Deve ser até cansativo se esforçar tão pouco quanto o Flamengo fez hoje

20/03/2022, 21:55

Tudo bem que era o Campeonato Carioca, um torneio sucateado, que não vale muita coisa, utilizado pelo Flamengo como uma espécie de temporada de luxo em que o “luxo” é lesionar algum jogador no estádio do Bangu.

Tá certo que era diante de um adversário de investimento inferior, num jogo de volta, com não apenas vantagem de 1×0 no placar, como a possibilidade de se classificar mesmo perdendo por 2×1. É verdade que o rival, ainda que tenha demonstrado raça e combatividade, também não estava muito interessado em atacar e, após sofrer o primeiro gol, decidiu que a meta era evitar uma goleada e não buscar uma classificação histórica.

Mas ainda assim fica muito complicado, muito complicado mesmo, justificar a total e absoluta falta de vontade, organização e até mesmo de conexão emocional com a partida demonstrada pelo Flamengo na vitória magra de 1×0 deste domingo contra o Vasco, selando a classificação para a final do Campeonato Carioca, para enfrentar o vencedor de Botafogo e Fluminense.

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Lázaro, uma das únicas 3 pessoas em campo que achava real que o Flamengo devia ganhar (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)

Primeiro tivemos a escalação, com mais uma oportunidade para Rodinei, o influencer improvisado como jogador, e mais uma tentativa de escalar juntos Pedro e Gabigol, que seguem com o mesmo entrosamento de duas pessoas desconhecidas que não falam a mesma língua e nasceram em países diferentes tentando desarmar uma bomba atômica podendo usar apenas uma colherinha plástica de pegar sorvete. O resultado, evidentemente, não foi dos melhores.

Se Lázaro tentava o que podia, João Gomes cobria todo o meio de campo e Arrascaeta é um gênio que acerta até quando erra, o resto do time demonstrava níveis de letargia, confusão e desinteresse muito semelhantes ao de um filho ouvindo a mãe falar dos problemas de saúde de um desconhecido, um funcionário numa reunião corporativa de leitura de Power Point ou uma mulher solteira ouvindo um homem falar sobre NFT e bitcoin no primeiro encontro.

O desânimo era evidente, a falta de intensidade era visível, se havia alguma emoção para o rubro-negro era o terror coletivo de ver a bola sendo constantemente recuada até Hugo, que reage à bola no pé como você reagiria a dois homens numa moto.

Arão literalmente programou o celular pra despertar aos 8 do segundo tempo (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)

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No segundo tempo a história não foi muito diferente. Se o gol de William Arão serviu para acordar a torcida – e até mesmo para acordar o próprio Arão, que parecia estar vivendo uma crise de narcolepsia – e selar de vez a vitória, ele não representou nenhuma mudança significativa na atuação rubro-negra, que teve como principais mudanças a entrada de Vitinho, responsável até por algumas boas jogadas, e a entrada de Marinho, uma espécie de boneco articulado cujos dois únicos movimentos são o corte pra esquerda e o chute maluco, sem absolutamente nenhuma variação conceitual.

A sensação que fica após os dois jogos das semifinais, mesmo com duas vitórias relativamente seguras sobre um rival tradicional, é que o Flamengo segue sendo um time que ainda não se encontrou. Seja na organização tática de Paulo Sousa que parece ainda não ter sido assimilada pelos jogadores, seja pelas atuações individuais que, salvo poucas exceções, parecem estar sendo mais podadas do que potencializadas pela organização da equipe.

Se o Carioca era uma pré-temporada rubro-negra, talvez o Flamengo precise disputar mais uns dois cariocas seguidos até termos um time capaz de realmente brilhar nas competições que temos pela frente.


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