Marcos Paulo Neves: Você, torcedor cliente, está satisfeito com o produto Flamengo?
A elitização do futebol é um fenômeno global e não é novo. Há anos vemos o esporte sendo tratado como um produto, e seus clubes como um ativo que necessita de gestões técnicas, profissionais, competentes e todos esses adjetivos que acompanhamos no meio empresarial.
No futebol brasileiro, as Sociedades Anônimas do Futebol são a nova representação desse modelo de excelência almejado. Ainda muito cedo para falar, as chamadas SAFs estão com um misto de campanhas medianas e ruins e algumas gestões que, convenhamos, não se parece muito diferente com o que nos acostumamos.
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A grande questão da produtificação do futebol e sua consequente elitização é o afastamento do teor popular que o construiu e o tornou um produto de alto valor financeiro.
O flamenguista como consumidor
No caso do Flamengo, ingressos e produtos oficiais exorbitantes se juntam com a já comum falta de participação política que sempre foi presente no clube. Essa característica virou assunto novamente em uma das entrevistas do presidente Rodolfo Landim ao jornalista Mauro Cezar Pereira ao portal UOL.
Mauro Cezar Pereira: “O Flamengo não é nem meu nem seu, o Flamengo é de todos nós que somos sócios proprietários do clube”. O senhor disse essa frase aos conselheiros recentemente. O Flamengo não é da torcida, que é a responsável pelo faturamento bilionário do clube?
Rodolfo Landim: Para mim é muito claro. Quando você tem uma instituição, uma empresa, o mais importante que ela tem é o cliente. O que e mais importante para a Coca-Cola? Os clientes que tomam Coca-Cola, são viciados em Coca-Cola.
E para sobreviver ela precisa encantar seu cliente. Para mim o torcedor do Flamengo é o que de mais importante o clube tem. Temos que encantar o cliente, que é o torcedor do Flamengo. É isso o que o clube tem que fazer.
O contexto da pergunta diz respeito à reportagem exclusiva deste mesmo Mundo Bola, um áudio vazado do mandatário tentando convencer aos conselheiros do clube a viabilidade da transformação de parte do clube em SAF, com objetivo de viabilizar a construção do estádio.
O vazamento deixa claro a visão de Landim não só sobre o Flamengo mas também a seus torcedores: somos meros clientes, alienados do “produto final” que é o Flamengo. Nossa relação com o time precisa começar a ser mais de “vício” pelo produto do que de paixão. Afinal de contas, eu não vejo ninguém empunhando bandeiras da Coca-Cola ou torcedores provocando consumidores de Pepsi.
A péssima gestão da “empresa” rubro-negra
Já que o Flamengo é visto como uma empresa e seus torcedores são clientes que precisam ser “encantados”, o que explica a manutenção de funcionários que a gerem tão mal quanto no ano de 2023? O que justifica a permanência de figuras do departamento de futebol que causaram o exato oposto da eficiência pregada pela lógica empresarial?
Se o Flamengo é produto, então quer dizer que posso acionar o Procon?