'Flamengo é uma potência do futebol feminino': Entrevista com Vitor Zanelli, vice-presidente da Base
Vitor Zanelli, vice-presidente da Base e do Futebol concedeu entrevista a Beatriz Andrade e Lucas Alonso, administradores da página CRF Feminino e colaboradores do MundoBola Flamengo.
O dirigente falou sobre a estrutura física da base feminina rubro-negra e de manter o ideal de que craque o Flamengo faz em casa também com as meninas.
Há apenas alguns dias da eleição para presidente, o VP fez o balanço dos resultados da sua gestão, assim como revelou o planejamento para o futuro, caso a Situação, caso Dunshee vença o pleito marcado para o dia 9 de dezembro.
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Zanelli aponta uma mudança de patamar do Futebol Feminino na Era Landim: "Saiu de um ambiente onde praticamente não existiam contratos profissionais a ter um ambiente inteiramente profissionalizado, em nível de comissão técnica, staff do clube e atletas, passando de uma folha anual de 150 mil no início da gestão para 13 milhões atuais".
Perguntado sobre os desafios enfrentados, Zanelli destacou que a captação nacional na Base do Flamengo e contratos de formação causaram "uma revolução no mercado". Também ressalta o papel fundamental do Flamengo nos novos contratos de direitos de transmissão firmados:
"Permitiram aos clubes mandantes transmitir suas partidas, valorizando a modalidade", e isto teria consequências positivas "no âmbito esportivo, criando identidade e um hábito de assistir as partidas, quanto no âmbito comercial, entregando conteúdo para os parceiros do clube. Lutamos sozinhos por algo de benefício não somente do Flamengo, mas também do futebol brasileiro, um marco relevante de ser registrado".
A entrevista foi concedida através de aplicativo de mensagens, com perguntas e respostas enviadas por texto.
Qual é a estrutura física da base do futebol feminino do Flamengo?
O Flamengo, na gestão Landim/Dunshee, sempre investiu muito em estrutura de qualidade para todas as modalidades, e agradeço muito o grande investimento realizado e já prometido de ampliação para o próximo ano no Futebol Feminino!
Ao longo desses 6 anos de nossa gestão, transformamos o Futebol Feminino buscando sempre a excelência em tudo. Sempre. Tanto em estrutura física (predial, equipamentos, campos etc.), quanto em estrutura humana, de pessoal... temos profissionais qualificados em todas as áreas (fisioterapia, preparação física, técnica, scout, análise, psicologia, assistência social etc).
Além de projetos de captação com profissionais dedicados em todo o Brasil juntamente com o projeto de núcleos formadores associados ao Flamengo com parcerias de grandes empresas em fomento do Futebol Feminino. Aliás, acredito que somos hoje o maior clube fomentador do Futebol Feminino no País. E com a melhor estrutura de base também.
Um pouco da história da gestão de base no feminino nesses últimos anos. Como você faria um balanço?
Com a filosofia “Craque o Flamengo faz em casa”, a gestão do clube passou a aplicar também na categoria feminina e passou a investir bastante na formação para poder colher frutos no futuro. Toda essa estruturação passou pela contratação de profissionais qualificados, aumento de infraestrutura para as atletas e investimento em marketing e captação.
O projeto de futebol de base rubro-negro no futebol feminino começou em 2019, mais precisamente em junho, com a primeira peneira da categoria Sub-18 e, consequentemente, a assinatura dos contratos das jovens aprovadas. Por lá já estavam a volante Letícia e a meia-atacante Mariana, até hoje no clube.
Cabe frisar que, num primeiro momento, a ideia era mesmo arrumar a casa, entender. E fazer algo que orgulhasse a torcida do Flamengo. Foram feitos estudos para compreender todo o funcionamento da modalidade, em nível de estrutura, de parte comercial, jurídica, a fim de entregar o melhor resultado, afinal, a Nação é exigente e não dava pra entregar algo de qualquer jeito. O futebol feminino precisava de carinho, de apoio, de investimento.
Portanto, hoje, o clube colhe o fruto de ter feito um projeto ambicioso, por ter buscado patrocinadores e parceiros, investido em material humano e em estrutura e, também, captado atletas condizentes com o DNA Flamengo. Isso foi trabalhado incansavelmente ao longo de todos esses anos.
Mariana Fernandes, representante de uma geração promissora. Foto: Divulgação / Flamengo
E os resultados, qual o balanço feito?
A coroação do trabalho veio no dia 17 de dezembro de 2023. Com a geração que participa ativamente de todo o processo de formação há anos, o Mais Querido conquistou a primeira edição da Copinha de forma invicta.
Em 2024, mais etapas de todo o projeto - traçado lá em 2019 - foram cumpridas. A temporada de seleções começou cedo. O Brasil se sagrou campeão Sul-Americano Sub-20 com a presença da volante Letícia - aprovada na PRIMEIRA peneira do clube.
Posteriormente, o Flamengo foi a instituição que mais cedeu atletas para a Seleção Sub-17 disputar o Mundial da categoria: CINCO no total - O trio já citado ganhou a companhia das laterais Emilly e Isabela Nunes.
