Favorito, Flamengo tem algumas lições a aprender com o Del Valle

21/02/2023, 08:54
Trabalho de base e outra lições que o Del Valle, adversário da Recopa, pode ensinar ao Flamengo

O duelo entre Flamengo e Independiente del Valle, pela Recopa Sul-Americana, vale muito para ambos no que se refere a título. Times de destaque no continente, Rubro-Negros e equatorianos vivem um abismo quanto ao poderio financeiro. Essa diferença, contudo, se ameniza diante de um trabalho de excelência e muito profissional realizado pelos “negriazul“, com nuances que o Mais Querido pode tirar proveito.

O Independiente del Valle ainda é um time novo, especialmente se for levado em conta a sua mudança de identidade e reformulação estrutural que passou em 2006. De lá para cá vem sendo um time que está sempre brigando por coisas importantes em seu país e na América do Sul, assim como o Flamengo. Sem tanto investimento, contudo, os equatorianos precisaram de uma metodologia bem definida visando o sucesso.

Nesse sentido, o Independiente del Valle tem característica que o próprio Flamengo pode aprender. Fora das quatro linhas, os confrontos pela Recopa podem ser a oportunidade para o Rubro-Negro reavaliar algumas decisões para diminuírem a margem de erro e buscar, de fato, um hegemonia.

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Para isso, contudo, precisa de um trabalho mais profissional em algumas áreas e tomadas de decisão.

Del Valle costuma ser criterioso na escolha dos seus treinadores

Nos últimos anos o Del Valle demonstrou ser muito criterioso na escolha dos seus treinadores. Entre uns e outros que saíram rapidamente do clube desde 2006, a maioria mantém trabalho longevo.

Alguns dos mais conhecidos foram:

  • Pablo Repetto, que ficou quatro anos (2012 a 2016) e levou o time à final da Libertadores;
  • Miguel Ángel Ramírez, campeão da Sul-Americana em 2019, quando a equipe jogava um futebol reconhecidamente bonito, que ficou um ano e meio até aceitar oferta do Internacional;
  • Renato Paiva, que conquistou o Campeonato Equatoriano em 2021 e ficou pouco mais de um ano até receber ótima proposta do León, do México;
  • Martín Anselmi, atual treinador que conquistou a Sul-Americana em 2022 e foi o auxiliar de Miguel Ángel Ramírez durante toda a passagem do espanhol pelo clube.

Apenas um dos citados superaram dois anos de comando. As saídas, contudo, não foram por demissão ou desconfiança pelo trabalho. Todas as situações envolveram contratos maiores que acabaram por persuadir os treinadores a deixarem o projeto.

As escolhas, no entanto, seguem um padrão. Enquanto o Flamengo demite e contrata treinadores sem critério quanto ao estilo de jogo, perfil e personalidade, o Independiente del Valle zela por nomes que tenham estilo de jogo agressivo e, especialmente, acostumados a trabalhar em categorias de base com transição e formação de novos talentos.

O jovem Martín Anselmi é o atual treinador do IDV (Foto: Hernan Cortez / Getty Images)

Adversário do Flamengo trata as categorias de base como seu bem mais precioso

A preferência por treinadores com vivência e experiência no trabalho com jovens demonstra como as categorias de base são importantes para o Del Valle.

Com uma estrutura que faz inveja para absoluta maioria dos clubes da América do Sul, o clube entendeu que a formação de atletas era o caminho para um bom retorno esportivo e financeiro. O clube costuma mesclar a sua talentosa juventude com atletas experientes e enxerga sempre a sua base como solução antes de mais nada.

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Somente nos últimos sete/oito anos, o clube, que busca o título da Recopa, fez ótimas vendas após diversos jovens se mostrarem ao mundo atuando no time principal.

Nomes como os de Cazares, Sornoza, Orejuela e Luis Caicedo, que já atuaram no Brasil, ou foram revelados ou surgiram ainda jovem no Independiente del Valle. Outros como o de Angelo Preciado, que já marcou gol no Flamengo e hoje é alvo do clube, não atuou em solo canarinho mas também é conhecido.

Desde sua primeira venda milionária, na temporada 2014-15, o clube arrecadou mais de 50 milhões de euros com vendas de atletas da base. Pouco em relação a um Vinícius Júnior da vida, mas muito considerando os rivais e o nível de vitrine que o Equador ainda é.

Isso, contudo, está mudando. Especialmente após a seleção equatoriana disputar uma Copa do Mundo com metade dos jogadores sendo revelados ou com passagem de destaque pelo Del Valle, o que demonstra o bom trabalho com a base.

Metologia de trabalho é outra chave do sucesso

Treinadores longevos e com perfis semelhantes e base como solução… Nada disso seria tão exitoso se o Independiente del Valle não tivesse uma metodologia de trabalho bem definida.

O adversário do Rubro-Negro na Recopa sabe qual é o seu DNA e busca jogar de um jeito específico em todas as suas categorias. Categorias e base e profissionais, jogadores, comissão técnica e torcedores trabalham em uma simbiose típica do que é visto nos gigantes europeus e coisa que o Flamengo se compromete a fazer e não faz.

Time, diretoria e torcedor do Del Valle estão em simbiose pelo DNA do clube (Foto: Hernan Cortez)

É trabalhando dessa maneira que o clube, muito antes de ir ao mercado em busca de reforços, saberiam qual jogador de base é o principal talento para função A ou B e não subiria garotos que não se encaixam no perfil de jogo, destruindo os primeiros passos de um jovem atleta no profissional por pecar em sua transição.

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O Flamengo, é verdade, cada vez mais tem formado grandes talentos. Mas dos últimos, poucos foram tratados como soluções no elenco principal. A torcida, pelo contrário, conseguiu antecipar alguns deles e, se a diretoria olhar bem, segue fazendo o mesmo.

Por isso, profissionalizar o trabalho e criar uma metodologia e filosofia únicas e que toma conta do sub-9 ao profissional é o caminho para o Flamengo se tornar, de fato, hegemônico no continente. Algo que um vizinho próximo pode ensinar.

Flamengo e Del Valle entram em campo nesta terça-feira (21), às 21h30, pelo jogo de ida da Recopa Sul-Americana.


Lucas Tinôco
Autor

Acima de tudo Rubro-Negro. Sou baiano, tenho 28 anos e cursei Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Além do MRN, trabalhei durante muito tempo como ap...