Filipe Luís chega aos 50 jogos no comando do Flamengo e caminha para afastar o 'fantasma' de 2019

Atualizado: 27/06/2025, 14:19
Filipe Luís caminha no gramado do Ninho do Urubu

Ao completar 50 jogos no comando do Flamengo, Filipe Luís não apenas atingiu um marco pessoal, mas também despertou uma reflexão sobre o impacto do seu trabalho no clube. Seus números, consolidados no empate em 1 a 1 com o Los Angeles FC pela Copa do Mundo de Clubes, são notáveis: 33 vitórias, 14 empates e apenas três derrotas.

Filipe Luís e Kompany protagonizam embate à parte nas oitavas da Copa do Mundo de Clubes

Segundo um levantamento do portal "Fla Estatística", o aproveitamento de 75,3% é o terceiro melhor de um técnico do clube no século XXI, atrás apenas da passagem histórica de Jorge Jesus e de uma breve, porém eficaz, campanha de Joel Santana em 2005.

Superbet
Superbet
4/5
proPatrocinador do São Paulo e Fluminense.

Autorizada pela Portaria SPA/MF Nº 2.090, de 30 de dezembro 2024 | Jogue com responsabilidade +18 | Conteúdo Comercial | Aplicam-se os Termos e Condições.

No entanto, o sucesso de Filipe Luís vai além das estatísticas. Ele representa uma possível quebra em um ciclo de instabilidade que assombra o Flamengo desde a saída de Jorge Jesus, em 2020. Naquele período, o cargo de técnico do Rubro-Negro se tornou um dos mais voláteis do futebol mundial, com oito treinadores diferentes em menos de cinco anos. 

A sombra do "Mister" e do time avassalador de 2019 estabeleceu um padrão de exigência tão alto que nem mesmo títulos importantes foram capazes de garantir a permanência de nomes como Rogério Ceni e, principalmente, Dorival Júnior.

Jorge Jesus (2019-2020)

Qualquer análise sobre o Flamengo moderno precisa começar por Jorge Jesus. O técnico português transformou o time em uma força dominante. Em 58 partidas, ele acumulou 44 vitórias, 10 empates e apenas quatro derrotas, resultando em um aproveitamento de 81,6%.

O ataque marcou 132 gols (média de 2,28 por jogo) e a defesa sofreu 48 (média de 0,83), conforme dados do site "Ogol". Essa hegemonia se traduziu em cinco títulos de peso: Libertadores (2019), Brasileirão (2019), Supercopa do Brasil (2020), Recopa Sul-Americana (2020) e Campeonato Carioca (2020). Sua saída abrupta para o Benfica deixou um vácuo e um padrão de sucesso que se tornaria o fardo de seus sucessores.

Carrossel de sucessores

Domènec Torrent (2020) 

A primeira aposta para suceder Jesus foi o espanhol Domènec Torrent, ex-auxiliar de Pep Guardiola, contratado para implementar o "jogo de posição". Sua passagem, no entanto, foi curta. Em 24 jogos, teve 14 vitórias, 4 empates e 6 derrotas (63,8% de aproveitamento), mas a defesa sofreu 36 gols, uma média de 1,5 por partida. Goleadas sofridas para o Independiente del Valle (5 a 0) e Atlético-MG (4 a 0) selaram sua demissão sem conquistar títulos.

Rogério Ceni (2020-2021)

Contratado para trazer mais pragmatismo, Ceni conquistou o Brasileirão de 2020, a Supercopa do Brasil de 2021 e o Campeonato Carioca de 2021. Ele comandou o time em 45 jogos, com 23 vitórias, 11 empates e 11 derrotas. O ataque foi potente, com 86 gols, mas a defesa seguiu vulnerável, sofrendo 55. Apesar dos troféus, o time era visto como inconstante e Ceni nunca obteve o respaldo total da torcida, sendo demitido em meados de 2021 com 59,2% de aproveitamento.

Renato Gaúcho (2021)

Marcado na história do clube como jogador, Renato chegou com a missão de resgatar um futebol mais vertical. Seu aproveitamento foi excelente: 72% em 37 jogos, com 24 vitórias, 8 empates e 5 derrotas. Contudo, sua passagem ficou marcada pela derrota para o Palmeiras na final da Libertadores de 2021, o que tornou seu bom desempenho estatístico insuficiente para sua permanência.

