que Mané era até mesmo mais habilidoso que a lenda santista. E, o que poucos sabem, é que Mané Garrincha já entrou em campo para jogar pelo Flamengo.
O craque das pernas tortas também vestiu o Manto Sagrado. Não foi por muito tempo, tampouco uma passagem brilhante. Apenas 19 jogos disputados, sendo 14 amistosos. Apenas quatro gols marcados, o que era pouco para seu padrão.
Garrincha chegou acima do peso ao Mais Querido. Com 81kg, precisava perder seis para chegar à sua forma física ideal. Em 11 de novembro de 1968, o Jornal dos Sports divulgava que o atacante estava em ritmo acelerado para poder vestir vermelho e preto.
Antes de jogar pelo Flamengo, um acordo: largar a bebida
Para poder atingir o peso desejado, Garrincha precisou fazer uma dieta restrita. Precisando abrir mão, inclusive, de algo que já era inerente a sua vida: a bebida alcóolica. A exigência foi imposta pelo preparador físico do Flamengo, José Roberto Francalacci, que foi o profissional responsável por fazer Zico evoluir fisicamente.
Após alcançar a aptidão física necessária, era hora de estrear. E não era qualquer jogo que aguardava o jogador nascido em Pau Grande, Magé. Sua estreia com a camisa do Mais Querido foi em um Flamengo x Vasco. Jogo que ficou marcado como o último lampejo da carreira de Mané.
Sua excelente atuação no primeiro tempo encheu os olhos de quem assistia a partida. Burburinhos eram ouvidos de que, talvez, o craque voltasse a ser destaque dentro do cenário futebolístico. Se não fossem as pancadas distribuídas pelo lateral vascaíno Eberval, Mané poderia ter voltado do intervalo para os 45 minutos finais.
E, apesar da sua identificação máxima com o Botafogo, Garrincha nunca escondeu que, no seu coração, o sangue que circulava era vermelho e preto. Ao final do clássico em que foi debutante, o atacante bicampeão do mundo com o Brasil falou sobre sua felicidade em jogar vestindo o Manto Sagrado.
“Flamengo de coração e desde garotinho, só hoje tive o prazer de vestir a camisa rubro-negra e foi uma emoção quando entrei aplaudido pela grande torcida”, disse, de peito aberto, Garrincha. Após esse confronto, o clube decidiu investir em uma turnê de amistosos pelo país. A intenção era justamente aproveitar a presença do craque no elenco rubro-negro.
O retorno do vício em álcool que afastou Garrincha do brilhantismo
Na excursão realizada pelo Rubro-Negro carioca, Francalacci exerceu uma função semelhante a de vigia. Afinal, havia uma preocupação de que Garrincha pudesse se desvirtuar novamente e optar pelo mau caminho. E, infelizmente, foi o que aconteceu. Além de voltar a consumir álcool, o atleta chegou a contrair uma doença sexualmente transmissível nesse tempo.
A partir daí, a carreira de Mané degringolou, rumo a um melancólico fim. Ao retornar de viagem junto com a delegação flamenguista, atuou em apenas quatro jogos do Campeonato Carioca. Todos os quatro gols que marcou foram em partidas não-oficiais.
Sua última partida pelo time da Gávea foi contra o Campo Grande, no dia 12 de abril de 1969, em casa. Apesar de iniciar como titular, Garrincha permaneceu em campo por apenas 11 minutos. Seu contrato com o clube iria até 31 de junho de 1969, mas os dois últimos meses no seu time do coração foram meramente protocolares, em consequência de um acontecimento traumático.
Tragédia envolvendo Garrincha prejudicou ainda mais sua passagem pelo Flamengo
Mané fez parte de um dos relacionamentos mais icônicos do mundo das celebridades brasileiras. Era casado com a cantora Elza Soares, referência na MPB. Entretanto, um acontecimento trágico abalou as estruturas do casal. Logo após sua última partida pelo Flamengo, Garrincha pegou o carro rumo a sua terra natal.
De carro, a viagem era feita com a mãe de Elza, Rosária, e a filha adotiva do jogador, Sara. No meio do trajeto, um acidente. O carro se chocou contra um caminhão e vitimou fatalmente dona Rosária. Mesmo com os questionamentos dos dirigentes rubro-negros, Garrincha negou ter consumido álcool antes do ocorrido.
Garrincha teve uma carreira brilhante. O seu auge dentro das quatro linhas é, até hoje, visto como inigualável por quem é remanescente de sua época. Infelizmente, sua falta de disciplina e comprometimento acabaram colocando um fim precoce à trajetória do craque. Mas, é possível dizer que Garrincha encerrou a carreira satisfeito, afinal, realizou seu sonho de infância: vestir o Manto Sagrado.
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