Marcos Paulo Neves: Sem revisionismo! O Flamengo é (e sempre foi) campeão mundial de clubes
De tempos em tempos nos deparamos com análises e visões deturpadas sobre o futebol de antigamente. Por esse motivo, acho importante tratar de determinados assuntos de maneira clara e didática, com objetivo de combater possíveis revisionismos que ocorrem tanto por falta de informação, quanto por má fé.
Um exemplo disso é encontrado na diminuição do Mundial conquistado pelo Flamengo. A falta de compreensão do contexto da época não dimensiona o motivo da realização do então Torneio Continental e sua importância para o futebol em nível Mundial.
Por isso, o objetivo desse texto e dar um breve panorama histórico do torneio e da conquista do Flamengo em 1981.
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O início da Copa
A Copa Intercontinental foi um torneio criado em parceria entre a UEFA e a Conmebol. Entre 1960 e 1979 o modelo de disputa consistia em uma final em dois jogos disputada entre o campeão da Liga dos Campeões e o campeão da Libertadores.
Em 1980, o torneio, vindo de uma desvalorização oriunda principalmente dos europeus, passou a ser organizada pela Associação de Futebol do Japão, sob supervisão das duas autoridades já mencionadas. Essa forma de disputa seguiu até 2004, quando o torneio passou a ser organizado exclusivamente pela FIFA.
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Na primeira edição, disputada entre Real Madrid e Peñarol, o clube espanhol foi campeão em pleno Santiago Bernabéu goleando os uruguaios pelo placar de 5×1. Já era possível ver jornais brasileiros se referindo ao torneio como um Mundial, como destacado no Jornal dos Sports do dia 05/09/1960.
E isso não era só no Brasil. O Diario AS, jornal espanhol, também destacou o torneio como uma conquista Mundial.
Portanto, o torneio foi criado e plenamente difundido como um torneio Mundial. Porém, é sabido que o torneio não tinha até então a oficialização da FIFA como um torneio Mundial, sendo considerada pela entidade uma “Copa Europeia-Sul-Americana amistosa”.
Entretanto, isso não mudou a nomenclatura dada pela cobertura midiática, que via na realização contínua do torneio, aliado a uma pré condição para ser disputado (o título continental dos participantes) algo que legitimasse o nível Mundial da competição.
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A partir da segunda metade da década de 1960, se percebeu um grande desinteresse vindo dos clubes europeus para participar da competição. Nas edições 1971, 1973, 1974, 1977 e 1979 o clube campeão europeu se recusou a participar dos jogos, sendo substituído pelo vice campeão.
Debatia-se na Europa a viabilidade de se deslocar até a América para disputar um torneio considerado inferior por muitos no continente, deixando o torneio a beira da extinção. Porém, a solução encontrada foi adotar o modelo de final única, disputada no Japão. Era iniciada a Copa Toyota.
A Copa Toyota
A nova roupagem do torneio veio através da determinação do Japão como palco da final e do patrocínio da Toyota, com objetivo de deixar o torneio mais atrativo financeiramente. Além disso, esperava-se faturar também com as vendas do direito de transmissão pela TV.
Na segunda edição dessa nova versão do Mundial, ficou marcado na história a memorável atuação contra o Liverpool, através da vitória de 3×0 no dia 13/12/1981. Vale destacar, novamente, que vários jornais trataram o evento da forma como foi: um torneio Mundial.
Volto aqui ao exemplo de que, internacionalmente, o torneio era também tratado como um Mundial. Isso é mostrado no escocês The Glasgow Herald, no dia seguinte ao jogo:
Em 2017, a FIFA reconheceu os títulos disputados entre 1960 e 2004 como Mundiais. O movimento foi simplesmente baseado no bom senso, uma vez que o torneio sempre teve essa intenção e roupagem.
Para nós, flamenguistas, é fundamental relembrarmos o dia que Zico, Adílio, Nunes e companhia conquistaram o mundo, nos possibilitando a honra de até hoje podermos nos considerar campeões mundiais.