Desde 2019, todo ano um time “joga mais que o Flamengo de 2019”. Já foi o Palmeiras do Abel, o Atlético do Cuca e, no ano passado, em cada semestre, um time melhor que o Flamengo de Jorge Jesus. Primeiro foi o Botafogo, depois o Fluminense do Diniz. E agora, os caça-cliques, que veem na torcida do Flamengo uma enorme fazenda de engajamento, decidiram comparar o atual Botafogo com o Flamengo de JJ.
Eu entendo a euforia de quem vê seu time jogar bem pela primeira vez na vida. No entanto, é preciso ter calma. Certa vez, perguntaram a Pelé se ele achava que Messi poderia tomar seu lugar como o maior jogador da história. O Rei respondeu: “Antes de ser maior que eu, os argentinos precisam definir quem é o maior entre eles”.
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Desde então, Messi provou, de forma incontestável, por A + B, que é, sim, o maior jogador de todos os tempos. No entanto, ele só conseguiu isso porque teve conquistas que o credenciaram a ser visto (em quase todo o mundo, menos no Brasil) como o maior jogador da história.
Agora, surge a pergunta: qual conquista qualquer um desses times tem para gerar o mesmo efeito? Bom, nenhuma. E não estou me referindo apenas a títulos, embora eles também façam parte dessa análise. O que realmente conta são as marcas.
Por exemplo, a marca de ter vencido o campeonato com 90 pontos, com DEZESSEIS pontos de vantagem para o segundo colocado, que, por sua vez, fez uma pontuação digna de campeão.
Além disso, temos a marca de ter goleado por 6 a 1 no agregado contra um dos times mais valorizados do país na época, em uma final de Libertadores. E não podemos esquecer a marca de, em 8 meses, conquistar mais títulos do que derrotas.
Não há parâmetro objetivo algum que sustente a afirmação de que esse Botafogo (ou seus antecessores, na tentativa de desafiar o campeão) se aproxima do Flamengo de Jesus. Na verdade, uma simples comparação dos 11 titulares desfaz qualquer dúvida nesse sentido. Ignorando os jogadores que ganharam corpo com aquele 2019, como Gabigol, Gerson, Bruno Henrique e Pablo Marí, vamos observar apenas os jogadores consolidados: Diego Alves, Rafinha, Filipe Luís, Arrascaeta, Everton Ribeiro.
Tentar convencer alguém de que um time que conta, no lugar desses aí, com John, Vitinho, Alex Telles, Savarino e Almada, é uma piada. Como já mencionei em um texto recente, o Botafogo tem um bom time, bem treinado, que o coloca em condições de disputar títulos. Contudo, devemos lembrar que há um patamar superior. Em outras palavras, o futebol brasileiro tem outra dimensão.
É nesse outro patamar que o Flamengo de JJ habita. Aos outros times, resta comemorar o fato de terem sido desafiantes que, ao longo da competição, lutaram até o fim, como o protagonista de Rocky no primeiro filme. Seu maior mérito, de fato, foi ter chegado onde chegou. Porém, ainda não é páreo para o Flamengo de 2019. A nós, que vivemos aquele período, resta manter a lembrança do que foi o Flamengo de 2019: o melhor futebol do Brasil no século XXI.