Assim como contra a Cabofriense, Muricy optou por escalar os reservas para o jogo contra o Bangu, preservando os titulares para o jogo contra o Figueirense pela Primeira Liga. A alternância é positiva, principalmente por possibilitar não só a observação como também deixa os reservas adquirirem ritmo de jogo, algo importante para garantir que todo o plantel esteja apto a jogar.
Mantendo o 4-1-4-1, Muricy escalou o Flamengo com Alex – Pará, Léo Duarte, César Martins, Chiquinho – Márcio Araújo – Thiago Santos, Canteros, Ederson, Gabriel – Felipe Vizeu.
Início truncado e lento
O time que entrou em campo não era exatamente o time B dos treinos da pré-temporada até este momento, sendo Ederson, Thiago Santos e Márcio Araújo as novidades. O primeiro só começou a treinar com bola há pouco tempo, o segundo jogava apenas quando Éverton ou Gabriel não estavam no treino e o último era titular até pouco tempo.
Assim, mesmo que a maior parte do time tivesse entrosamento, ainda havia momentos de desencontro em campo e alguns foram sendo sanados durante o jogo, outros esbarraram nas limitações dos próprios jogadores. Taticamente o time estava bem postado, por vezes até mais organizado que o time titular, porém a falta de ritmo de jogo tirou intensidade e contribui para erros bobos.
Na direita, Pará e Thiago Santos começaram em compassos diferentes, as trocas de passe nem sempre davam certo, mas já no final do 1° tempo o ritmo já havia sido corrigido e os dois conseguiam alternar ultrapassagens e tabelas. Driblador, Thiago Santos tendia a disparar e, por vezes, ia à linha de fundo cruzar, enquanto Pará caía para o meio entrando na área, porém quando cortava para dentro para bater, Pará se posicionava para eventualmente receber e ir ao fundo.
Na esquerda, Chiquinho destoava com muitos erros e posicionamento equivocado, o que não ajudava Gabriel, assim como a falta de explosão e mobilidade de Ederson, fazendo com que por vezes o ponteiro ficasse sem ter para quem tocar e acabasse perdendo a bola. Ainda assim, Gabriel participou bastante do jogo e foi subindo de rendimento quando Ederson também subiu.
Canteros como organizador
Se no time titular vemos Mancuello com mais liberdade, derivando por todo o campo, enquanto Arão é muito mais vertical, ontem vimos o oposto. Inicialmente na direita, Canteros volta e meia aparecia mais ao centro para auxiliar na armação ou aparecendo na área para dar opção para os companheiros. Já Ederson atuou muito mais verticalmente, tendendo a ficar mais na lateral do campo ao invés de cair para o meio, o que é bom já que mostra que ele pode executar muito bem a função que Emerson Sheik deveria fazer.
No mapa de calor acima podemos ver que Canteros aparece intensamente fazendo o trajeto da intermediária defensiva direita para o centro, movimentação não só típica de marcação como também de quem auxilia na saída de bola, sendo o principal “desafogo” de Márcio Araújo. Ainda defensivamente, vemos a sua importância quando em apenas 2 jogos fez 7 desarmes, enquanto Arão em 7 jogos tem apenas 1 a mais.
Olhando para a zona de ataque, o vemos bastante ativo pela direita e caindo até o centro, onde articulou alguns ataques principalmente no 1° tempo. Inclusive, apesar da perseguição da torcida ao argentino, os números são bastante favoráveis nesses 2 jogos, tanto em cruzamentos quanto lançamentos possui 50% de acerto, enquanto Arão possui, respectivamente, 40% e 55%.
A força do jogo pelos lados
Assim como no último jogo, os lados dos campos foram bastante utilizados. Gabriel e Thiago Santos atuaram intensamente como válvula de escape partindo em velocidade para a linha de fundo, mas enquanto Gabriel buscava o cruzamento, Thiago Santos tentava penetrar na área e encontrar um companheiro livre, ambos também arriscaram finalizações e fizeram o André Regly, goleiro do Bangu, trabalhar muito.
Inclusive, o grande destaque do jogo ficou por conta de Thiago Santos, que demonstrou ter evoluído bastante nos últimos meses, deixando um pouco o estilo Paulinho de jogar para se assemelhar mais a Cirino. Tendo a velocidade e o drible como principais características, por vezes ainda prende muito a bola, mas ontem procurou jogar mais para o time lembrando a atuação de Cirino contra o Resende.
