Complicado dizer muita coisa diante de uma noite em que o Flamengo se viu novamente vítima daquela que é uma das mais traiçoeiras matérias do nosso ensino básico: a matemática.
Isso porque a equipe rubro-negra, mesmo criando mais chances, mesmo tendo mais posse de bola, não conseguiu transformar esses números, que pareciam bem positivos, no único número que realmente importa numa partida: o número de gols marcados, que precisa ser maior do que o de gols sofridos.
➕ João Luis Jr: É complicado, mas com Filipe Luís dá pra acreditar até no título brasileiro
Então o que tivemos foi um primeiro tempo do futebol que se espera da equipe de Filipe Luís, com pressão, intensidade e oportunidades, mas onde essas oportunidades novamente não foram traduzidas em bola na rede. Foi bola na trave, foi chute pra fora, foi gente demorando pra definir, foi um imenso volume de arremates mirando o crucifixo que o goleiro Fábio deve usar no peito, por baixo da camisa. Mas gol que é bom, nada.
E quando você soma isso a um segundo tempo que só se esperaria de um catadão de narcolépticos que recusam tratamento, logo após a privação de sono causada por 48 horas, sem intervalo, dirigindo veículos de grande por estradas vicinais de estados esquecidos pelo orçamento do DNIT, o que você tem é uma receita para o desastre. Desastre que, é claro, passou por alguns nomes em especial.
Tivemos uma atuação lamentável pelo lado esquerdo, com Léo Pereira atuando em outra realidade e Ayrton Lucas fazendo acreditar que aquele beijinho em seu pescoço foi dado pelo futebol, logo antes de se despedir dele pra sempre. Tivemos Gabigol, com mais impedimentos que oportunidades criadas e Alcaraz, errando tanto que gerou a sensação de que ele é mesmo um jogador de tênis trazido por engano.
E claro, Allan, o homem cuja contratação funciona mais ou menos como a compra de uma arma de fogo pra sua casa: você acredita que vai contribuir pra sua segurança, mas todos os números, todas as pesquisas, indicam que a simples presença dele já aumenta significativamente a chance de uma tragédia pra você e pra sua família.
Mas claro, sobra culpa pra todo mundo, seja pela absolutamente falta de eficiência no ataque, seja pelos gols patéticos sofridos na defesa. Afinal, um jogo de futebol decidido por Paulo Henrique Ganso opera mais ou menos na mesma lógica que um roubo de banco realizado por uma tartaruga: se aconteceu é porque muita gente foi negligente, distraída ou apenas estava de sacanagem.
A verdade é que o sonho do Flamengo invencível de Filipe Luís caiu diante não apenas das limitações do trabalho de um técnico iniciante, que tem imenso potencial mas ainda precisa de tempo, como também diante dos problemas óbvios de um elenco que não só tem carências como é composto por jogadores que não deveriam poder visitar a sede social da Gávea, quanto mais vestir o manto rubro-negro.
Que neste domingo, diante do único sonho que ainda nos resta, que é a Copa do Brasil, possamos ver não só um Flamengo como o do primeiro tempo, acordado e criativo, mas uma versão eficiente dessa postura, que saiba não só criar, mas também aproveitar oportunidades. Porque legal atacar, bacana pressionar, mas sem gol não existe diferença prática entre o futebol bem jogado de Fillipe Luís e a tortura psicológica com bola oferecida pelo demitido treinador Tite.