Geração PlayStation

27/02/2015, 11:03

Como alguém começa a torcer por um time? Como surge uma paixão tão grande por um clube?

Thauan Rocha (@Thauan_R)

Quero começar primeiro “desviando” um pouco o tema para fazer uma analogia.

Eu tenho um restaurante que é muito conhecido e era bem frequentado pelas pessoas dos bairros próximos, mas a comida começou a ser criticada. Com o tempo, poucas pessoas estavam indo comer lá. Novos clientes? Nem pensar, só alguns fiéis clientes que ainda gostam – ou aturam a comida do local – e alguns arrastados por esses fiéis, mas que raramente voltam. Enquanto isso, os restaurantes dos outros bairros começam a atrair o público do meu restaurante.

Então, o que fazer? Bom, eu posso começar a culpar os clientes, e arrumar mil desculpas dizendo que o serviço é bom, posso também criticar de alguma forma os meus concorrentes ou eu posso analisar o que afastou a clientela e mudar minha postura para que os antigos clientes continuem gostando da comida, fidelize os poucos novos que chegam e divulgue a nova fase do restaurante, atraindo de volta o prestígio de outrora.

Analogia feita, vamos seguir em frente...

Pai flamenguista e filho barcelonista. Imagem: Luiz Filipe Machado

Muitas vezes o time é uma herança, passada dos pais para filhos. Outras vezes vem por influência de um amigo, primo, tio... Mas, por mais que possamos ser influenciados por aqueles que estão ao nosso redor, o bom futebol é um fator determinante. E, atualmente, o bom futebol é mais facilmente encontrado na Europa.

Eu sou apenas rubro-negro, não consigo mudar isso nem querendo. Certa vez tentei começar a torcer pelo Asa-AL, até pelo bom momento que vivia, como segundo time, mas não passou sequer do plano das ideias. As vezes vejo o jogo de um time europeu, mas também, mesmo com um bom futebol, não consigo sentir a mesma emoção de um jogo do Flamengo. Sou Flamengo, sem dúvida, pois cresci assim. É quase um dogma.

Porém, falo do meu caso. Sou novo, mas nem tanto. Nunca tive tanto acesso à internet e tv como tenho hoje. Quando criança, não tinha como ver os jogos de times europeus. Como é na infância que se forma um torcedor e essa nova geração cresce com acesso fácil a internet e tv a cabo, é de se esperar que os mesmos passem a admirar muito mais os times de fora.

Não importa se o primeiro contato acontece pelo Rádio, TV, estádio, Internet ou PlayStation, é preciso que o primeiro contato impressione de alguma forma, principalmente se comparado com outro clube. Depois do primeiro contato, esse jovem torcedor vai procurar saber mais, vai ver jogos e aí começa a surgir realmente um torcedor. O playstation não é o fator principal, é um meio.

Por isso não consigo culpar os jovens, culpo os clubes e as federações. Não posso culpar um garoto que vê um jogo do Barcelona, vê um jogo do Flamengo e consegue perceber a disparidade técnica. “Ah, mas ele nunca vai ver o clube de perto” nós podemos transferir esse pensamento para a maior parte da nação rubro-negra que não se encontra nos centros esportivos. Vi o Flamengo no estádio apenas uma vez e, se não tivesse visto, não mudaria meu amor pelo clube.

Se nós, rubro-negros e/ou brasileiros, queremos mudar esse cenário, precisamos reclamar e criar preconceito contra essa nova geração/clubes ou nos esforçar e pressionar os dirigentes para que a qualidade do futebol praticado aqui melhore? Os nossos maiores problemas podem ser resolvidos com atitudes simples, como investimento em categorias de base. Particularmente, acho que fatores geográficos e também climáticos prejudicam o desempenho dos nossos atletas (caso seja necessário, explico em outro post), mas não significa que não podemos rivalizar com eles.

Quem sabe, com essa nova diretoria e sua política profissional, o Flamengo volte a atrair os olhares das crianças e adolescentes. Quem sabe isso mude e a geração Playstation consiga se apaixonar pelo Flamengo ou até por outro clube brasileiro. Só digo que precisamos virar esse jogo logo, porque depois vai ficar muito mais complicado.

 

SRN!


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