Flamengo perdendo respeito na América do Sul: 2002-2016
O MundoRubroNegro.com presenteia seus leitores com a série de Marcel Pereira, sobre a ascensão e queda do Flamengo na América do Sul. Torcedor apaixonado, o autor também é um ativista defensor do Manto Sagrado e da história do Mais Querido.
Carioca de 1977, é economista pós-graduado em finanças. Seu interesse por outras áreas do conhecimento humano, tais como sociologia, arqueologia e antropologia, é a base de seu livro "A Nação". A obra explica a popularidade do Flamengo de forma clara e objetiva. Com base em uma pesquisa profunda e criteriosa, revisita o Rio de Janeiro desde o início do século 20, buscando as raízes mais autênticas da nossa paixão.
Marcel Pereira escreve rotineiramente no blog livroanacao.blogspot.com.br, onde originalmente publicou esta trilogia: o primeiro artigo é dedicado às conquistas dos títulos que levaram o clube da Gávea a ser tão popular no continente quanto já era no Brasil. A derrocada, que começa a partir do início do século 21, é contada no segundo texto. O terceiro tomo é um apanhado estatístico sobre a participação brasileira na Libertadores, dando uma percepção mais exata do tamanho do Flamengo para nossos hermanos na atualidade.
No rodapé encontram-se os links para os outros textos que completam a saga. Confira agora a segunda parte.
Flamengo perdendo respeito na América do Sul: 2002 - 2016
Se tivemos o Flamengo ganhando respeito na América do Sul: 1981 - 2001, a partir de 2002 o clube perdeu muito deste respeito que tinha acumulado. Primeiramente porque entre 2002 e 2006 o clube viveu a mais grave crise de sua história. Recuperou-se, voltou a conseguir algumas importantes conquistas, mas não a nível internacional.
Como campeão da Copa dos Campeões de 2001, o Flamengo conseguiu baga na Libertadores de 2002. Melhor não tivesse conseguido, tão ridícula foi sua campanha, que o levou a uma eliminação precoce na 1ª fase. O grupo rubro-negro não era considerado dos mais difíceis, tinha o Olimpia, do Paraguai (que ainda não se sabia, mas se tornaria o campeão daquela edição), além do Universidad Católica, do Chile, e do Once Caldas, da Colômbia. Os dois primeiros colocados avançavam às oitavas de final.
O time rubro-negro largou com uma derrota por 1 x 0 para o Once Caldas em Manizales. Depois perdeu por 3 x 1 para a Universidad Católica em pleno Maracanã. Recuperou-se goleando, no Rio de Janeiro, ao Once Caldas por 4 x 1. Contra o Olimpia, também no Maracanã, um empate sem gols. Viajou a Santiago e perdeu por 2 x 1 para a Católica. Na despedida, já eliminado, perdeu por 2 x 0 para o Olimpia em Assunção. Com apenas uma vitória em seis jogos, tendo tido um empate e quatro derrotas, fez uma campanha bisonha, terminando com a última colocação do grupo.
Em meio à já citada crise que vivia, demorou para o Flamengo voltar a uma Copa Libertadores da América. Antes disso, disputou duas edições da Copa Sul-Americana, competição que a partir de 2002 substituiu a Copa Mercosul. O Flamengo a disputou pela primeira vez em 2003, sem ter conseguido avançar da "fase brasileira". Na 1ª fase, um triangular de jogos únicos contra Santos e Internacional. O Flamengo perdeu por 3 x 1 no Beira-Rio, em Porto Alegre, e perdeu por 3 x 0 para o Santos no Maracanã. No ano seguinte, voltou a não avançar à fase internacional, eliminado em 2004 na 1ª fase pelo Santos depois de dois empates, 0 x 0 e 2 x 2, e derrota na disputa de pênaltis por 5 x 4.
Como Campeão da Copa do Brasil de 2006, o Flamengo voltou à Libertadores em 2007. Caiu num grupo com Paraná Clube, o venezuelano Maracaibo, e o Real Potosi, no campo com maior efeito de altitude no mundo, na Bolívia. O time rubro-negro foi muito bem na 1ª fase, Empatou o primeiro jogo por 2 x 2 em Potosi, e daí para frente não perdeu pontos: fez 3 x 1 no Maracaibo em casa, venceu duas vezes ao Paraná por 1 x 0, fez 2 x 1 no Maracaibo fora de casa, e bateu o Real Potosi por um magro 1 x 0 no Maracanã. Avançou às oitavas de final para enfrentar ao Defensor Sporting, do Uruguai. Jogou muito mal na primeira partida em Montevidéu e acabou pagando o preço que lhe custou a eliminação. Perdeu por 3 x 0. Na volta, o Maracanã lotou, o Flamengo pressionou, fez 2 x 0, dois gols de Renato Abreu, mas não conseguiu levar o duelo para os pênaltis. Saiu aplaudido por sua torcida pelo esforço, mas eliminado.
