Flamengo agora lamenta Lei do Mandante e valoriza Globo

09/04/2024, 07:58
Atualizado: 09/04/2024
Para defender aprovação de contrato menos vantajoso do Flamengo com a Globo, gestão Landim muda radicalmente de discurso em reunião do Code

Em 2020, o Flamengo fez lobby pesado pela aprovação da MP do Mandante, que chegou a ser apelidada de “MP do Flamengo” depois que ela foi editada após uma reunião dos presidentes Rodolfo Landim e Jair Bolsonaro em Brasília. Um dos argumentos na época era que a lei daria liberdade para o clube negociar seus próprios jogos, livrando-o da dependência da Globo.

Ontem, na reunião que aprovou o novo contrato com a Globo para transmissão do Campeonato Brasileiro, economicamente muito menos vantajoso que o anterior, o Flamengo citou a Lei do Mandante como uma das principais mudanças de cenário em relação a 2016, quando o contrato anterior foi negociado, que justificava as piores condições.

Conselho do Flamengo aprova novo contrato com a Globo

O vice-presidente de Marketing Gustavo Oliveira disse que o valor por jogo do Flamengo no contrato aumentou, já que agora o clube só negocia 19 e não mais 38 jogos, e ao mesmo tempo disse que os adversários agora podem vender jogos do Flamengo.

Ele defendeu o acordo coletivo com a Libra argumentando que chegou a haver risco de o Flamengo ser isolado e os outros 19 clubes venderem todos os jogos do Flamengo como visitante, o que deixaria o Flamengo numa posição muito delicada para negociar.

Questionado por conselheiros sobre o apoio do Flamengo para a mudança da legislação, Gustavo se recusou a discutir o assunto.

Flamengo agora diz que patrocinadores fazem questão da Globo

Em relação à Globo, o Flamengo agora diz que seus patrocinadores e os anunciantes das placas publicitárias consideram indispensável estar na Globo e fazem essa exigência ao assinar os contratos. Em 2020, o clube se recusou a assinar o contrato do Campeonato Carioca com a Globo e acabou fazendo a empresa desistir de transmitir a competição. A última final de Campeonato Carioca transmitida pela Globo teve 35 pontos no Ibope. Já Flamengo e Nova Iguaçu teve picos de menos de 20 e média na casa dos 13 pontos.

O Flamengo também mudou o discurso sobre a possibilidade de transmitir suas próprias partidas: a experiência com o MyCujoo, que transmitiu uma partida do Campeonato Carioca de 2020, foi qualificada mais de uma vez como “desastrosa” na reunião de ontem do Code, Na ocasião da partida, uma nota do Flamengo, embora reconhecendo problemas no acesso dos torcedores, exaltou o “sucesso de uma transmissão completa” e disse que a transmissão por conta própria se mostrou “um modelo importante para os clubes brasileiros”.

Outro ponto no qual a gestão do Flamengo tentou reescrever a história ou contar com o esquecimento dos conselheiros foi quando um sócio questionou sobre a ausência de cláusula de rescisão no contrato assinado pelo Flamengo. O vice-presidente jurídico Rodrigo Dunshee de Abranches respondeu que na verdade o Flamengo assinou uma proposta que prevê a assinatura de um contrato definitivo em seis meses. Caso esse contrato definitivo não seja assinado, a proposta passa a valer como contrato.

Dunshee então afirmou que em 2016 isso acabou acontecendo e a proposta inicial acabou sendo o contrato, mas disse que o Flamengo “nunca teve problema com a Globo”. Só que em 2020 o clube entrou na Justiça contra a emissora, acusando-a de enriquecer às custas do Flamengo ao tirar jogos da TV aberta e concentrá-los no pay per view.

Curiosamente, a reunião de ontem começou com um discurso do vice-presidente de Marketing questionando as “narrativas” que tinham sido criadas em torno do contrato nos grupos de conselheiros do Flamengo. Na sequência, ele e a diretoria, com o auxílio do CEO da Libra, Silvio Mattos, que participou da reunião, passaram mais de uma hora construindo a sua própria narrativa – que o cenário do futebol mudou e que neste cenário o Flamengo jamais conseguiria igualar o contrato anterior. Por isso, segundo eles, não é possível falar em perdas de R$ 80 milhões por ano com a assinatura do contrato juntamente com a Libra, já que esse dinheiro não estaria disponível em nenhum modelo.

O discurso conseguiu convencer a maioria dos conselheiros presentes (218 dos 374 votantes), mas a quantidade de votos negativos foi expressiva para uma reunião do Conselho Deliberativo, onde a maioria das aprovações costuma acontecer por unanimidade ou quase aclamação. Foram 149 votos contrários e sete abstenções – na semana passada o contrato do BRB foi aprovado com apenas cinco votos negativos.


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André Antunes
Autor
28 anos, jornalista formado na FACHA. Sou apaixonado pelo Flamengo e esportes em geral, mas com foco no futebol e basquete.