“De traje a rigor os urubus em meneios bailando nas nuvens”. Aníbal Beça
Desde o meu último escrito para o Blog eu via a sequência de jogos como uma única grande rodada. Foram nove jogos, com seis vitórias, dois empates e uma derrota. Um aproveitamento de 69%, sendo que os sete pontos perdidos foram fora de casa, não obstante o fato de o Flamengo ter jogado majoritariamente longe da cidade do Rio de Janeiro.
Esse desempenho é ligeiramente superior ao time que vence em casa e empata fora, o que seriam quatro pontos a cada seis disputados. Para que tenhamos uma ideia do quão significativo é este índice, basta lembrar que fomos campeões em 2009 com 58,8% de aproveitamento. Bastava um simples empate diante do desesperado Internacional para que a marca chegasse a 76%.
Ficam procurando culpados pela derrota no Sul, quando na verdade houve um erro de estratégia. Nós não podemos ficar focados no líder do campeonato, que no momento possui um aproveitamento em todo o campeonato de 68,8%, e esquecer o que temos que fazer. A 31.ª rodada nos foi trágica tanto por deixarmos a distância para o primeiro colocado passar a ser de mais de um jogo, quanto perder a oportunidade de nos afastar do terceiro lugar.
Os torcedores em sua visão híbrida, que oscila entre o passional e a racionalidade, elegeram os vilões. Mas tudo que acontece é decorrente das escolhas que Zé Ricardo faz. Ocorre que nosso treinador ficou blindado em função dos resultados obtidos. Afinal, nem o mais fanático flamenguista imaginava antes de começar o campeonato, que o Flamengo estivesse fazendo uma campanha com chances de disputa de título.
Essa blindagem tem levado alguns colegas a certo constrangimento quando criticam as escolhas do nosso treinador. Se for verdade que hoje o Flamengo é uma equipe arrumada, me parece claro que ele pode ser mais bem escalado. Cabe também ressaltar que Zé Ricardo começa a demonstrar previsibilidade em suas escalações e substituições. Para boa parte dos críticos, a não utilização de Mancuello é incoerente diante das boas apresentações do argentino.
As vitórias, mesmo que magras, nos fizeram aceitar como normal a escalação de Márcio Araújo. Engraçado é que pedem Vizeu, mas sequer lembram de que, todas as vezes que o garoto Ronaldo entrou na equipe titular (nunca neste campeonato, diga-se de passagem), ele foi muito bem. A desculpa de que Cuéllar não é primeiro volante deveria nos fazer corar...
Márcio Araújo corre muito e tem boa recuperação. Mas corre errado e muitas vezes chega atrasado aos lances, levando dribles desconcertantes como aquele no gol da derrota contra o Sport. Não sei quanto a vocês, mas ele me irrita muito com a quantidade de passes para o lado e para trás. Além disso, ele se omite ao se colocar mal na saída de jogo do Flamengo. Principalmente no momento em que a saída pelos laterais fica marcada, o primeiro volante tem que ser um jogador com qualidade suficiente para fazer o jogo fluir pelo meio.
Observem que Arão e Diego tem que vir buscar a bola, para fazer justamente a função que seria de responsabilidade do primeiro volante. Contra o Figueirense, Cuéllar revezava com Arão. Tal atitude proporcionou o primeiro gol do Flamengo com a subida de Arão, que aparece de surpresa entre os zagueiros da equipe catarinense.
No ataque, todos viram o quanto Guerrero cresceu quando teve Leandro Damião a seu lado. Pena que tenha sido apenas em uma única partida, em pouquíssimo tempo de uma única partida... Eu vejo tanta qualidade no peruano, mas diante das dificuldades, parte de nossa torcida já ataca, injustamente a meu ver e perde a paciência com o jogador.
Para concluir, eu quero pedir encarecidamente que não entremos nessa armadilha de ficar questionando erros de arbitragem. Ficar reclamando das ligações imorais e de supostos favorecimentos nos faz perder o foco de que temos que fazer a nossa parte. Eu garanto que se o Flamengo colar no rabo do líder, o porco “peidará na farofa”, como sempre faz. A prova disso foi o desespero do tal Paulo Nobre diante da lambança de Sandro Meira Ricci no Fla-Flu.
Eu nem queria que o presidente Bandeira de Melo entrasse nesse barraco teatral, mas se ele acha que vale a pena gastar sal com essa carne estragada não sou eu quem irá repreendê-lo. Nem assisto as entrevistas sobre o assunto. Não perderei meu tempo com isso. O Flamengo tem que ser superior dentro de campo. Eu vi meu time conquistar a Taça Libertadores que o adversário jogava com pedra na mão para agredir nossos jogadores.
Antes de entrar no jogo do Beira-Rio, lembremos da sequência do Flamengo:
Flamengo 2x1 Ponte Preta
Vitória 1x2 Flamengo
Palmeiras 1x1 Flamengo
Flamengo 2x0 Figueirense
Flamengo 2x1 Cruzeiro
São Paulo 0x0 Flamengo
Flamengo 3x0 Santa Cruz
Fluminense 1x2 Flamengo
Nenhuma dessas partidas foi fácil. Em todas o Flamengo teve que combinar alguma qualidade com muita vontade. A partir daí começamos a entender a derrota para os gaúchos.
O jogo que vi – Internacional 2x1 Flamengo
Pelo que escutei e li de vários amigos rubro-negros, e também diante da análise sempre atraente do grande jornalista Guga Roman, eu vi um jogo diferente, sobretudo pela dificuldade de leitura do jogo por parte do Zé Ricardo. Que todos vocês me desculpem, mas achar que um time comandado por Celso Roth partiria para cima do Flamengo é, no mínimo, ingenuidade.