Voltou à Libertadores em 2008, por ter sido o 3º colocado no Campeonato Brasileiro do ano anterior. Caiu num grupo que tinha o uruguaio Nacional e os peruanos Cienciano e Coronel Bolognesi. No primeiro jogo, um empate sem gols em Tacna contra o Bolognesi, depois venceu ao Cienciano por 2 x 1 no Maracanã, perdeu por 3 x 0 para o Nacional em Montevidéu, e se recuperou vencendo aos uruguaios por 2 x 0 no Maracanã. Foi a Cuzco, no Peru, e bateu ao Cienciano por 3 x 0. Na última rodada, sofreu, mas venceu ao Coronel Bolognesi por 2 x 0 no Maracanã, com o primeiro gol saindo numa cobrança de falta do goleiro Bruno. Avançou às oitavas de final para enfrenta o América do México. No primeiro jogo, no Estádio Azteca, na Cidade do México, vitória rubro-negra por 4 x 2, dois gols de Marcinho, com Diego Tardelli e Leonardo Moura completando. A classificação às quartas de final parecia garantida. Porém, no jogo de volta,no Maracanã, o atacante paraguaio Salvador Cabañas marcou três vezes e o América venceu por 3 x 0, eliminando o Flamengo.
Em 2009, mais uma participação na Copa Sul-Americana, e mais uma vez sem conseguir avançar da 1ª fase e passar da fase brasileira à fase internacional. E após dois empates contra o Fluminense, 0 x 0 e 1 x 1. Em três participações na competição, foram seis jogos sem vencer, com quatro empates e duas derrotas.
Mais uma participação na Libertadores em 2010, quando o Flamengo conquistou a vaga como Campeão Brasileiro de 2009, manteve seu time e se reforçou com a contratação do centroavante Vágner Love. Com o trio formado por Dejan Petkovic, Adriano e Vágner Love, havia uma grande expectativa de se conseguir uma grande campanha no torneio. No grupo rubro-negro, o venezuelano Caracas, e os chilenos Universidad Católica e Universidad de Chile. Nos dois primeiros jogos, duas vitórias: 2 x 0 sobre a Católica no Maracanã e 3 x 1 sobre o Caracas na Venezuela. Depois uma derrota por 2 x 1 para a Universidad de Chile em Santiago, seguida por um empate por 2 x 2 contra o mesmo adversário no Maracanã. Nos dois últimos jogos, derrota por 2 x 0 para a Católica em Santigo, e vitória por apertados 3 x 2 sobre o Caracas no Rio de Janeiro. Vacilante,o time avançou para enfrentar o Corinthians pelas oitavas de final. O time rubro-negro venceu por 1 x 0 no Maracanã, depois tomou dois gols no Pacaembu, mas um tento marcado por Vágner Love no final pôs o 2 x 1 no placar que deu a classificação ao Flamengo pelo critério de mais gols marcados no campo do adversário. O Flamengo avançou para enfrentar a Universidad de Chile nas quartas de final, equipe à qual não havia conseguido vencer nenhuma vez na 1ª fase. Era a primeira vez desde 1993 que o Flamengo chegava às quartas de final da Libertadores. O primeiro duelo foi no Maracanã e quem tomou conta do jogo foi o meia argentino Walter Montillo, que comandou a vitória chilena por 3 x 2 em pleno Rio de Janeiro. No segundo jogo, em Santiago, o Flamengo tentou acordar, lutou muito, venceu por 2 x 1, mas não foi o suficiente para impedir a eliminação.
A Universidad de Chile traumatizou ao Flamengo neste período. Em 2011, o time rubro-negro tinha Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves, e fazia boa campanha no Campeonato Brasileiro. Disputou então a Copa Sul-Americana, torneio no qual nunca havia passado da 1ª fase. Desta vez passou, eliminando ao Atlético Paranaense depois de duas vitórias por 1 x 0. Encontrou "La U de Chile" na 2ª fase. A primeira partida foi no Rio de Janeiro, no Estádio do Engenhão, e foi uma catástrofe. O atacante Eduardo Vargas acabou com a defesa do Flamengo, tendo sigo autor de dois gols, e a Universidad de Chile goleou impiedosamente por 4 x 0. No jogo de volta, em Santiago, venceu por 1 x 0, eliminando mais uma vez ao Flamengo.