No âmbito esportivo do clube, um ano de ouro. Com uma mescla de atletas, o Rubro-Negro conquistou o título Carioca Sub-20 - novamente sem perder um jogo -, em cima do Fluminense em dois jogos.
Em mais uma etapa, com uma nova coroação – que veio com o Campeonato Brasileiro. Após uma boa campanha na primeira fase, o Flamengo bateu de frente com o São Paulo nas quartas de final, na semifinal contra o Internacional e a final com o Botafogo.
E pra completar, em 2024, o Campeonato Brasileiro sub-20, com uma sonora vitória por 7 x 0 no Botafogo, coroando um trabalho de excelência feito na categoria, além de algumas atletas que já estão servindo ao profissional, como a Núbia, titular no título do campeonato estadual profissional diante do Fluminense.
E o planejamento, sobre o que foi feito e o que ainda precisa?
O planejamento sempre foi conquistar títulos grandes a partir de 2023 e isso aconteceu. O Flamengo hoje é uma potência dentro do futebol feminino. Afinal, conquistou tudo que podia nas categorias de base e tem cada vez mais atletas atendendo o elenco profissional.
A ideia, daqui pra frente, é cumprir mais etapas do projeto. Há novas fontes de receitas a serem exploradas, o foco em conquistar novos títulos e seguir fazendo do futebol feminino um grande produto pra atrair novas marcas, novos parceiros comerciais.
O slogan "craque o Flamengo em casa" se faz presente desde então, afinal, o objetivo principal sempre foi revelar para abastecer a equipe profissional, além da conquista de títulos. A ideia sempre foi a longo prazo e os frutos estão sendo colhidos - vale ressaltar que nem mesmo o cenário pandêmico atrapalhou toda estruturação.
Em 2020, as jovens Kaylane e Maria Peck começaram a figurar no profissional. Foram as primeiras a vestirem o Manto. É bom frisar, também, que a convocação de atletas para as seleções de base começaram durante essa época e só cresceram desde então.
Com a ausência de competições em 2020, 2021 foi um ano crucial e a transição de Meninas da Gávea da base para o Profissional seguiu como um dos pontos fortes do planejamento do clube pra modalidade. Nesta ocasião, o clube fez uma campanha boa no Brasileirão - à época Sub-18 - e subiu imediatamente seis.
Foi um ano de alto investimento nas categorias de base e muitas convocações para a Seleção.
A chegada de 2022 trouxe a continuidade da consolidação como potência após a criação do calendário da CBF para o Sub-20. Com um time muito forte, o Flamengo foi semifinalista do Campeonato Brasileiro da categoria, venceu um torneio profissional (Unifoot Diamante Pró) e teve várias meninas figurando mais dentro do elenco principal.
Dentro de todo esse processo, a volante Cris foi capitã da Seleção na conquista do Sul-Americano. Logo depois, ela e Kaylaine Jr estiveram na melhor campanha do Brasil na história do Mundial Sub-20, com a medalha de bronze.
Na reta final, o título da Brasil Ladies Cup conquistado de forma invicta.
O forte investimento com grandes nomes foi alinhado com o crescimento e evolução de jovens talentos. Entre 2022 e 2023, o clube montou uma rede de monitoramento de núcleos parceiros.
Daí saíram atletas mais novas, que hoje já são bem conhecidas atualmente, como a zagueira Sofia, a lateral-direita Emilly, a volante Larissa e a meia-atacante Kaylane Vieira. A captação dessas meninas é peça chave em todo sucesso do projeto.
O ano de 2023 foi um divisor de águas. Logo em abril, o profissional se sagrou campeão da Copa Rio e as meninas da base participaram ativamente de toda a campanha. O segundo jogo da competição foi jogado somente pelas atletas do Sub-20.
A captação, citada acima, possibilitou a participação em competições com faixa etária mais nova. E foi assim que o Flamengo conquistou a Copa Rio Sub-17 de forma invicta no formato de pontos corridos: cinco vitórias e um empate.
Flamengo comemora título da Ladies Cup em 2022. Foto: Rodrigo Corsi / Agência Paulistão
Saindo um pouco do campo e entrando no extracampo, como foi feito o planejamento econômico e administrativo pra modalidade?
A mudança de olhar do Flamengo em relação ao futebol feminino começa a partir de 2019, com a nova gestão Landim/Dunshee.
Com o entendimento de como funcionava a modalidade, o clube partiu para primeiramente criar categorias de base, algo que até então, não existia. E, claro, a transformar o futebol feminino em produto para atrair novos parceiros e gerar receitas para ter times competitivos e entrar de vez como potência no cenário nacional.
Em 2021, o planejamento ganhou força, o projeto foi apresentado a grandes parceiros, que compraram a ideia, acreditaram no objetivo do Flamengo em transformar o futebol feminino e investiram.
Uma das principais bases foi a divulgação. O clube passou a ter os jogos transmitidos pela FlaTV, como uma forma de aproximar a modalidade do torcedor, criar uma identidade e ter entregas comerciais.
