João Luis Jr: Uma vitória com gosto de cerveja morna em final de bloco que teve briga
Não existiam muitas razões para otimismo. Entre terça e sábado se passaram quatro dias e não quatro meses e era muito improvável que fosse possível notar alguma grande mudança entre o Flamengo que passou vergonha diante do Al-Hilal na semifinal e o Flamengo que enfrentaria o Al-Ahly tentando não passar vergonha pela disputa de terceiro lugar.
O condicionamento físico da equipe, que teve férias longas e uma pré-temporada estilo colônia de férias do Sesc, continuava miserável, com vários jogadores visivelmente incapazes de disputar uma partida oficial dentro do nível que se espera deles, e levando com isso a condição técnica também para o fundo do poço.
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Taticamente o Flamengo seguia também desanimador, com a saída de um Gerson perdido para a entrada de um Vidal aparentemente anestesiado e a troca de um Matheuzinho transtornado por um Varela também abaixo do que a lateral-direita rubro-negra exige, mas que ao menos parecia não atuar com a calma de alguém que misturou MD na Skol Beats.
No comando seguia ele, mais uma das grandes tartarugas em alto de árvore da história rubro-negra, o professor Vitor Pereira, que se tornou técnico da equipe de maior orçamento do país porque “deu trabalho” na Copa do Brasil, sinalizando que talvez Francisco Diá, ex-treinador do Altos do Piauí, possa terminar a temporada no comando rubro-negro, já que a equipe da Grande Teresina também vendeu caro sua eliminação.
Mas ainda assim o Flamengo venceu. Com mais uma atuação fraca, que envolveu um amplo repertório de falhas de marcação, erros grotescos de armação e Thiago Maia realizando um pênalti tão infantil que faz o DVD “Xuxa Só Para Baixinhos Volume 5” parecer cinema francês. Mas venceu. Muito em virtude de uma pane generalizada do time egípcio, que pouco após assumir a dianteira no placar conseguiu emendar uma expulsão, um pênalti bisonho e uma assistência involuntária para o quarto gol rubro-negro, marcado por Pedro.
Num cenário em que seria brincadeira – e até ofensivo com qualquer pokémon – falar que existem sinais de “evolução” na equipe rubro-negra, o que sobra nesta vitória de sábado é muito mais o alívio por um vexame um pouco menor do que parecia provável aos 15 minutos do segundo tempo, e algum combustível para algum frágil senso de otimismo que todos nós estamos ainda tentando manter em relação ao Flamengo para essa temporada.
Porque temos um departamento de futebol que visivelmente não sabe o que está fazendo – a entrevista de Marcos Braz dizendo que Dorival tinha que ser demitido porque tinha que ser demitido e a demissão aconteceu porque tinha que acontecer mostra bem o nível de organização e planejamento dos caras – um treinador que ganhou a vaga na roleta russa geográfica por ser português e uma temporada em que a cobrança vai ser ainda maior, diante de duas competições já jogadas no lixo antes do meio de fevereiro.
Então ainda que a tendência seja de mais dificuldade, poucas lições aprendidas e muitos gols ridículos ainda a serem tomados, cabe ao rubro-negro torcer por algum sinal de melhora, algum progresso, algum sinal de que essa sombra de time que vemos em 2023 possa voltar a ser algo semelhante ao Flamengo que venceu coisas grandes em 2022. Afinal, ainda que seja improvável que os jogadores tenham desaprendido como se joga futebol em três meses, um tempo assim pode ser o bastante para Vitor Pereira descobrir o que quer fazer com eles.