Dorival tem um plano. É hora de descobrir se ele vai funcionar

11/09/2022, 22:55
Dorival Júnior tira foto de jovem torcedor cadeirante com o time após o jogo contra o Goiás, pela 26ª rodada do Brasileiro 2022

Pode parecer algo óbvio, mas na maior parte das vezes apenas uma coisa separa uma grande ideia de uma ideia muito ruim: dar ou não dar certo. Cafu ter sido reprovado em mais de dez peneiras só é uma história de superação porque depois ele foi aprovado em alguma e ganhou duas Copas, senão seria apenas um cara que foi reprovado em peneiras pra caramba.

A esposa de Gabriel Garcia Márquez ter penhorado eletrodomésticos pra enviar manuscritos dele só entrou pra história porque ele foi o autor de “100 Anos de Solidão”, senão Mercedes Barcha teria sido só mais uma mulher que tomou prejuízo com homem metido a escritor. 

Leia do mesmo autor: Rubro-negro, tire o dia de hoje pra agradecer por ser Flamengo

E agora, Dorival? Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

E a grosso modo é essa a situação em que se encontra Dorival Junior, após os dois empates seguidos do Flamengo pelo Brasileirão, contra Ceará e Goiás, que colocaram o time novamente à nove pontos de distância do líder do campeonato e tornaram, ainda que não extintas, bem restritas, as chances do Flamengo de conquistar seu nono título nacional nesta temporada.

Léo Pereira salvando a pátria, amigos. Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Isso porque, se o Flamengo vencer a Libertadores (ou a Libertadores e a Copa do Brasil), Dorival será lembrado como um gênio. O homem que levou o Flamengo ao seu terceiro título continental, o cidadão que transformou numa grande equipe o grupo que sob o comando de Paulo Sousa atuava como um bando de desconhecidos vendados numa sala com móveis pontiagudos, será citado até mesmo como o cidadão que exorcizou da Gávea o fantasma do ainda vivo Jorge Jesus.

Se o Flamengo ganhar a Libertadores, Dorival foi o visionário que soube poupar o time no Brasileirão, foi o estrategista que decidiu priorizar o torneio mais importante, foi o mago que colocou a equipe pra rodar nas três competições e garantiu que aquele reserva que entrou para decidir em Guayaquil estivesse na ponta dos cascos. Não ganhar o Brasileirão foi uma circunstância da vida, a culpa é do débito de pontos do português maluco, não se pode ter tudo, é hora de pensar em Léo Pereira anulando Benzema no mundial.

Com certeza Marinho, porque se fosse terrestre não teria tanta dificuldade na grama
Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Isso se as coisas forem bem nas copas, claro. Porque se as coisas forem mal, é claro que a conversa vai ser outra. Se acontecer o pior e, por exemplo, o Flamengo for tragicamente eliminado pelo São Paulo neste meio de semana pela Copa do Brasil, pode ter certeza que a decisão de disputar o Brasileirão com o time “alternativo” vai ser lembrada, pode ter certeza que cada minuto sem Arrascaeta, Felipe Luís, Pedro ou Gabigol será debatido, que cada atuação desconjuntada como a de hoje, em que fomos obrigados a buscar um empate dramático contra o Goiás após aguentar mais de uma hora com Marinho, Cebolinha e Matheuzinho caóticos em campo – para ficar apenas nos diminutivos – vai ser colocada sob uma lupa.

Então o que resta para Dorival Junior, após mais um resultado que parece querer tirar o Flamengo da disputa do título brasileiro, é provar, através de outros títulos, que sua ideia deu certo. Que deixar Arrasca fora naqueles jogos garantiu que ele estivesse na ponta dos cascos quando precisávamos, que Pedro não marcou no Brasileirão pra deixar sua marca numa final de Libertadores, que, se o nono título brasileiro não vem, a terceira Libertadores (e quem sabe a quarta Copa do Brasil) vai vir pra compensar e até superar as expectativas.

Porque, se o que separa a boa ideia da ideia ruim é dar certo ou errado, estamos muito perto de descobrir se Dorival vai ser lembrado como o gênio que conquistou a América ou o cabeça dura que não se esforçou o bastante pra conquistar o Brasil.


Partilha