Tenho ciência de que o time do Flamengo, por muitas vezes foi e será empurrado para partir pra cima pela Magnética. Mas a forma como Zé Ricardo pensou em enfrentar o Internacional foi o remédio adotado pelo retranqueiro Roth. E foi isso que Celso fez. Em vários momentos do jogo os onze do time gaúcho se encontravam da intermediária defensiva para trás.
Antes da virada, Celso fez alterações que Zé Ricardo não remediou. Vitinho estava isolado, mas com a entrada de Valdívia e Sasha, a marcação do Flamengo tinha que ter sido alterada. E mais, o time estava desatento. Enquanto o Inter lutava desesperadamente, nossa equipe não levava o jogo com a seriedade e aplicação necessária.
Observem os dois gols do Inter. No primeiro a zaga marcou a bola. No segundo, Diego foi displicente e Arão desatento. E só não levamos o terceiro por conta da recuperação do Pará. Nós perdemos o jogo por falta de estratégia e também pelas convicções de nosso treinador que, por conta de nossa posição na tabela, boa parte de nossa torcida faz vista grossa ou até mesmo apoia incondicionalmente.
Quem tem que ter apoio incondicional é o nosso time durante os 90 minutos. No mais, nós temos o direito e obrigação de apontar o que achamos que está errado ou o que possa melhorar. Sei que agora é fácil verificar que as substituições foram inócuas. Precisávamos de um meio de campo forte e preenchido e não dois pontas corredores. Não há como jogar contra um time retrancado dessa forma.
Zé Ricardo tinha que ter povoado o meio de campo. Mancuello era um dos nomes. Gosto do Alan Patrick, mas o jogo exigia “cabra macho”, gente com vibração, com vontade de ganhar as divididas. O pé de moça de Márcio Araújo deu a tônica do que era o nosso meio campo. Estão reclamando de Arão, só que o cara joga por ele e marca pelo Márcio Araújo. Se alguém acha que estou implicando com o queridinho de treinadores saiba que eu gosto de futebol bem jogado, coisa que jamais vi Márcio apresentar.
Para não dizer que não falei das Flores
Mais uma vez o Fluminense protagoniza a vergonha do tapetão. E, por focar no campo errado o time levou uma virada para o tricolor paulista. Sou um radical defensor de que futebol se ganha dentro das quatro linhas. Tentar anular a partida beneficia quem? E isso tá longe de me fazer concordar com a lambança do Sandro Meira Ricci, que habitualmente faz arbitragens que desagradam. Em jogos do Flamengo, nossas lembranças são muito ruins em relação a esse soprador de apito.
Eu tenho muita cautela ao ficar defendendo a utilização de recursos tecnológicos para resolver os problemas. Isoladamente isso não é solução. Há de se pontuar uma série de providências concomitantes: profissionalizar a arbitragem; padronizar os recursos estruturais; melhorar a formação dos atletas em relação as regras; e fundamentalmente não permitir que a televisão assuma o controle da verdade absoluta, pois eventuais recursos de vídeo não são garantias contra erros, podendo por muitas vezes sofisticá-los.
O caminho do hepta fica além do cheirinho
“Se os imprevistos lhe roubarem o chão, abra as asas...” Frei Jaime Bettega
Título não cai do céu. Eu acredito que para o Flamengo ser campeão nós teremos que ganhar 16 dos próximos 21 pontos a serem disputados. Tarefa árdua, 76% de aproveitamento. Para que isso ocorra torna-se imprescindível a convergência dos seguintes elementos: a mística do Maracanã; ao apoio incondicional da Magnética; ao comprometimento de quem estiver em campo; da superação do treinador Zé Ricardo.
Zé Ricardo terá que dar mais de si mesmo. Caberá a ele promover as variações necessárias de modo a prover o Flamengo de algo além nesse hepta de confrontos finais, pois só assim podemos continuar apostando no título de 2016.
Houve momentos em que vi muita vontade em jogadores como Chiquinho, Márcio Araújo e Gabriel. Mas isoladamente isso é insuficiente. O elemento qualidade é insubstituível. Independente de quem esteja em campo, um jogador tem que cobrar o outro. Um dos motivos de nossa derrota para o Inter foi certa passividade defronte ao apetite do adversário. Eu não quero certos jogadores no time titular, mas não torço pelo insucesso deles.
Está na hora de nós torcedores pararmos de encher o saco na hora do jogo, buscarmos inspiração no poeta Carlos Drumond de Andrade e passarmos a torcer incondicionalmente por essa paixão chamada Flamengo.
Cordiais Saudações Rubro-Negras!
P.S.: O Campeonato Brasileiro de 2016 dava mostras de relativo equilíbrio. Ocorre porém que a CBF é uma zona, com sabidos escândalos aos quais me envergonho de enumerá-los. Os novos critérios de classificação para a Libertadores, aliados a essa palhaçada do Fluminense me desestimularam a apontar tendências de um campeonato que, dentro de campo, nos trouxe a grande surpresa na recuperação do Botafogo e a grande decepção na campanha do Internacional. Todavia, eu lhes recomendo a leitura do trabalho de PROBABILIDADES NO FUTEBOL elaborado pelo Departamento de Matemática da UFMG. E a sensacional...
Dança dos Urubus – Donatinho e Dona Onete - Álbum Zambê
https://www.youtube.com/watch?v=v2IJuQd7dkw
Ricardo Martins (Twitter: @Rick_Martins_BH)
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Administrador de Empresas, Flamenguista puro sangue, Consultor de Benefícios especializado em Previdência Privada e apaixonado pela vida!