Ele me mata, me maltrata, me arrebata

27/09/2016, 20:45

Ufa! Que jogo foi esse, meus amigos? Parecia que não ia, mas foi! Foi e foi com cara de Flamengo, com raça, como time que não se abala com o placar adverso e muito menos se contenta com o empate. Foi como time que quer ser campeão a todo custo. Como time unido e que sabe da responsabilidade de representar mais de 40 milhões de apaixonados.

Um roteiro totalmente rubro-negro, daqueles que nos enche de orgulho e ao mesmo nos faz sentir pena de quem não tem esse imenso prazer. Um roteiro daqueles que nos dá vontade de sair pelas ruas cantando em alto e bom som “OH, MEU MENGÃO!! EU GOSTO DE VOCÊ”. Roteiro que mostra a essência de um clube que nunca se acostumou com as derrotas, afinal de contas seu próprio hino já diz é “VENCER, VENCER, VENCER”.

Essa foi de longe a partida que mais me causou emoção neste ano (não assisti o segundo jogo contra o Figueirense, pela Sul-Americana). Confesso que tentei me iludir e passei a véspera inteira tentando colocar em minha cabeça que era só mais um jogo, que ia ser tranquilo. Mas não rolou.

Foto: Gilvan de Souza / Flamengo

A medida que as horas foram passando esse coração rubro-negro foi palpitando mais forte e a razão tornou-se algo insignificante. A partir daí, meus amigos, foi só por São Judas. Fiz meu ritual que antecede todos os jogos, estiquei o Manto Sagrado do meu lado, respirei fundo e fui pro jogo, até porque com a gente é assim que funciona. É “VAMOS FLAMENGO”!!

O primeiro tempo razoável, mas com boas chances criadas me encheu de esperança de que na etapa final a história iria ser diferente. Na minha cabeça, o Diego acertaria o passe que ainda não havia acertado. O Pará voltaria a fazer um cruzamento na medida. E, por fim, aquela bola do Guerrero balançaria as redes dessa vez.

Veio então o segundo tempo, o relógio andou, e tudo que havia planejado parecia ter ido por água abaixo com aquele gol do Rafinha. O 1 a 0 me baqueou! Por um instante pensei: “Putz, essa não vai dar”. Homem de pouca fé! Até parece que não sei como é o Flamengo. Gosta de tudo mais difícil, mais sofrido, que é para a glória ser ainda mais exaltada nos dias seguintes.

E por falar em glória. Louvado seja Paolo Guerrero! Eu já tinha amaldiçoado até a sexta geração desse peruano, quando ele me acerta aquele chute e me faz soltar o grito de esperança, o grito de gol.

Foto: Gilvan de Souza / Flamengo
Foto: Gilvan de Souza / Flamengo

Mas o empate não era suficiente, a gente precisava da vitória. Olhei pro cronômetro e ele marcava 38 minutos. Pensei: “Vai dar. O Zé tem estrela. O Fernandinho é o rei de Cariacica. O Guerrero vai marcar outro. O Alan vai acertar um daquelas chutaços de fora da área. Não sei como vai ser, mas vai dar”. E deu!

Deu aos 43 minutos, com um gol de Mancuello. E que golaço! Aí eu não aguentei, meus amigos. Quando eu vi o argentino acertando aquele chute no angulo eu gritei, gritei com toda força que ainda me restavas, gritei como se fosse a última vez. Faltaram palavrões.

Foi então que por alguns segundos fechei meus olhos e voltei à minha infância, voltei aos meus 13 anos. Naquele momento me lembrei daquela bola do Pet, em 2001, também aos 43, entrando no ângulo vascaíno. E na rápida lembrança eu vi novamente meu tio ajoelhado em frente ao televisor. Vi meu meu avô, meu eterno parceiro de jogos, com as mãos encobrindo o rosto. E me vi com as mãos na cabeça tentando acreditar que aquela bola iria entrar.

Não deu outra. As lágrimas rolaram novamente desses olhos, tal qual em 2001. Naquele ano, foi a primeira vez que chorei pelo Flamengo. Foi como um um choro de batismo. A partir daquele dia minha relação como o Flamengo nunca mais foi a mesma.

Lembro-me que no dia seguinte daquele jogo eu queria mostrar para todo mundo que era Flamengo. Assim como quando a gente encontra um grande amor e quer que todos saibam, naquele dia eu queria que todos soubessem que eu era rubro-negro. Eu queria apresentar meu novo amor pro mundo inteiro. Vesti a única camisa rubro-negra que tinha, que por sinal foi presente do vozão, e só tirei na hora de dormir.

São sentimentos que só o Flamengo pode proporcionar. A capacidade de nos fazer voltar anos no passado. A capacidade de nos fazer eternizar na memória uma lembrança e nos emocionarmos todas as vezes que nos lembramos da mesma. A capacidade de criar roteiros parecidos. São coisas tipicas de um clube que é capaz de fazer seu torcedor cantar cheio de orgulho: “ […]ele me mata, me maltrata, me arrebata […]”.

E são essas emoções que nos torna diferentes. Só quem é Flamengo consegue entender. Só quem é Flamengo consegue suportar. Só quem é Flamengo consegue acreditar que tem cheiro sim. Tem muito cheiro. Tem cheiraço.

SRN!

Créditos da imagem destacada: Gilvan de Souza / Flamengo


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