Flamengo move processo contra sócio que é opositor à atual gestão
Com a justificativa de que Rodrigo Rötzsch teria causado prejuízos a imagem do Flamengo, clube move processo contra sócio
Não é só dentro de campo que o Flamengo vive uma fase conturbada. A goleada sofrida para o Atlético-MG por 4 a 0 aumentou a insatisfação da torcida com Domenec Torrent. Já na política, o clima também é de instabilidade. A gestão de Rodolfo Landim move processo contra sócio e conselheiro, Rodrigo Rötzsch.
Rodrigo é membro do Flamengo da Gente, que exerce papel social e combativo. Uma das ações do grupo foi criar o site Não Nos Esquecemos, em memória às vítimas do incêndio no Ninho do Urubu. Entretanto, o olho do furacão que deu início a toda essa polêmica é referente a um outro assunto ao qual a administração de Landim foi duramente criticada.
No dia 22 de maio, no canal do jornalista Mauro Cezar Pereira, no YouTube, Rodrigo fez uma série de perguntas, direcionadas a diretoria rubro-negra. O ponto abordado com mais veemência foi a pressão exercida pelo clube para a volta do futebol no país, após paralisação forçada por conta da pandemia. Lembrando que, na época, os casos de Covid-19 cresciam diariamente no Estado do Rio.
A alta cúpula do Mais Querido enxergou que a postura de Rodrigo causou “uma série de prejuízos à imagem do clube”. Por conta disso, o Conselho Diretor abriu um processo contra o sócio. Este foi assinado pelo Presidente, Rodolfo Landim, que nomeou uma Comissão de Inquérito. Segundo Rodrigo, existem riscos dessa investigação não ocorrer de forma imparcial.
“Ela (Comissão de Inquérito) é formada por sócios que apoiam abertamente a atual gestão. alguns dos quais já criticaram, no passado, a atuação do Flamengo da Gente. Um deles já se referiu ao grupo, jocosamente, como ‘seita da gente'”, explica Rodrigo.
Conselho Diretor move processo contra sócio e também o julga
A comissão citada acima foi instalada no dia 16 de junho. Conforme escrito no estatuto do Flamengo, ela deveria ter se encerrado em agosto. Afinal, o tempo máximo de funcionamento previsto são 60 dias. Seu objetivo é apurar se houve, por parte de Rodrigo, o desrespeito a três artigos do estatuto do clube. A pena pode ser uma suspensão de um ano, ou a expulsão do quadro social.
O julgamento do caso fica a parte do Conselho Diretor. O mesmo que abriu processo contra o conselheiro rubro-negro. E, caso condenado, Rodrigo poderia recorrer, apenas, ao Conselho de Administração. Importante ressaltar que essa ala é formada, majoritariamente, por apoiadores do atual mandatário flamenguista.
Segundo revelou o jornalista Mauro Cezar Pereira em seu blog, o processo vinha sendo tratado sob sigilo, a pedido da comissão de inquérito. A respeito disso, em uma audiência de instrução, Rodrigo perguntou qual artigo do estatuto do clube previa o sigilo. Sem respostas para esse questionamento, o presidente da comissão apenas disse que a justificativa se dava com base em jurisprudência de casos anteriores.
Perguntas sobre protocolo anti-coronavírus não tiveram respostas
Alguns dos questionamentos feitos por Rodrigo em maio diziam respeito ao combate ao coronavírus realizado pelo Flamengo. O opositor, inclusive, reitera que uma das indagações era para saber se o clube seria capaz de conter um surto da Covid-19 dentro do elenco.
“Qual a possibilidade um atleta ou funcionário infectado não ser diagnosticado? O intervalo de uma semana entre os testes é o suficiente para impedir um surto de coronavírus no elenco?”, foram alguns dos pontos levantados por Rodrigo. Lembrando que, em meados de setembro, explodiram inúmeros casos da doença entre os jogadores do Rubro-Negro carioca.
Contudo, todos esses questionamentos não tiveram respostas. Segundo consta no ato 003/2020 do Conselho Diretor/Comissão de Inquérito, as perguntas feitas por Rodrigo “se refere a assuntos estratégicos e sigilosos do Flamengo e, por isso, são tratadas internamente”.
Em outra parte do documento mencionado, uma outra observação polêmica. Nela, diz que o sócio opositor havia “tornado público assuntos internos do clube ao citar explicitamente o conteúdo das perguntas protocoladas pelos sócios ao presidente do Flamengo”. E, por isso, teria desgastado a imagem da instituição.
A posição do grupo Flamengo da Gente
O Flamengo da Gente considera o processo pelo qual Rodrigo enfrenta, como uma perseguição política desempenhada pela gestão Landim. O grupo é consideravelmente crítico a administração atual do Flamengo em diversos aspectos. O mais notável deles se refere a tragédia do dia 8 de fevereiro.
A forma como as negociações com as famílias das vítimas causou indignação nos membros, que atuam firmemente em busca de justiça até os dias atuais. Outra preocupação por parte dos integrantes é o risco de tal processo colocar em risco as possibilidades de se haver uma oposição democrática dentro do clube.
Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Divulgação/Twitter