João Luis Jr: Flamengo já não é tão ruim, mas ainda tem muito a melhorar
Qualquer análise dos últimos jogos do Flamengo, diante de Bahia e Corinthians, precisa ser feita lembrando que tudo nessa vida depende do seu referencial.
Atingir 150 km/h numa Ferrari não é um feito impressionante, mas dirigindo uma Towner de cachorro-quente, você estaria fazendo história. Cinco horas de viagem é um tempo curtíssimo se você está indo do Rio para Londres, mas um pesadelo se foi gasto preso no trânsito em um túnel. Humilhar uma criança de 12 anos no karatê é muito legal se você for um menininho de 10 e caso de polícia se você for um homem de 35.
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Em suma, mais do que analisar os dados na sua frieza do momento e discutir sobre a situação como ela aconteceu, é preciso entender também a origem desses dados e levar em consideração como fomos parar na dita situação.
Ou seja, não, numa leitura fria da coisa, não foi um grande resultado o empate deste sábado. O Flamengo foi superior durante boa parte da partida. O adversário apresentava diversas fragilidades e sofremos aquele gol na bobeira máxima, num pênalti de bola na mão nos únicos cinco minutos da partida em que o Corinthians chegou a exercer alguma pressão.
Então com certeza é possível dizer que foram, sim, dois pontos jogados fora, que seguimos sim fazendo o que fizemos nesta temporada, que é tenta atirar longe qualquer chance de título com a mesma força com que Gerson acertou Varela ou nosso antigo preparador físico atingiu a cara de Pedro.
Ou seja, se o seu referencial for “o quanto o Flamengo pode jogar”, não tem como falar que fomos bem. Mas e se a sua comparação for com “o quão pior esse mesmo Flamengo já esteve esse ano”?. Bem, aí o cenário é um pouco diferente.
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Porque sob o comando do interino Mário Jorge tivemos uma equipe que, ainda que bem longe do ideal, ao menos parecia oferecer um nível básico de organização. Não tivemos improvisos, não tivemos surpresas, e isso ficava claro num time que parecia se entender dentro de campo, com Éverton Ribeiro mais uma vez mostrando que merece seguir no clube e Gérson tendo uma noite inspirada até precisar sair por lesão.
É inegável que precisamos de mais, claro. Ayrton Lucas segue atuando com o freio de mão mais do que puxado. Nosso ataque sofre muito para criar oportunidades. E artilheiros como Gabigol e Pedro não estão apenas em baixa, mas passando o segundo semestre num “pré-sal esportivo”, com diversos problemas técnicos e táticos.
E ainda assim, depois de todos os vexames, jogos horríveis e títulos jogados no lixo nesta temporada, atuações assim chegam até a criar alguma esperança. Porque mostram como esse Flamengo precisa de pouca coisa para evoluir. A simples presença de um treinador que não esteja de sacanagem já faz uma diferença. O potencial existe nesse grupo, se fizer um mínimo de esforço.
Por isso é possível acreditar que, se Tite chegar mesmo, talvez o Flamengo possa, até com alguma velocidade, recuperar um futebol condizente com o investimento feito, a qualidade dos jogadores e a história desse grupo. Rápido o bastante para brigar pelo Brasileirão? Improvável. Mas rápido o bastante para garantir o G4 e ter um time forte e organizado para 2024? Nisso com certeza é possível acreditar.