Em meio a um deserto de criatividade, o torcedor do Flamengo vê surgir um feixe de luz e esperança. E ele tem nome, sobrenome e posição: Nicolás De La Cruz, novo meio-campista do Mais Querido do Brasil. As coisas não estão indo bem e as falhas e pontos a evoluir da equipe são incontáveis. Mas se tem um nome que está chamando a responsabilidade é esse.
De La Cruz fez mais um grande jogo pelo Flamengo e deixou o campo antes da hora no último domingo (4), em clássico contra o Vasco, no Maracanã. Isso porque Tite optou por tirar o uruguaio quando colocou Luiz Araújo. O brasileiro não vem bem e ainda não mostrou a que veio, mas já que entrou, talvez uma opção mais viável de saída fosse o próprio Arrascaeta. O conterrâneo de Nico de la Cruz estava apagado na partida.
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O reforço, por sua vez, foi insinuante a todo instante. Na maioria dos ataques do Mengão, a bola sempre passava pelo atleta. Da tribuna do Maracanã, foi possível verificar um posicionamento quase perfeito na maior parte dos momentos. Além disso, De La Cruz se mostra um jogador leve e com muita mobilidade com a bola nos pés. As fintas parecem sair de forma quase que instintiva e automática, antes de passes teleguiados e sensacionais, o que faz dele um grande armador, com visão de jogo impressionante e muita criatividade.
De La Cruz mostra exuberância em passes e batida na bola
Os passes, aliás, são especialidade da casa. Em diversos momentos, De La Cruz serve os companheiros e leva muito perigo aos adversários. Mas a batida na bola também culmina em ótimas jogadas de faltas e escanteios. Contra o Sampaio Corrêa, Bruno Henrique marcou no rebote da cobrança de falta do uruguaio. Na bandeira, as batidas também são boas, e o jogador mostrou isso cobrando para Everton Cebolinha, contra o Vasco.
Uma jogada com um passe ainda mais excepcional aconteceu no segundo tempo, pouco antes de sua saída. De La Cruz enfiou uma bola magnífica para Gabigol. O Camisa 10, porém, chutou de direita, ou seja, com a perna ruim, e não conseguiu superar Léo Jardim. O bandeirinha marcou impedimento, mas não tirou a beleza do lance. Nico mostrou que é diferenciado da mesma forma.
Entrosamento é problema natural em início no Flamengo
Apesar de tanta qualidade, De La Cruz também erra. Mas boa parte desses erros são pela falta de entrosamento. Ainda no primeiro tempo, o craque pensou em uma ótima jogada e mandou um passe em profundidade e quebrando linhas para dentro da área vascaína. Pedro, no entanto, não entendeu a jogada e não foi até a bola.
De La Cruz tem menos de um mês treinando com os novos companheiros. Além disso, fez apenas quatro jogos pelo clube. Por isso, é natural que alguns movimentos ainda não sejam facilmente compreendidos pelos atacantes e o resto do elenco. Mas a tendência é que com o tempo, o entrosamento venha e o estrangeiro faça jogadas incríveis que resultem em assistências magníficas.
Arrascaeta é o elo que pode ajudar De La Cruz no início do Flamengo. Os uruguaios se entendem e já mostraram algumas ligações em campo. Ídolo do Flamengo, o Camisa 14 teve participação direta na contratação, pedindo ao amigo que viesse ao Rio de Janeiro.
Regularidade e potencial ídolo do Flamengo
Um dos aspectos que mais chama atenção em De La Cruz é sua regularidade. O uruguaio ainda não fez uma partida ruim pelo clube. É claro que são poucas apresentações, mas todas de alto nível e sendo muito regular. Se seguir o caminho que trilhou no River Plate, a tendência é que isso se mantenha.
Isso porque De La Cruz já era regular no seu antigo time. Na Argentina, De La Cruz dificilmente tinha uma má apresentação e era um constante na equipe de Demichelis, independentemente do resultado. Ele termina com regularidade no River e inicia com regularidade no Fla. A margem é de crescimento.
De La Cruz se apresenta até mais letal do que Arrascaeta. O ídolo tem futebol fenomenal, mas é exatamente a regularidade que acaba o colocando atrás de Nico. Arrascaeta é o tipo de jogador que pode tirar um coelho da cartola enquanto está sumido. E isso também é ótimo. Mas faz mais atuações apagadas do que o conterrâneo mostrou fazer no River Plate e mantém no Flamengo.
Isso nos faz compreender a reserva de Arrascaeta em alguns momentos na Seleção Uruguaia para a titularidade do então jogador do River Plate.
Naqueles tempos, eu mesmo reclamava da lenda flamenguista no banco. Mas começo a compreender que, entre um e outro, talvez eu também apostasse em Nicolás. Melhor do que isso é ter os dois craques em campo e se complementando, como já deram indícios de que podem fazer.
Afinal, quando Arrascaeta estiver apagado, De La Cruz pode chamar a responsabilidade e brilhar. Mas sempre com a possibilidade de ver o Camisa 14 fazendo mais uma de suas mágicas às escondidas, quando ninguém mais esperar. Esses fatores tornam a dupla de meio-campistas, mortal.
Fato é que, se estiver saudável, Tite deve continuar com o jogador em campo sempre que possível. Assim, dando jeito no time e conseguindo conquistar títulos, Nico pode se tornar mais um ídolo contemporâneo dos torcedores.
Uma andorinha só não faz verão
O principal problema até o momento é que Nico de la Cruz chega a um time apresentando problemas técnicos. O elenco é bom e Tite até conseguiu imprimir certa organização. Mas falta ímpeto e a mesma qualidade vista na contratação, não está sendo vista nos demais atletas.
De La Cruz depende dos companheiros. Depende, por exemplo, que Pedro leia a jogada e alcance a bola. Depende que Gabigol acerte o alvo após sua enfiada de bola. E depende que alguém acerte o cabeceio nas suas cobranças de faltas e escanteios, entre outras coisas, como a socialização na criação de jogadas no meio-campo.
Ainda assim, é uma ótima adição ao clube e a principal contratação de uma equipe brasileira na janela de transferências. Se a maioria dos jogadores ainda não engrenaram, De La Cruz pode segurar a bronca até isso acontecer. Ter um jogador para ser protagonista e jogar quase ‘sozinho’, enquanto isso, é no mínimo melhor do que não ter ninguém e é certamente o ponto focal de esperança para uma temporada melhor do que a anterior. Por isso tudo, De La Cruz é a melhor notícia do Flamengo no início de 2024. Ou apenas a boa, já que talvez seja a única.