Parece claro que “de onde menos se espera, daí é que não sai nada”, como diria o irônico jornalista Barão de Itararé
É verdade que Rogério Ceni chegou ao Flamengo incensado pela imprensa como um técnico moderno, após bons anos à frente do Fortaleza, embora alguns fizessem ressalvas por conta dos fracassos à frente do São Paulo e do Cruzeiro.
Todavia, diante da inconstância e das goleadas sofridas pelo time de Dome a torcida já estava impaciente e fazia um coro para trocar o treinador, sob pena de “perder a temporada”, se insistisse no trabalho do Catalão, vislumbrando uma possível desclassificação na Copa do Brasil e na Libertadores.
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Dentro desse contexto, Ceni chegou para salvar a temporada. E logo no primeiro encontro foi sábio, dizendo que resgataria o modo de jogar de Jorge Jesus, o que amoleceu o coração daqueles torcedores que o viam com desconfiança.
Os resultados porém não foram satisfatórios, com o Flamengo sendo eliminado das duas competições almejadas. Enfim, fazendo um exercício consequencialista, seria melhor, diante do roteiro, ter mantido Dome, assim pensam os torcedores hoje. Até porque o desempenho de Dome no Brasileiro foi bem superior ao de Ceni.
Nessa balada, até agora, Ceni tem aproveitamento de 48,88% (15 jogos, 6 vitórias, 4 empates e 5 derrotas), mas não é só isso que pesa, o time não se apresentou bem em quase nenhuma partida; não há uma ideia tática clara; uma insistência em substituições equivocadas; má leitura dos jogos; má vontade com jovens promessas; insistência com jogadores que estão mal tecnicamente e o preparo físico ainda não é o ideal. O ponto positivo ressaltado pelos setoristas são os treinamentos, tidos como modernos e satisfatórios, o que, em tese, o credenciaria para ser um bom assistente técnico.
O simbolismo recente de seus equívocos se traduz: na substituição de Arrascaeta e Everton Ribeiro na mesma partida, equívoco que a torcida e JJ admitiram reciprocamente como um sacrilégio, desde o Mundial Interclubes; na substituição reiterada de Gabigol, mesmo quando precisa ganhar ou virar uma partida; no fato de Vitinho ter mais minutos de jogo com Ceni, do que Gabigol e Pedro; ou na declaração de que Gabigol e Pedro não podem jogar juntos por conta de uma possível perda na recomposição (quando as partidas que os dois jogaram juntos o Flamengo demonstrou bom desempenho).
Enfim, desde o “time de índio de Abel”, ao se referir que não podia jogar sem seus dois volantes à época (Cuellar e Arão), deixando no banco Arrascaeta, não havia uma declaração tão retrógrada, afinal Jesus provou que se os jogadores estiverem bem posicionados não precisa dessa propalada, em terras tupiniquins, recomposição, mas de pressão organizada na perda da bola.
Parece claro que “de onde menos se espera, daí é que não sai nada”, como diria o irônico jornalista Barão de Itararé. Mesmo diante desse cenário parece que os dirigentes justificam a manutenção no fato de não haver um substituto, se esquecendo que o Flamengo já foi campeão com Carpergiani, Carlinhos, Andrade e Jayme de Oliveira, que assumiram o rubro-negro sem maiores experiências. Uma pena pois, “não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.” (Do mesmo autor)
Allan Titonelli é rubro-negro, amante do futebol, gosta de jogar uma pelada, assistir partidas, resenhas esportivas ou debater com os amigos sobre “o velho e violento esporte bretão”. Escreveu, ao lado de Daniel Giotti, o livro “19 81 – Ficou Marcado n...