Do ‘acabou o dinheiro’ à Rebeca: como Flamengo reviveu ginástica

Rebeca Andrade, atleta do Flamengo, é um dos maiores fenômenos da ginástica artística no mundo. A brasileira está disputando o Mundial da Antuérpia nesta semana. Já conquistou a medalha de prata na final por equipes e agora, foca no solo.
Entretanto, a presença do Flamengo na competição não se limita a Rebeca. O clube é a casa de quatro das cinco atletas na final do individual geral – Flávia Saraiva também briga por medalhas ainda. E também tem Diogo Soares, que disputou nesta quinta (5) a final geral masculina e se classificou para Paris-2024.
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Com uma longa tradição na ginástica artística, o Flamengo chegou ao auge com a medalha de ouro de Rebeca em Tóquio. Entretanto, assim como o futebol, a ginástica do clube passou por uma grande crise no início da década passada antes de ser beneficiada pela recuperação financeira do clube. Relembre essa história:
Como o Flamengo reviveu a ginástica
‘Acabou o dinheiro’ (2009)
Durante uma coletiva de imprensa em 2009, o então presidente do Flamengo, Márcio Braga, disse que o dinheiro para os esportes olímpicos do clube havia acabado. A frase repercute até os dias de hoje como meme, mas é, na verdade, uma dura crítica ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Na época, a Lei Piva, feita pela entidade, não repassava o dinheiro aos clubes formadores dos atletas.
Ou seja, quem financiava os recursos da ginástica e dos esportes olímpicos do Flamengo era o futebol, que estava quebrado. Aliás, os atletas competiam com os uniformes da Seleção, não do clube. Portanto, a diretoria se reuniu e preferiu não renovar os contratos com os atletas, conforme dito por Márcio Braga ao UOL.
Em seguida, pouco depois da declaração de Márcio Braga, surge uma alternativa para evitar o fechamento da ginástica. O Flamengo fechou um convênio com a prefeitura de Niterói. Com isso, o Fla conseguiu manter alguns nomes de peso na modalidade, como Jade Barbosa e os irmãos Daniele e Diego Hypólito. A partir dali, Braga se juntou com outros clubes para conseguir recursos da loteria, do COB e do governo. Era criada a Confederação Brasileira de Clubes (CBC).
Porém, não foi o único percalço enfrentado pela ginástica. Em 2012: um incêndio atingiu o ginásio Cláudio Coutinho, sede do Flamengo, com toda a estrutura da ginástica. As atletas tiveram que passar a treinar fora do clube. Então, com ajuda do Comitê Olímpico dos Estados Unidos, CBC, uma quantia do Rubro-Negro e doação do COB, o espaço foi reinaugurado em 2015 para ser usado na preparação americana para as Olimpíadas do Rio.
Gestão Bandeira (2013)
No primeiro ano da gestão de Eduardo Bandeira de Mello, novos problemas para a modalidade. Em meio à grave crise financeira do Flamengo, o Fla decidiu acabar com algumas modalidades adultas, como judô, natação, que tinha César Cielo, e ginástica olímpica. Apesar disso, algumas jovens promessas, como Rebeca Andrade, que estava na categoria juvenil, foram mantidas.
Em seguida, Bandeira correu atrás das Certidões Negativas de Débito, que abriram portas para investimentos. As CNDs garantiam que o clube não tinha dívidas em aberto com o governo. Sendo assim, com as certidões, o clube ficou apto a conseguir patrocínio direto do Estado (como o da Caixa) e projetos incentivados, como o “Anjo da Guarda”.
O projeto “Anjo da Guarda Rubro-Negro” é uma campanha que arrecada fundos por meio do imposto de renda dos torcedores do clube que se dispõem a contribuir. Em 2015, a pasta de Esportes Olímpicos do Flamengo anunciou que enfim as modalidades subordinadas à vice-presidência eram autossuficientes. A conquista veio tanto através de patrocínios como pelo projeto “Anjo da Guarda”.
Na temporada atual, os torcedores que decidirem direcionar seu imposto ao programa Anjo da Guarda podem escolher financiar projetos incentivados de até R$ 5 milhões para a ginástica e os esportes aquáticos do Flamengo.
Rebeca Andrade, Flamengo e as últimas Olimpíadas (2021)
Assim como o futebol, a ginástica do Flamengo teve que passar pelo desmonte para poder haver uma remontada. Como resultado, nas últimas Olimpíadas, em Tóquio 2021, o clube mandou oito atletas fora do futebol. Nomes como Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Isaquias Queiroz e Jacky Godmann se destacaram nos jogos.
Agora, para as Olimpíadas de Paris 2024, junto a 4 atletas do Flamengo, a Seleção Brasileira alcançou a prata inédita no Mundial de Ginástica da Antuérpia. Não só isso, mas Rebeca Andrade pode também conquistar mais quatro medalhas no Mundial, além da vaga nos Jogos Olímpicos.