Estádio do Flamengo: ofício de Paes é avanço, mas especialista alerta para entraves jurídicos

Atualizado: 24/07/2025, 16:18
Terreno Gasômetro Flamengo

O ofício publicado pelo prefeito Eduardo Paes nesta quarta-feira (23) foi visto como um passo positivo para a construção do estádio do Flamengo no terreno do Gasômetro. No documento, enviado ao presidente rubro-negro Luiz Eduardo Baptista, a Prefeitura assume a responsabilidade pela retirada da infraestrutura de gás que pertence à Naturgy e segue ativa no local.

Emerson Royal no Flamengo: lateral já tem data para chegar ao Rio; veja

O arquiteto e pesquisado Fabrício Chicca, especialista em projetos de arenas, considerou a medida relevante, mas com ressalvas. Segundo ele, o próximo passo fundamental é transformar o ofício em um decreto para ter validade legal e permita a atuação direta do município. "O documento apresentado é uma boa notícia, mas tem limitações. Ainda não possui valor jurídico", afirmou em publicação nas redes sociais.

Edital prevê que Flamengo pague pela retirada

Mesmo que o decreto seja publicado, um entrave maior continua em aberto. O edital da desapropriação do terreno estabelece que o Flamengo é o responsável pelo remanejamento da infraestrutura da Naturgy, incluindo os dutos de gás subterrâneos. O texto oficial da Prefeitura afirma que "o interessado deverá se responsabilizar por eventuais remanejamentos de redes de gás que se encontrem no terreno".

Para Fabrício Chicca, a manutenção dessa cláusula mesmo após a publicação de um decreto pode gerar um conflito jurídico. "A simples publicação de um decreto não resolve essa questão. Pelo contrário, pode abrir margem para uma ação pública contra o prefeito, por utilizar recursos em uma situação na qual o clube deveria arcar com os custos", avaliou.

Em entrevista ao MundoBola Flamengo em 2024, o advogado Rodrigo Rollemberg já havia alertado para esse risco. Segundo ele, como o edital previa que o clube deveria assumir os custos da retirada, qualquer mudança de entendimento sem respaldo legal poderia ser contestada pelo Ministério Público.

"O MP nunca iria deixar isso acontecer, pois envolve o dinheiro de todos os contribuintes do município. Como consta no edital que o pagamento deve ser feito pelo Flamengo, isso deve ser seguido. O prefeito não pode, de forma eleitoreira, assumir um gasto que não é da Prefeitura", disse Rollemberg à época. 

O advogado também destacou que o contrato de concessão da Naturgy segue válido até 2027, com possibilidade de renovação. Isso, segundo ele, dá à empresa direitos legais sobre o terreno mesmo após o Flamengo ter vencido o leilão.

Com isso, a análise de Chicca se baseia em um alerta que foi feito há meses: o impasse não é novidade e foi antecipado por especialistas.

Fabrício Chicca aponta caminhos para evitar problemas

Para Chicca, existem alternativas que permitiriam a participação pública sem que a Prefeitura precise arcar diretamente com os custos. Uma das soluções seria a concessão de isenções fiscais ao clube como forma de compensar o investimento na retirada da estrutura.

Outra possibilidade, mas depende de um processo com respaldo legal e transparência, seria o uso de recursos públicos com base em argumentos de interesse coletivo. Afinal, Eduardo Paes afirmou muitas vezes que o estádio do Flamengo é parte importante no plano da prefeitura para tornar aquele local uma área habitacional, projeto chamado de Reviver Centro. 

O especialista reforça que qualquer um desses caminhos depende de ajustes no edital. Sem isso, o projeto pode sofrer questionamentos jurídicos que atrasem ou até impeçam a construção do estádio. "A notícia é boa, mas tem suas limitações. É um pequeno passo, importante, mas ainda distante da solução definitiva que se espera", concluiu.


Compartilhe
Matheus Celani
Autor
Jornalista graduado no Centro Universitário IBMR, 23 anos, natural do Rio de Janeiro. Amante da escrita e um completo apaixonado pr futebol, vôlei e esportes olímpicos.