Executivo de marketing espalha fake news sobre Flamengo e Globo
Enquanto o Brasil discute a regulamentação das fake news, no futebol elas estão longe de ser novidade. Uma que já perdura há anos é o do papel da Globo para crescimento da torcida do Flamengo.
Mas, assim como as fake news políticas, as distorções sobre futebol são mais graves quando vêm de gente com suposto conhecimento de causa. No caso, Ricardo Fort, dono de uma agência de marketing esportiva e ex-executivo da Coca-Cola, importante parceira histórica do futebol brasileiro.
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Nacionalização da torcida décadas antes da criação da Globo
Em seu Twitter, Fort comentou nessa terça-feira (2) a notícia de que o Atlético-MG contratou o publicitário Nizan Guanaes para liderar um esforço de nacionalização da sua torcida.
“‘Nacionalizar a marca’ de um time de futebol é um briefing impossível. A @tvglobo levou décadas para fazer o @Flamengo um time com torcedores em todo o Brasil. Infelizmente, nem mesmo o gênio Nizan Guanaes resolverá esse problema”, comentou Fort.
Ocorre que a torcida do Flamengo já era nacional bem antes da fundação da TV Globo, em 1965, e do início das transmissões ao vivo de futebol para o todo país, na década seguinte. A nacionalização da torcida do Flamengo remonta à década de 1930 em um projeto comandado pelo histórico presidente José Bastos Padilha.
Entre outras medidas, Padilha contratou os principais jogadores brasileiros da época, Leônidas da Silva, Domingos da Guia e Fausto. A história foi fartamente documentada na tese que virou livro “Um Flamengo grande, um Brasil maior”, do historiador Renato Soares Coutinho.
“O trabalho tem como objetivo investigar os fatores que contribuíram para a popularidade e para a abrangência nacional do Clube de Regatas do Flamengo. O período analisado – 1933 a 1955 – foi marcado pela implantação do regime profissional no clube e pelo progressivo processo de fidelização de torcedores em todo território nacional”, diz a introdução da obra.
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‘Clube algum poderá fazer o que faz o Flamengo por onde andar’
Ajudado pelas transmissões da Rádio Nacional, que eram ouvidas em todo o país e por excursões do time para amistosos, o Flamengo já tinha legiões de torcedores Brasil antes mesmo da chegada da TV ao país, em 1950.
“Clube algum no Rio poderá fazer o que faz o Flamengo por onde andar. Isto é, ser em campo, nas pelejas que trava, não um clube de fora, mas um clube da própria terra que pisa. E se na Bahia joga com qualquer time local, haverá uma torcida flamenga para aplausos aos rubro-negros. E o mesmo acontecerá em Recife, em Porto Alegre, em Belém”, conforme escreveu José Lins do Rêgo no Jornal dos Sports em 1947.
A tese de Ricardo Fort, portanto, não resiste a uma simples pesquisa no Google.