Especialistas questionam punição a Gabigol por fraude em antidoping
Gabigol recebeu suspensão por dois anos do futebol por suposta tentativa de fraude em exame antidoping, com um ano a ser cumprido na prática, até abril de 2025. O julgamento por um voto de diferença (5×4) e decisão por punição severa surpreendeu não só o atacante, o Flamengo e torcedores, mas também especialistas em justiça desportiva.
Em entrevista ao jornalista Rodrigo Mattos, do UOL, dois advogados apontaram o caso de Gabriel como difícil por não ter precedentes, mas fizeram questionamentos sobre os procedimentos do processo e o veredito. São eles: Maurício Corrêa da Veiga (presidente da comissão de Direito Esportivo do IAB) e Gustavo Caputo (auditor da Confederação Brasileira de Skate e professor da CBF Academy).
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Gabriel é acusado de dificultar a realização ao demorar para atender os oficiais de coleta, que teriam chegado ao CT às 8h40. Oficiais afirmam que, à exceção do atacante, todos atletas do Flamengo cumpriram as recomendações e fizeram o exame antes do treinamento. Além disso, alegaram que o pote de coleta não estava fechado corretamente. O resultado deu negativo para substâncias proibidas.
O entendimento da maioria do tribunal foi que Gabigol violou o artigo 122 do código antidopagem, fala em “fraude ou tentativa de fraude de qualquer parte do processo de controle”. A pena máxima é de quatro anos, mas pode cair para dois. O Camisa 10 foi punido com dois, contando desde abril de 2023, quando ocorreu o caso. Para Maurício Corrêa, no entanto, o processo deveria ocorrer sob sigilo, ainda mais por ser inédito, e tratou a divulgação dos dados durante o desenrolar como “precária” para o caso.
“Se tiver (caso como Gabigol), vai ser alguma coisa do CAS. No tribunal antidopagem, eu confesso que nunca vi com essas peculiaridades. Geralmente, em muitos desses casos, tem algum sigilo. Proteção de dados. A divulgação acaba sendo precária”, disse o presidente da comissão de Direito Esportivo do IAB.
Já Gustavo Caputo foi além e disse entender que não houve fraude durante o controle. Ele afirma que Gabigol errou ao esconder o pênis do fiscal enquanto urinava, algo que as regras determinam, mas classifica apenas como equívoco e não como passível de suspensão severa.
“Confesso que não sei nenhum caso que tenha uma situação análoga do Gabriel. É uma pena muito grande para quem não teve nada encontrado na sua urina. Não vi um indício de fraude. Com exceção de não ter mostrado a genitália. Não vejo o indício de fraude. Vejo mais um erro de atleta do que uma fraude. Não tenho conhecimento de caso análogo. Me parece uma pena excessiva.”
Além disso, segundo Rodrigo Mattos, os dois advogados afirmaram que os casos enquadrados como tentativa de fraude costumam atender padrões. O atleta tentar utilizar urina de outro, pênis artificiais ou recusa a fazer o teste e resultado positivo na sequência.
Gabigol vai entrar com recurso no CAS
Flamengo e Gabigol emitiram notas oficiais logo após o julgamento para expressar surpresa com o resultado e afirmar que entrarão com recurso na Corte Arbitral do Esporte (CAS). Isso porque ambos entendem que não houve fraude pois o atacante estava seguindo orientações do departamento médico de realizar exame após o treino.
Segundo informações do ex-atleta Caio Ribeiro, Gabriel começou as atividades antes dos companheiros e, quando os fiscais chegaram, o atleta já estava realizando musculação. Assim, o doutor Márcio Tannure, chefe do DM rubro-negro, recomendou que o atleta fizesse o teste antidoping duas horas após o fim da atividade para não ter alterações. Ele teria comunicado também aos fiscais de coleta.
Sendo assim, o atacante estaria sendo punido por esconder a genitália na hora de urina e suposta falta de educação com os oficiais antidoping. O clube vai mostrar imagens do atleta na academia e o registro do ponto no Ninho do Urubu para confirmar que o ídolo não errou ao esperar para fazer o teste.
Gabi é representado pelo advogado Bichara Neto, que ajudou Paolo Guerrero a reduzir pena de doping com recurso no CAS em 2018. A resolução costuma levar até seis meses, mas a defesa do atleta prepara pedido de efeito suspensivo, o que permitiria o Camisa 10 a continuar atuando até julgamento definitivo.
Jornalista graduado no Centro Universitário IBMR, 23 anos, natural do Rio de Janeiro. Amante da escrita e um completo apaixonado pelo Flamengo, vôlei e esportes olímpicos.