A contratação de grandes nomes para o elenco profissional de 2021/2022 em diante alavancaram o projeto e, além de tornarem o Rubro-Negro uma grande potência, serviram de chamariz para cada vez mais atletas novas escolherem seguir no Flamengo para ter a chance de estarem perto de referências. Outro ponto importante é quantidade de meninas de fora querendo vestir o Manto Sagrado.
Tudo foi planejado minuciosamente ao longo desses últimos anos. Hoje, o Futebol Feminino do Flamengo é praticamente autossustentável, tem grandes parceiros ao lado e fomenta a modalidade em todo o país. O Rubro-Negro - sempre comprometido com o crescimento da modalidade - começou a apoiar projetos exclusivos de Futebol Feminino.
E quais os resultados dessa mudança de patamar?
O clube saiu de um ambiente onde praticamente não existiam contratos profissionais a ter um ambiente inteiramente profissionalizado, em nível de comissão técnica, staff do clube e atletas, passando de uma folha anual de 150 mil no início da gestão para 13 milhões atuais.
Isso ocorreu através do sucesso do planejamento e da execução feita junto a seus parceiros comerciais e leis de incentivo aplicadas na modalidade, de forma autossustentável, permitindo contratações de peso, investimentos na estrutura não só física, mas também de profissionais qualificados no cotidiano (preparação física, fisioterapia, entre outros) e renovações de contratos de atletas importantes, mais recentemente da Jucinara e da Cristiane, por exemplo, conseguindo não só atrair, mas como manter um elenco qualificado e competitivo.
E já adianto que para 2025 teremos novidades, tanto no elenco quanto de estrutura. Pois sempre estamos buscando algo maior, sempre em busca do topo.
E os desafios que foram superados? Afinal, o clube sofre com pressão constante em todas as modalidades.
Flamengo visou alterar o paradigma do futebol feminino, no início, buscamos uma forte captação nacional na Base e com mecanismos mais profissionais como contratos de formação – o que causou uma revolução no mercado, ocasionando os demais clubes a também adotarem práticas semelhantes (para se proteger).
Contratos profissionais de duração mais longa – o que permitiu inclusive vendas de atletas para o estrangeiro, gerando um ciclo virtuoso e auxiliando na autossustentabilidade do negócio e também evitando constantes desmanches do elenco e permitindo a manutenção da competitividade do clube.
Um exemplo importante de desafio superado a ser citado são os direitos de transmissões, antes exclusivos e que ocasionavam os famosos “apagões”, o que hoje, graças aos esforços unicamente do Flamengo, com um posicionamento jurídico muito bem estruturado capitaneado pelo Rodrigo Dunshee e o Presidente Rodolfo Landim, permitirem aos clubes mandantes, a partir daquela conquista, transmitir suas partidas, valorizando a modalidade – tanto no âmbito esportivo, criando uma identidade e um hábito de assistir as partidas, quanto no âmbito comercial, entregando conteúdo para os parceiros do clube.
Lutamos sozinhos por algo de benefício não somente ao Flamengo, mas também ao futebol brasileiro, um marco relevante de ser registrado.
Nestes anos, também tiveram polêmicas, como processos de atletas que passaram pelo clube e que gestão teve que lidar, como enxergou isso, em um ambiente onde são constantes as notícias de atrasos salariais, não cumprimentos de cláusulas contratuais no futebol brasileiro? O Flamengo cumpre suas obrigações?
Sobre este assunto, é importante pontuar que o clube como um todo, desde 2013, mantém em dia todos seus compromissos assumidos de forma religiosa, sem atrasos ou desrespeito as cláusulas assumidas.
Sobre os processos na justiça, estes estão entregues ao jurídico, onde o clube apresentou sua defesa, seguindo o devido processo legal, obtendo êxito nas instâncias e alguns estando em fase recursal, mas em respeito, o clube não comentará casos individuais, respeitando a imprensa e o judiciário naquilo que cabe a cada um.
E qual o legado que a sua gestão entrega depois de seis anos?
O clube hoje consegue ter capacidade de formação, captação, retenção de talentos e investimento, tanto no âmbito das categorias de base quanto no âmbito profissional, além de tirar do papel o projeto “Cidade do Futebol Rubro-Negro”, visando a construção de um Centro de Treinamento profissional para a categoria, além de um intercâmbio constante com a estrutura já disponível do clube no Ninho do Urubu, com o que se tem de melhor no país.
Clube campeão de tudo nas categorias de base, além de manter a hegemonia no campeonato carioca profissional, com seu octacampeonato, campeão da Ladies Cup, virando referência no futebol feminino brasileiro.
Tivemos como marco a profissionalização total dos processos do clube na modalidade, as garantias do direito de transmissão, inter-temporada na Europa, levando a marca Flamengo a outros mercados, enfrentando clubes como o Real Madrid, além de avanços estruturais importantes e consolidação da marca no Futebol Feminino Nacional.
E o que faltou?
Como sempre falo, o sonho é conquistar tudo, ver o Flamengo no topo…
A Nação pode ter certeza de que, na continuidade de nosso projeto para a aproxima gestão, vamos trabalhar e lutar muito por todos os títulos que disputarmos e temos como grande objetivo a conquista da Libertadores.