Gabigol e Hugo Souza são pauta em evento sobre racismo no futebol
A Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OABRJ) realizou nesta segunda-feira (20), a mesa redonda “Futebol e a Reparação da Escravidão”. O intuito do evento foi debater a nova Lei de Injúria Racial Desportiva – Lei Federal nº 14.532/2023, ao qual trata de tipificar como crime de racismo a injúria racial, prevendo pena de dois a cinco anos e multa.
O ex-presidente do Flamengo e atual deputado federal, Bandeira de Mello, foi um dos convidados para palestrar em relação ao tema. Além dele, o ex-vice-presidente de Comunicação do Mais Querido, Wellington Silva, também esteve presente.
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Antes da mesa redonda com os palestrantes, a presidente da Comissão de Direito Desportivo da OABRJ, Renata Mansur, ressaltou que convidou todos os clubes cariocas. No entanto, apenas o Olaria enviou um representante. Cerca de 50 pessoas – a maioria advogados e estudantes de Direito – estiveram presentes na OABRJ para acompanhar o debate sobre a nova Lei de Injúria Racial Desportiva.
Racismo com Gabigol contra o Fluminense
Durante o debate, Renata citou o caso de racismo com o Gabigol, em jogo contra o Fluminense, e explicou o motivo de não haver punição aos torcedores tricolores e ao clube.
“O caso foi emblemático porque dois torcedores do Fluminense xingam o Gabigol de ‘macaco’. Essa notícia chega ao Tribunal através de um vídeo. A Procuradoria denuncia e, simplesmente, na prática, o Fluminense contrata uma perícia sonora para que fizesse a medição do som da torcida até o local que o Gabigol estava, no caminho para o vestiário. Aí se atestou que ele não poderia ter ouvido esse xingamento do local onde ele estava”, indignou-se Mansur.
“É importante que o deputado esteja aqui presente porque a gente precisa de uma alteração da legislação no meio do futebol porque temos um impasse. Temos uma legislação muito boa, onde se equipara o racismo à injúria racial, mas não temos a possibilidade de suspender um torcedor porque nossa legislação desportiva não permite”, a advogada cobrou, em tom de apelo, ao deputado federal Bandeira de Mello.
Bandeira de Mello ressalta “passivo ético e moral”
O ex-presidente do Flamengo, que esteve no comando de 2013 a 2018, contou que, além dos problemas financeiros, o Rubro-Negro precisava de uma reformulação nas ações éticas e morais.
“Mas mais do que o problema financeiro, tem um passivo ético e moral que precisa ser resgatado. Flamengo tem 40 milhões de torcedores, boa parte deles crianças, jovens, pessoas humildes, que tem o futebol como o principal ponto de contato da realidade. O Flamengo tem que dar um exemplo positivo para estes torcedores. Falei que vamos fazer o sacrifício que for necessário na área social e esportiva para resgatar esse passivo e passar a ser reconhecido como um clube cidadão”.
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O deputado federal, posteriormente, deu sua opinião de como acabar com o racismo e citou um exemplo do Márcio Araújo, ex-volante do Mais Querido, que era muito criticado pelos torcedores.
“Só vamos ganhar essa guerra se a gente peitar muito e obrigar os clubes coloquem em suas políticas ações afirmativas de combate ao racismo”. Vi o filho do Márcio Araújo brincando e ficava imaginando: ‘esse menino está sofrendo no colégio’. Aí pensei: ‘por que os perseguidos são negros?'”.
Bandeira de Mello também falou em relação a psicologia dentro do Flamengo e deu uma alfinetada na atual gestão sobre o tema: “Quando cheguei tinha o Departamento de Psicologia, mas a atual gestão acabou com o departamento. Devia achar que é frescura, sendo que é importante, principalmente para os jovens”.
Wellington Silva: “Hugo Sousa não pode falhar”
O ex-vice-presidente de Comunicação do Flamengo usou o goleiro Hugo Souza como exemplo para citar o racismo dentro do futebol. O antigo dirigente rubro-negro ainda criticou a falta de pessoas pretas na alta cúpula dos clubes.
“Ele (Hugo Souza) também ainda sofre da síndrome de Barbosa (goleiro da Seleção Brasileira em 1950). É mais uma vítima. Um garoto muito talentoso, que não pode falhar, errar. Comprou um carrão, aí começa ‘ele está metido, está se exibindo’. A falta de diversidade de dirigentes, alguém que possa chegar e acolher, ter um olhar diferente, porque grande maioria dos dirigentes, eles nunca tiveram amigo ou parente preto, o máximo que ele viu é o filho da empregada na casa dele”, afirmou Wellington Silva.
Sou jornalista, formado pela FACHA, de 21 anos. Pouco tempo na área de jornalismo, mas com sonhos, que eram inimagináveis, conquistados, como a cobrir a final da Copa do Brasil, em 2022, no Maracanã. Objetivo é continuar na busca de mais realizações!