Um fator importante para o rendimento do jovem ponteiro da base é o apoio que recebeu dos companheiros, mostrando que dificilmente um jogador se sobressai quando cercado de jogadores que não dão o devido suporte. E aí as boas atuações de Canteros e Pará pesaram a favor, o lateral conseguiu participar ativamente do ataque, sendo inclusive o autor do passe pro gol de Thiago Santos. Enquanto isso, na outra ponta, Chiquinho teve mais uma atuação desastrosa conseguindo alcançar em seu 3° jogo pelo time a incrível marca de 10 cruzamentos errados para 1 certo!
Ederson rende mais que o esperado
Após meses se recuperando de uma lesão ano passado, Ederson fez um trabalho especial de preparação física na pré-temporada para fortalecer a musculatura e evitar novas lesões. Claro que, como o próprio reconheceu em entrevista à beira do campo, a perna ainda está pesada, não há a explosão muscular que o permitia ter a velocidade e mobilidade no ataque que o fizeram se destacar no último ano.
Não foram muitas as jogadas em que conseguiu arrancar em velocidade e ganhar da marcação, mas quando conseguiu levou perigo como no lance que culminou no gol de empate. A bola havia saído em lateral próximo ao meio campo, ele adiantou no espaço vazio e Gabriel percebeu, cobrando muito rápido o lateral, permitindo que Ederson chegasse em velocidade a linha de fundo onde tentou bater pro gol, o goleiro espalmou e Vizeu – muito bem posicionado como sempre – pegou o rebote e marcou o gol de empate.
César Martins e Márcio Araújo falham e irritam Muricy
Se no ataque as jogadas passaram a fluir muito bem após os primeiros 20 minutos, conseguindo ganhar ainda mais intensidade no 2° tempo, a defesa teve alguns problemas. Muricy a todo momento gritava com Márcio Araújo, que além dos problemas recorrentes de saída de bola, ainda se posicionou muito mal em vários momentos, deixando espaços no meio-campo.
César Martins, por outro lado, abusou do direito de errar. O zagueiro conseguiu terminar o jogo sem fazer 1 desarme sequer, falhou em passes próximo à área, cometeu erros que implicaram em situações perigosas para o Bangu, inclusive no 1° gol do jogo e ao cometer um pênalti no 2° tempo. O pior é que não foi sua pior atuação pelo Flamengo, mas serviu para lembrar o porquê da zaga do Flamengo ter sido o desastre que foi no último ano.
Ao menos, mesmo nesse cenário desfavorável, Léo Duarte teve atuação segura e promissora, mostrando que merece mais chances de Muricy no Carioca. Obviamente, teve a vantagem de contar com boa proteção pela direita onde Thiago Santos e Canteros empataram como os que mais desarmaram, ainda contando com a atuação sempre segura defensivamente de Pará. Somados, os três efetuaram metade dos desarmes do time.
Expectativas
Além de Ederson e Thiago Santos, estrearam no Carioca Ronaldo e Paquetá, que entraram no 2° tempo e foram bem. Paquetá deu mais consistência defensiva ao meio, porém ainda não conseguiu participar fluidamente do ataque até pela falta de entrosamento, tendo subido recentemente pro profissional. Já Ronaldo entrou no fim do jogo e mostrou a Márcio Araújo como se faz saída de bola, também apareceu com alguma liberdade e eficiência no ataque, mostrando que deveria estar na frente de Márcio Araújo como opção pro meio campo.
Vizeu também teve outra grande atuação, tanto fazendo o pivô quanto deslocando a marcação tão bem quanto Guerrero, como em seu papel de centroavante dentro da área. Nos dois gols que marcou, pegou a bola em rebotes dados pelo goleiro após finalizações, mostrando que sabe ler as jogadas e se posicionar para estar em condições de receber e finalizar. Outra característica que chama a atenção é a frieza ao ter a bola na área, sabendo quando finalizar de primeira ou dominar e limpar o lance para obter um ângulo correto ou tirar da marcação. Kayke, que foi bem ano passado, acabou ganhando uma concorrência pesada ao se lesionar.
Nas próximas semanas além de jogos pela Primeira Liga, o Flamengo terá o início da Copa do Brasil, o que deve aumentar a participação de jogadores do time B no campeonato Carioca. E, apesar da fragilidade do adversário, foi possível ver evolução no nível de atuação dos jogadores e vislumbrar um plantel forte para o Campeonato Brasileiro, apesar de serem ainda necessárias contratações de zagueiros.
Saudações Rubro-Negras