Paulo Sousa (2022)

A diretoria voltou a apostar em um europeu, mas a passagem do português foi decepcionante, mesmo com bons números, com média de 1,84 gols por jogo e uma defesa com boa média de 0,91 g/j. Além disso, fez uma fase de grupos praticamente perfeita na Libertadores, com cinco vitória e um empate.

No entanto, enfrentou uma crise interna, com jogadores insatisfeitos e um ambiente conturbado no vestiário. Em 32 jogos, somou 19 vitórias, 6 empates e 7 derrotas (66,6% de aproveitamento), mas não levantou taças e foi demitido em junho de 2022. 

Dorival Júnior (2022)

Vindo de bom trabalho no Ceará, chegou para apagar o incêndio e teve sucesso imediato. Em 43 jogos, obteve 26 vitórias, 8 empates e 9 derrotas (67% de aproveitamento), com 77 gols marcados e apenas 35 sofridos. Ele pacificou o elenco, encontrou uma formação com Pedro e Gabigol juntos e conquistou a Copa do Brasil e a Libertadores de 2022. Em uma decisão polêmica, a diretoria optou por não renovar seu contrato para a temporada seguinte.

Vítor Pereira (2023)

Sua contratação, vindo do rival Corinthians, foi controversa desde o início. A passagem foi um desastre. Em quatro meses, perdeu a Supercopa do Brasil, a Recopa Sul-Americana, o Mundial de Clubes e o Campeonato Carioca. Em 20 jogos, teve um aproveitamento de apenas 57,4% e foi demitido após a goleada sofrida na final do estadual para o Fluminense.

Jorge Sampaoli (2023)

O argentino chegou para tentar salvar a temporada, mas sua gestão foi marcada pelo caos tático, sofrendo muitos gols, e por uma grave crise externa, como a agressão de seu preparador físico ao atacante Pedro, episódio que, segundo o próprio Sampaoli, foi o "ponto final" de seu trabalho.

Foram 39 jogos, com 60% de aproveitamento, com 20 vitórias, 11 empates e 8 derrotas. Foi eliminado de maneira vexatória na Libertadores, para o Olimpia e vice-campeão da Copa do Brasil, sendo demitido em seguida.

Tite (2023-2024)

Contratado para trazer estabilidade, Tite foi o técnico mais longevo da era pós-Jesus. Em 70 jogos, obteve 42 vitórias, 12 empates e 16 derrotas, com 65,7% de aproveitamento. Foram 111 gols marcados (1,59 por jogo) e 51 sofridos (0,73 p/j).

Conquistou o Campeonato Carioca de 2024, mas seu estilo, considerado excessivamente cauteloso, nunca agradou à torcida, perdendo qualquer respaldo após a eliminação para o Peñarol na Libertadores. 

Sem extrair o melhor do elenco, que, com praticamente as mesmas peças, deslanchou com a chegada de Filipe Luís, foi demitido do clube no final de setembro de 2024.

Filipe Luís é a síntese perfeita?

O início de Filipe Luís como técnico profissional é, numericamente, o mais promissor desde Jorge Jesus. Além do aproveitamento de 75,3%, ele já conquistou três títulos: a Copa do Brasil de 2024, a Supercopa do Brasil de 2025 e o Campeonato Carioca de 2025.

Seu diferencial, porém, parece ser tático. Sua flexibilidade, variando entre esquemas como 4-2-3-1 e 3-4-3, e a implementação de um modelo que ele mesmo chama de "Jogo de Progressão".

Sua equipe une a intensidade na pressão, marca da era Jesus, com uma construção de jogo mais elaborada, algo que faltou em outras gestões. A vitória sobre o Chelsea na Copa do Mundo de Clubes foi uma aula tática e um recado pro mundo.

Aliado a isso, Filipe Luís é um ídolo incontestável, membro da vitoriosa geração de 2019, o que lhe garante uma paciência e confiança que nenhum de seus antecessores teve. A questão que fica é se o Flamengo, ao apostar em uma de suas lendas, finalmente encontrou o caminho para sair da sombra do "Mister" e construir uma nova era de conquistas. Os primeiros 50 jogos indicam que a resposta pode, pela primeira vez em muito tempo, ser afirmativa.