Auditora que votou para absolver Gabigol acusa coletores de mentir e incriminar atacante

24/04/2024, 10:06
Auditores que votaram contra condenação de Gabigol apontaram contradições de equipe de coleta e alertaram contra arbitrariedade do tribunal

O Tribunal de Justiça Antidopagem disponibilizou nesta terça-feira (23) a íntegra do acórdão da sessão na qual Gabigol foi suspenso por dois anos por tentativa de fraude de doping. Nele, é possível saber como votou cada auditor na divisão por 5×4, além de conhecer os argumentos de cada um para justificar o seu voto.

Neste sentido, chama bastante atenção o voto da vice-presidente do Tribunal Selma Fátima Melo Rocha. De acordo com ela, “os depoimentos dos DCOs [oficiais responsáveis pela coleta] são repletos de contradições e tiram toda a credibilidade que teriam naquele momento”.

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“Ora afirmam que foram impedidos de escoltar o atleta, ora negam este fato. Cada DCO imputa ao outro a responsabilidade de escoltar o atleta ao quarto. Fica evidente portanto que eles estão mentindo, devendo o depoimento deles ser totalmente descartado”, afirma.

Na sequência, Selma faz uma acusação ainda mais grave aos coletores.

“Vislumbro um comportamento malicioso por parte dos DCOs para incriminar o atleta a qualquer custo. Mas para ser incriminado, devem ser apresentados fatos gravíssimos, o que não houve no caso em tela”, afirmou.

Selma admite que Gabigol foi grosseiro, mas ressalva que “irritar-se com alguém não pode ser motivo para imputar um período de 2 ou 4 anos de suspensão”.

“Caso a amostra fornecida pelo atleta não estivesse dentro das normas técnicas e de segurança, caberia aos DCOs negarem a amostra. No entanto, em audiência, um dos DCOs confirmou que a amostra estava dentro dos padrões. Assim, todos os protocolos foram cumpridos”, entendeu a auditora.

Na conclusão de Selma, “inexiste qualquer conduta por parte do atleta capaz de violar a CBA ou causar qualquer dano ao esporte”.

Auditores não veem tentativa de fraude por Gabigol

Além de Selma, votaram contra a condenação de Gabigol os auditores Jean Batista Nicolau, Fernanda Farina Mansur e Ivan Pacheco.

Nicolau disse que o comportamento de Gabigol não configura tentativa de fraude.

“O denunciado não recebeu os DCO adequadamente e os tratou com pouca civilidade. Entretanto, não vislumbro no presente caso ocorrência de fraude ou de tentativa de fraude. Não me convence a tese de que o atleta tenha agido, intencionalmente, com a finalidade de fraudar o procedimento de coleta. Ele agiu, sim, para vilipendiar os fiscais mas não com a específica finalidade de fraudar o procedimento”, afirmou o auditor.

Ele ressalta que, como não há previsão de legislação para punir este tipo de conduta, não tinha outra opção a não ser votar pela absolvição de Gabigol.

Já Fernanda Farina Mansur expõe detalhadamente diversas contradições dos responsáveis pela coleta, a principal delas sendo que o líder da missão de coleta disse que viu Gabigol chegar ao Flamengo depois da equipe quando foi oferecida prova em vídeo de que o atacante já estava treinando antes dos auditores chegarem.

“Sobre o ocorrido no dia 8/4/2023, acho importante ressaltar a dificuldade de elucidação de como realmente transcorreram os fatos naquele dia. Uma série de dúvidas e depoimentos que se contradizem tornaram dificultosa a tarefa de ter certeza do que de fato ocorreu. Três pontos parecem-me certos. Primeiro que o atleta foi rude, impolido e não cooperativo com os DCOs, o que não significa fraude de plano. Segundo, que os DCOs não conseguiram ser definitivos em alguns pontos importantes do que ocorreu naquela data. E terceiro, a missão ocorreu por percalços e dificuldades, mas não somente por culpa do atleta”, considerou.

Por fim, Ivan Pacheco alertou para o risco de a condenação de Gabigol abrir caminho para arbitrariedades do tribunal no futuro.

“Não se pode confundir em hipótese alguma um conflito de relacionamento com uma fraude ou tentativa de fraude na coleta de amostras, sob pena de interpretação subjetiva e, pior, criar um precedente para que arbitrariedades futuras surjam a partir deste julgamento. Entendo que houve uma falha de comunicação entre a equipe de coleta e o atleta por divergências de relacionamento”, afirmou.

A defesa de Gabigol deve usar os votos dos quatro relatores pela absolvição de Gabigol como parte de sua argumentação na Corte Arbitral do Esporte, na Suíça, para reverter a condenação. Também nesta terça, o tribunal suíço definiu o último dos três árbitros que vão analisar o recurso de Gabigol, A defesa espera ter uma decisão sobre o efeito suspensivo até o início de maio.


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Lucas Tinôco
Autor

Acima de tudo Rubro-Negro. Sou baiano, tenho 28 anos e cursei Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Além do MRN, trabalhei durante muito tempo como ap...