Será que Domenec não caiu na mesma tentação dos candidatos para conseguir o emprego dos sonhos? A oportunidade da vida?
Blog Flamengo em Foco | Cyro Carvalho – Twitter: @carvalhocyro
Será que um “jeitinho” no currículo poderia derrubar um técnico?
“O senhor se acha qualificado para a vaga?”
“Como está seu nível de inglês?”
“Quais suas pretensões aqui na empresa?”
Para aqueles já que participaram de algum processo seletivo, em qualquer área de trabalho, essas perguntas podem soar comuns. O que também vemos com frequência são aqueles candidatos que acabam por omitir ou aumentar um pouco suas experiências na conquista da vaga.
De forma quase inédita, o Flamengo seguiu essa prática do mercado na busca do substituto de Jorge Jesus, sendo elogiado por vários jornalistas e torcedores. Dentro da lista de candidatos, surgia o nome de Domènec Torrent, que possuía como grande trunfo a experiência de ser auxiliar do melhor técnico do mundo, trabalhando no mais alto nível praticado na Europa por mais de uma década. Mas, será que o catalão não deu algumas dessas “voltas” para assumir o atual campeão da América?
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Apesar de sua vasta experiência como auxiliar, ele nunca esteve à frente de um grupo de jogadores tão estrelados. Como técnico, não existem títulos expressivos em seu currículo. Sua última experiência foi na MLS, a liga americana, que, convenhamos, não possui tanto peso. Entre prós e contras, talvez fosse necessário aumentar a lista de bons argumentos para que seu nome fosse o escolhido. As características necessárias apresentadas pela direção do Flamengo eram claras: queriam um time agressivo, que tivesse pressão alta e agressiva para recuperação da posse de bola e, principalmente, implementasse seu estilo de jogo de forma lenta e gradual, mantendo a base construída por Jesus.
Em sua primeira entrevista coletiva, as declarações de Dome foram nesse sentido: “Preciso respeitar o trabalho do Jesus e dos jogadores em um projeto ganhador. AOS POUCOS, vamos implantar o estilo que é similar no ponto de ser ofensivo”. Em outro momento, foi ainda mais enfático: “Não vamos ser como um elefante entrando em um quarto pequeno. O trabalho de Jorge Jesus foi fantástico e temos que aproveitá-lo”.
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Quando a pergunta foi sobre a maratona de jogos, o catalão também não demonstrou tanta preocupação: “Somos 100% capazes. No Bayern, Barcelona, City, também jogávamos três jogos por semana. Estamos acostumados. Essas primeiras semanas serão as mais importantes. Não há um problema”.
Porém, nos primeiros jogos, já conseguimos perceber alterações profundas no estilo e na estrutura de jogo da equipe. Talvez, apenas o primeiro tempo, contra o Atlético MG, vimos as digitais claras do time de 2019. Mas, as mudanças não seriam graduais? Até porque, não se coloca um elefante dentro de um quarto pequeno, certo?
Na sequência, quando os resultados não foram surgindo, qual foi a justificativa escolhida? A falta de tempo para treino! Mas, na apresentação, isso não era normal? Na Europa não funcionava do mesmo jeito?
Será que essas mesmas respostas não foram dadas à Braz a Spindel nos encontros realizados na Espanha?
Hoje, já estamos vendo frutos do trabalho com resultados mais positivos. Porém, questiono se não foram as próprias declarações do treinador que causaram a repercussão e, consequentemente, uma pressão muito maior sobre a comissão técnica. Estamos falando de Flamengo, obviamente, ninguém aceitaria dois ou três jogos consecutivos sem vitória. Mas, a pressão feita pela imprensa, e por grande parte da torcida, foi muito maior do que o normal para um início de trabalho.
Com apenas dois jogos, já tinha gente pedindo a cabeça do treinador, que ainda nem sabe falar “joelho” em português. Ao ver o Flamengo em campo, boa parte da torcida se sentiu traída após perceber que todo o discurso dado não se concretizou. Existia a real possibilidade da tão sonhada hegemonia ter ficado mais distante. E, por isso, as cornetas tocaram como se fosse o anúncio do apocalipse.
Será que Domenec não caiu na mesma tentação dos candidatos para conseguir o emprego dos sonhos? A oportunidade da vida? Sair da sombra de Pep? Não estou afirmando que ele não seja capaz de transformar o Flamengo num time ainda melhor que a equipe de Jorge Jesus. Minha dúvida é se ele não omitiu algumas de suas convicções para entrar no clube, ignorando as premissas que a diretoria traçou como perfil, e, ao assumir o time resolver as coisas à sua maneira.
Por muito pouco, uma possível “jogadinha” no processo seletivo não o levou de volta ao RH. Mas, dessa vez, o motivo seria a carta de demissão.