Em 2012, o Flamengo voltou à Copa Libertadores, por ter sido 4º colocado no Brasileiro de 2011. Entrou na fase chamada de "Pré-Libertadores" para duelar contra o Real Potosi, voltando a enfrentar a dureza da altitude boliviana. Com a presença de Ronaldinho Gaúcho, voltava-se a haver muitas esperanças de uma grande campanha. Perdeu o primeiro jogo por 2 x 1 em Potosi, mas venceu por 2 x 0 no Maracanã e conseguiu avançar. Entrou na fase de grupos para enfrentar ao paraguaio Olimpia, ao argentino Lanus e ao equatoriano Emelec. Só os dois primeiros avançavam. O grupo não era dos mais difíceis,embora tampouco fosse fácil. O time rubro-negro empatou em 1 x 1 com o Lanus na Argentina, depois venceu ao Emelec por 1 x 0 no Engenhão e enfrentava, no mesmo estádio, ao Olimpia. Vencia por 3 x 0 até os 30 minutos do 2º tempo, o que lhe deixava com a classificação muito bem encaminhada. Porém, conseguiu a façanha de levar três gols em poucos minutos, terminando com um desagradável placar de 3 x 3. Na sequência, ainda perdeu por 3 x 2 para os paraguaios em Assunção, vendo sua situação na tabela se complicar bastante. Piorou ainda mais depois que perdeu por 3 x 2 para o Emelec, em Guaiaquil. Na última rodada, contra o líder Lanus no Maracanã precisava vencer e torcer por uma combinação de resultados. Venceu por 3 x 0, e ia se classificando, porque o Emelec empatava com o Olimpia em Guaiaquil, porém um gol equatoriano aos 47 minutos do 2º tempo azedou a esperança rubro-negra. Para dar um tom pitoresco, o lateral-direito Leonardo Moura dava entrevista ao vivo com sorriso no rosto e fone de ouvido escutando os minutos finais da partida no Equador, e ficou com a cara esbugalhada ao perceber o gol equatoriano.
Em 2014 o Flamengo voltou à Libertadores por ter sido o Campeão da Copa do Brasil de 2013. Entrou num grupo relativamente fácil, frente a Leon, do México, Bolivar, da Bolívia, e Emelec, novamente ele, do Equador. O Flamengo começou perdendo por 2 x 1 para o Leon, no México. Depois venceu ao Emelec por 3 x 1 no Maracanã, onde também empatou em 2 x 2 contra o Bolivar. No returno, perdeu por 1 x 0 para o Bolivar na altitude de La Paz, venceu ao Emelec por 2 x 1 fora de casa, em Guaiaqil, e na última rodada, uma vitória simples classificaria o Flamengo, mas o time perdeu por 3 x 2 para o Leon no Maracanã. Terminou em 3º lugar, e viu Bolivar e Leon avançarem, Mais uma campanha ridícula na Libertadores, superada só pelo vexatório desempenho em 2002.
Definitivamente, a soma dos desempenhos nas Libertadores de 2002, 2007, 2008, 2010, 2012 e 2014 fizeram o Flamengo ser menos respeitado por seus adversários na América do Sul. Ainda que nos últimos 10 anos o Flamengo tenha conseguido jogar 5 vezes a Libertadores, o que na média equivale a marcar presença ano sim ano não, isto não basta. Respeito não se ganha, respeito se conquista, e já passou da hora do Flamengo recuperar o respeito perdido. Pelos péssimos desempenhos nas Libertadores desde 2002, e pelas iguais horripilantes campanhas na Copa Sul-Americana, como a que aconteceu em 2011, e que teve um novo capítulo desprezível em 2016.
O Flamengo chegava à Copa Sul-Americana de 2016 taxado como favorito, dada a excelente campanha que fazia no Brasileiro daquele (a qual lhe garantiu acesso à Libertadores de 2017). Era uma excelente oportunidade de conquistar um título continental, porém se optou pela escalação de um time reserva na competição. O time rubro-negro quase foi eliminado na 1ª fase, perdeu para o Figueirense por 4 x 2 em Florianópolis, mas se recuperou e venceu pelos mesmos 3 x 1 em Cariacica, no Espírito Santo, ficando com a vaga pelo critério de mais gols marcados no campo do adversário. Na 2ª fase, enfrentou ao modesto Palestino, do Chile. Na primeira partida, em Santiago, venceu por 1 x 0. Parecia ter a vaga assegurada, mas foi surpreendido no jogo de volta em Cariacica, com a vitória do adversário por 2 x 1, gols de Roberto Cereceda e Leonardo Valencia, o que deu a eliminação pelos mesmos critérios, já que fez um gol na capital chilena e sofreu dois quando teve o mando de campo.
O Flamengo terá a oportunidade de tentar recuperar o respeito perdido na Libertadores 2017. O grupo é o mais difícil dentre os grupos enfrentados pelo Flamengo na 1ª fase desde 2002. Os adversários são o San Lorenzo, da Argentina, e o Universidad Católica, do Chile. O quatro participante do grupo vem da Pré-Libertadores, sendo o Atlético Paranaense o favorito a ficar com a vaga. Uma parada duríssima, mas já como já dito: passou da hora do Flamengo fazer uma campanha digna de recuperar o respeito perdido. Hoje, na América do Sul, já não olham mais para o Flamengo enxergando o status de grandeza que viam outrora. É preciso mudar isto!
Marcel Pereira
Flamengo ganhando respeito na América do Sul: 1981 - 2001
Histórico da participação brasileira na Libertadores
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