Flamengo aparece como vítima e algoz frequente em relatório sobre racismo e outros atos discriminatórios

24/11/2023, 16:53
Gabigol com camisa em homenagem ao Dia da Consciência Negra. O jogador é vítima de um dos 6 casos de racismo e discriminação sofridos por pessoas ligadas ao Flamengo em 2022

Doze dos 233 casos do relatório anual do Observatório do Racismo no Futebol envolvem personagens ligados ao Flamengo, seja como vítimas, seja como algozes. Além de episódios de racismo, o relatório, feito em parceria com a CBF, também documenta casos de LGBTfobia e xenofobia.

A maioria dos casos, ocorridos em 2022, envolve a torcida do Flamengo como vítima ou perpetradora dos atos. Há ainda um caso de racismo sofrido por Gabigol e uma acusação de xenofobia contra a esposa do presidente Rodolfo Landim, que também é dirigente do clube.

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Flamengo como vítima

O Flamengo aparece como vítima de cinco casos de racismo e um de homofobia:

  • Gabigol foi chamado de “macaco” por torcedores do Fluminense em fevereiro de 2022. Apesar do registro em vídeo das ofensas, o Fluminense foi absolvido pelo STJD
  • Na Supercopa de 2022, na Arena Pantanal, um torcedor do Atlético-MG fez gestos de macaco para a torcida do Flamengo e chamou os torcedores de “macaco fedorento”. Não houve punição na esfera esportiva e na esfera criminal, o caso corre em segredo de Justiça.
  • Antes da mesma partida, o rapper Djonga convocou a torcida para assistir à final da Supercopa usando uma imagem com a frase “Galo x Mulambos”. Após repercussão, Djonga afirmou que não sabia que a expressão tinha conotação racista e se desculpou
  • Mais um caso de gestos de macaco aconteceu em abril de 2022, no Chile, quando um torcedor da Universidad Católica foi flagrado fazendo esses gestos em direção à torcida do Flamengo. O time chileno foi multado em US$ 30 mil pela Conmebol
  • Outro incidente num jogo contra o Atlético-MG, desta vez contra o Mineirão, em junho de 2022: torcedores do Atlético-MG foram filmados cantando música de tom homofóbico em direção aos rubro-negros. O Atlético-MG foi multado em R$ 50 mil.
  • Durante a transmissão da Fórmula 1 em maio de 2022, o áudio do narrador Sérgio Maurício vazou e foi possível ouvir ele dizendo que os torcedores do Flamengo são “duros e favelados”. Sérgio Maurício pediu desculpas pela fala, dizendo que foi uma “brincadeira imprópria”. Não há registro de outras consequências

Flamengo como algoz

Na ponta oposta, torcedores e dirigentes do Flamengo aparecem como autores de seis atos de LGBTfobia, misoginia e xenofobia

  • No mesmo jogo em que Gabigol foi chamado de macaco, a torcida do Flamengo cantou um canto com expressões homofóbicas contra a torcida tricolor. O Flamengo foi condenado a doar 50 cestas básicas e instado a realizar reuniões com líderes de torcidas organizadas para informar sobre possíveis punições que atos como esse poderiam causar ao clube
  • Após o jogo contra o São Paulo, em setembro de 2022, a humorista e influencer Gabô Pontaleão afirmou ter sido chamada de sapatão repetidas vezes quando saía do Maracanã. Não houve desdobramentos do caso
  • Em uma entrada ao vivo antes da semifinal da Libertadores, contra o Vélez, a jornalista Jéssica Dias, da ESPN, foi beijada à força por um torcedor rubro-negro. O agressor foi detido e teve medidas cautelares impostas pelo juiz: não ir a jogos do Flamengo enquanto o processo por ato libidinoso perdurar, não viajar para fora do Estado do Rio sem autorização judicial e não ter contato com a vítima e testemunhas
  • Na final da Libertadores, em Guayaquil, a jornalista equatoriana Pilar Vera trabalhava em uma transmissão ao vivo para o seu país quando foi abordada por um torcedor do Flamengo que a abraçou, a pediu em casamento e a perseguiu por alguns metros. Pilar disse que se sentiu muito desconfortável, mas não há registro de consequências legais ao episódio.
  • Segundo o relatório, as redes sociais do Ceará foram tomadas por comentários preconceituosos contra nordestinos de torcedores do Flamengo em setembro de 2022. O humorista Tom Cavalcante também sofreu ofensas preconceituosas depois de fazer uma publicação comemorando o embate entre seu clube e o Flamengo
  • Mulher de Rodolfo Landim e diretora de Responsabilidade Social do Flamengo, Ângela Machado Landim publicou nas suas redes sociais mensagem xenofóbica contra nordestinos após a vitória de Lula na eleição de 2022. “Ganhamos onde produz, perdemos onde se passa férias. Bora trabalhar porque se o gado morre, o carrapato passa fome”. Apesar de ter se tornado ré por xenofobia, Ângela segue até hoje no cargo no Flamengo

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