Em defesa dos bons jogadores (ou porque não devemos nos desfazer de Diego e Éverton Ribeiro)
Alerta de spoiler: não usarei dados e estatísticas para defender meu ponto. Trata-se apenas de uma reflexão sobre a importância de se manter os jogadores qualificados pelo maior tempo possível no elenco.
Diego chegou ao Flamengo em julho de 2016 com festa da torcida, que olhava amedrontada a possibilidade de um levante popular turco melar a contratação, realizada aos 45 minutos do segundo tempo. Fez bons jogos e liderou um grupo pouco qualificado ao terceiro lugar no campeonato daquele ano marcado pelo adoecimento de Muricy Ramalho e por derrotas vexatórias nas Copas disputadas.
No blog: >A gestão off-futebol
Veio 2017 e uma lesão o impediu de defender o Fla nas partidas finais da Copa Libertadores (melhor nem lembrar da dita cuja!). No Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Sul-Americana alternou boas partidas e partidas de menor aproveitamento técnico. As críticas ficaram mais acentuadas e com razão: o jogador perdera pênaltis importantes contra o Palmeiras (pelo Brasileirão) e Cruzeiro (na final da Copa do Brasil). Parece que em 2018 a fase continua turbulenta; é questionado por “não dar continuidade às jogadas”, “pipocar”, “não desempenhar a função do camisa 10”, etc. Em que pese a pertinência de algumas dessas críticas, algo de exagerado nas cobranças começa a se desenhar. Mas antes vamos a outro jogador...
Éverton Ribeiro foi contratado em julho de 2017, após uma tentativa frustrada de repatriá-lo na janela do início do ano. Também muito festejado, o jogador chegou ao Flamengo pós-vexame na Libertadores e com o time muito pressionado pelos resultados aquém da expectativa no Brasileirão. Lembrem-se: o atleta vinha de um ano inteiro de (poucos, é verdade) jogos no “Mundo Árabe” e com isso não realizou pré-temporada. Além disso, o time vinha avançando na Copa do Brasil, competição na qual não estava inscrito e por isso não poderia jogar.
Com a troca de comando, Rueda deixou claro que a preferência seriam as Copas (do Brasil e Sul-Americana), optando por poupar jogadores titulares em alguns jogos do Brasileirão. Resultado: time desfigurado nas partidas em que Éverton Ribeiro jogava e foco nas fases decisivas das competições mata-mata que restavam. Com os dois vice campeonatos e um sexto lugar horroroso no Brasileirão, as férias chegaram. E com ela a possibilidade de realizar uma pré-temporada decente, voltando ao nível de suas apresentações no Cruzeiro Bicampeão em 2013-2014.
Chegamos ao ano atual e onde os dois personagens se encontram.
Começamos o ano com um treinador que veio pra ser coordenador ou qualquer coisa assim. Um treinador que para muitos não conseguiria tirar do elenco o que os nomes no papel sugeriam. Dito e feito: péssimas partidas do time e demissão de Carpegiani - a quem devemos sempre render homenagens pela década de 80. Entre o sonho quase impossível de Renato Gaúcho e a iminente efetivação do estagiário da vez, Diego e Éverton Ribeiro voltaram ao centro dos debates na mídia esportiva.
Para alguns jornalistas – sobretudo paulistas – Diego não deu certo e Éverton Ribeiro não se adaptou. O primeiro está insatisfeito com as críticas e o segundo não encaixará nesse time. Questionam seus salários e perguntam à nossa torcida: “Está valendo a pena?”.
Pois é. A narrativa está pronta: dois bons jogadores são os responsáveis pelas más atuações do time. Percebam, não se trata de eximir os dois jogadores de suas responsabilidades: ganham muito bem e eventualmente fracassam nos jogos. Outra coisa: esqueçam que esse que vos escreve tem vontade de matar Diego e/ou Éverton Ribeiro após certos jogos, como o último contra o Santa Fé. Mas é justamente de decisões tomadas nesses momentos que menos precisamos.
Enquetes em redes sociais começam a destacar Diego e Éverton Ribeiro como culpados por derrotas importantes. Não ter treinador? “Barbieri é promissor”. Ter uma zaga titular envelhecida e lenta? “Detalhe”. Laterais completamente limitados? “É do jogo”. A inversão das prioridades está escancarada e o espantalho construído: “Demitam ou troquem os dois e as coisas devem andar”. Se embarcarmos nessa, tenham certeza, mais um passo rumo a total desestabilização será dada. Não caiam nessa armadilha. Tem muito jornalista que esconde seu imenso mau caratismo num pseudo mau jornalismo.
P.S: no dia seguinte de uma eventual demissão do Diego e/ou do Éverton Ribeiro, ambos serão tratados como solução para vários Clubes da elite brasileira. Ou vocês se esqueceram do novo craque tupiniquim, Éverton Cardoso?
Saudações Rubro Negras.
Imagem destacada no post e redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo
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Guilherme Salgado é sócio-proprietário do Flamengo e integrante do grupo Flamengo da Gente, que reivindica políticas de inclusão popular no clube. Siga-o no Twitter: @SalGuilherme
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