Blog Mengo, Logo Existo | Léo Leal — Mesmo ambientados e acostumados à agonia, ela mantém marcante sua presença. Nem a rotina recente de finais felizes nos torna imunes a contagens regressivas intermináveis. Resistimos, mas não somos de ferro.
O gol de Pablo não havia definido o jogo, ainda. Mas foi a certeza que o único caminho viável era a rede de Cássio não balançar pelos lados do Guaíba.
O tal do tempo é relativo e tem vontade própria. Se ele voava no Morumbi, passou a rastejar a partir do momento em que jogamos a toalha por ali e dedicamos o último gás a secar qualquer ação de vermelho no Beira-Rio.
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Ele também é enigmático. A exatidão dos números se torna fachada. Nem o relógio é capaz de dimensionar se essa epopeia foi maior que a vivida em Montevideo a partir do mesmo minuto em que Pará era expulso e a LDU abria o placar contra o San José.
Nunca saberemos o tamanho da eternidade.
Situações diferentes, sim. A parte final no Uruguai dependia de nossas próprias forças. Lá, corríamos fugindo da tragédia; aqui, buscávamos o deleite. Seria também trágico não chegar. Assim como aquela escapatória em 2019 nos levou posteriormente à maior das glórias.
Um time vencedor ainda se formava quando pisamos no Campeón Del Siglo e temíamos o desmonte emocional antes de qualquer celebração. No Morumbi, com o coração à beira de um rio, o esquadrão já multicampeão e sem forças pra virar o jogo buscava a hegemonia com a mesma prioridade.
Enquanto a tela se dividia e Edenilson corria rumo a abraços imaginários na arquibancada, um remate carbonero resvalava na perna de Renê. Em algum plano paralelo, o atleta colorado ainda celebra antes da bandeirinha balançar e a bola percorre a pequena área de César, que só olha.
Os amargurados, cansados e obsessivos daquela peleja em 2019 são os mesmos mal acostumados do início de 2021 que ainda não substituiu 2020. E se muitas esperas chegaram ao fim, certo Peñarol x Flamengo ainda aguarda seu apito final enquanto o Internacional não para de chuveirar a área corintiana.
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Não adianta dependermos de Vitinho sozinho com o goleiro, nem do Jô alcançar a bola. César, Cássio, Renê e Gil precisam fechar a casa por nós.
Certos compactos de melhores momentos não precisam do play. Teme-se a tormenta alterando a realidade, desenhando outro fim.
Ou será que o nosso mundo é o distorcido?
Segue o pesadelo, seguimos acordando.
Gozemos do privilégio de estar no plano onde o último apito já foi soado.
Seguimos nossos sonhos, pela segunda ou oitava vez.
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