Por Flávio Prevot
Em recente entrevista, o vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz, afirmou: “Acho que o fantasma do Jorge Jesus vai assombrar o Flamengo por muito tempo. Não só sobre o Rogério Ceni, mas outros técnicos também.”
Braz inquestionavelmente é um dirigente vencedor, mas acho que se engana ao dar corda para esse lugar-comum enchedor de linguiça sobre a figura vitoriosa de alguém se transmutar num fantasma do clube.
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Ora, o sucesso geralmente se constrói com talento, muito trabalho e sorte. Jorge Jesus reunia em si dois desses ingredientes citados, recebendo o terceiro – a sorte – dos sempre soberanos deuses do futebol. Ademais, contava com a estrutura de um clube organizado, atletas de excelente nível e a vibrante e apaixonada maior torcida do Brasil.
Receita pronta, o Flamengo sob o comando de JJ foi o dono de um futebol vistoso, um rolo compressor de adversários e recordes no ano de 2019. O português conseguiu a façanha, vejam só, de ter mais títulos do que derrotas em 1 ano de trabalho no Rubro-Negro.
Pois bem, o ano de 2019 se foi, o de 2020 também passou, Jesus foi para além-mar, contudo o Flamengo continua sua indelével vocação para a vitória. Não com o mesmo brilho de quando a equipe estava sob a batuta do gajo.
Porém, a questão que se coloca é: o excelente trabalho do Portuga, e ele mesmo, se transformaram em fantasmas para os futuros treinadores do Flamengo?
Eu, sinceramente, não acredito nisso!
Se a figura de sucesso de outros que passaram pelo clube se converte em fantasma, ou seja, num elemento negativo de pressão a assombrar os profissionais que virão a seguir, sejamos sinceros, como alguém conseguiria jogar na lateral-direita do Flamengo depois de Leandro?
Ou como alguém sobreviveria depois de vestir a camisa 10 que já foi de Zico? Impossível o sujeito permanecer são, após ser aterrorizado pelo ectoplasma de Quintino.
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Um clube com a história do Flamengo, que almeja se tornar cada vez mais poderoso em nível nacional e internacional, deve rechaçar essa conversa de que seus personagens vitoriosos e talentosos, em determinado momento, se convertem em espíritos zombeteiros prontos a sacanear quem se atreve a fazer-lhes frente.
O Flamengo tem sede de vitórias, busca isso incessantemente. Somos um clube de história! Atraímos gente de talento com gana de vitórias: somos, portanto, uma casa mal assombrada? Quem veste rubro-negro e representa mais de 40 milhões de torcedores já tem sobre si toda pressão necessária para um bom susto.
Fantasmas são derrotas, fracassos, descensos, chute de canela, frango de goleiro, gol contra…
O trabalho de Jorge Jesus se tornou um paradigma, um alvo a ser alcançado por outros, assim como foi a equipe de 1981 e a recente equipe de 2019. E todo profissional de excelência que quer envergar com louvor nossas cores deveria ser entendido como um bom modelo a ser seguido, como um candidato a constar no panteão do Mais Querido do Brasil ao invés de servir de espectro aterrorizante!
Então, Braz, esquece esse papo! Essa história de terror na qual nossos ídolos e personagens são nossos próprios fantasmas não me parece boa! Como diria Padre Quevedo: isso não “ecziste”!
O Flamengo não assombra os seus! O Flamengo existe para assombrar os adversários!