Cuca foi acusado, preso e condenado pela justiça suíça por prática de ato sexual com Sandra, 13 anos

06/06/2022, 17:01
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Na eminência da demissão de Paulo Sousa, o nome de Cuca aumenta nas listas de especulações da internet e entre os jornalistas mais bem informados sobre as pretensões da diretoria rubro-negra, às voltas com outra crise advinda da sua falta de competência.

Cuca é um treinador com alta rejeição. O simples fato do nome ser cogitado, mostra o quanto vivemos uma crise de identidade. Em 2009, o técnico idolatrado por palmeirenses e atleticanos foi escorraçado do Flamengo após inúmeras situações constrangedoras, como pedir para seu irmão-assistente Cuquinha ouvir a conversa de jogadores atrás da porta, como noticiou reportagem de Caio Barbosa, no Extra.

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“Segundo os jogadores, Dirceu Stival, irmão de Cuca e ex-auxiliar, foi pego por integrantes do departamento de futebol com ouvido na porta de uma sala do vestiário onde havia uma reunião dos atletas, revoltando o time. Antes disso, os jogadores também estranhavam o fato de Cuquinha sempre fazer questão de entrar numa roda de conversa para saber o tema.”

Porém, não é apenas a primeira passagem de Cuca pela Gávea que depõe contra o treinador em grande parte da torcida do Flamengo. Pesa sobre o treinador que capitaneou o episódio do chororô botafoguense, as sombras de um horrível ato do passado, ainda de quando era jogador do Grêmio.

Em outubro de 2020, o perfil @usebrusinhas postou no Twitter minucioso trabalho de pesquisa sobre o estupro coletivo ao qual o possível substituto de Paulo Sousa foi acusado de participar. O fio rapidamente viralizou devido à riqueza de detalhes e abaixo segue a transcrição completa.

Cuca e o estupro coletiva no Hotel Metropole

Em 1987, uma multidão de gremistas e colorados lotou o saguão do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, pra recepcionar com entusiasmo uma pequena comitiva de quatro reservas do Grêmio que estavam voltando da Suíça. O motivo mostra como o Brasil tem orgulho do seu machismo.

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O Grêmio era pela terceira vez consecutiva campeão gaúcho. Próximo passo: cruzar o Atlântico em excursão para a Philips Cup, na cidade de Berna, Suíça. De cara, o Grêmio venceu o Benfica, de Portugal, impressionando pelo segundo ano seguido a garota Sandra Pfäffi, de 13 anos.

Como no ano anterior, Sandra decidiu visitar a delegação do Grêmio que estava hospedada no Hotel Metropole. Acabou batendo de forma aleatória no quarto 204. Foi atendida. Lutando contra a barreira do idioma, tentou comunicar que gostaria de ganhar uma camiseta como souvenir.

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Do outro lado da porta estavam os reservas do Grêmio Eduardo Hamester e Fernando Castoldi, que convidaram os visitantes a entrar, tentaram manter uma comunicação por grunhidos e gestos sem sucesso.

A situação chamou a atenção de Henrique Etges e Alexi Stival, conhecido como Cuca. Ao verem a movimentação no quarto, entraram. Fecha-se a porta. Sandra foi estuprada dentro do quarto no que os jogadores consideraram uma orgia. Jogaram-se sobre ela, imobilizaram. Dois homens a violaram, enquanto outros dois a acariciavam e seguravam. 

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Após 30 minutos de terror, Sandra foi à polícia e a equipe, aos treinos. Henrique e Eduardo foram presos na noite de quinta-feira. No dia seguinte, toda a delegação do Grêmio foi convocada pra reconhecimento dos demais envolvidos através de um espelho falso. 

E assim estavam presos na Suíça, sob a acusação de estupro, os reservas gremistas Henrique, Eduardo, Cuca e Fernando, cada um em uma cela distinta e incomunicáveis – exceto por advogados – até o fim do inquérito, conforme a legislação do país.

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Comitivas, advogados, Itamaraty, Embaixada, até João Havelange, à época chefão da FIFA, foram tentativas de intervir sem sucesso para livrar os rapazes entre 21 e 24 anos. O chefe da delegação insistia em dizer que foi um mal entendido pela barreira da língua que causou a situação.

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A legislação da Suíça proibia relação sexual com menores de 16 anos. Crime sério. A denúncia de estupro, então, dispensa qualquer tipo de comentário em relação à gravidade. 

O fato ganha destaque no noticiário internacional, respeitando a identidade da vítima. No Brasil, com especial destaque nos jornais gaúchos, foi dada abertura a palpites, comentários e achismos diversos, porém quase unânimes na defesa dos jogadores.

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Presos, os jogadores estavam incomunicáveis até o término do processo, o que poderia durar até 30 dias. Não tinha como obter informações ou qualquer tipo de privilégio na Suíça, pois o sigilo judiciário lá é quase hermético. 

Um embaixador da Suíça teve acesso às acusações e de fato, disse que eram gravíssimas. Entretanto, a menina, que até então tinha 13 anos, passa a ter “14 anos incompletos” que logo, por comodismo de discurso, viraram 14 anos. Para os jogadores, a idade era outra: 18. Parecia 18. 

Foi dito que Sandra entrou no quarto dos rapazes e começou a tirar a roupa, se oferecendo. Quem afirmou foi o China, titular do time que já conhecia a menina da excursão do ano anterior. Ela estava tentando tirar a blusa que usava na hora para trocar por uma camisa do Grêmio.

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A família também era entrevistada, afirmando que os jogadores seriam incapazes de fazer isso. Muito se falou sobre a índole impecável dos quatro. Aliás, se isso aconteceu mesmo, a culpa é da menina, que não deveria se meter no meio de quarto marmanjos assim. 

Quase ninguém acreditava que eles tivessem estuprado a garota. Afinal, era uma “mocetona”, conforme expressão da época. A teoria difundida que ela havia se oferecido para orgia, pois no dia seguinte estava com uma camisa do Grêmio vendo um jogo.

Diziam também ela já tinha transado antes e com o namorado, que estava com ciúme do que aconteceu no quarto 204 e foi enganado com a história do estupro. Na imprensa brasileira, informavam que jovens europeias têm vida sexual ativa muito cedo, inclusive tomam pílula desde novas.

Para provar que era uma “mocetona” o fotógrafo Paulo Dias, do Zero Hora, fez de tudo pra tirar uma foto da menina, apesar do sigilo da sua identidade. Conseguiu pegar ela na saída da escola com a mãe. Quase apanhou de uns suíços no ato pela falta de respeito de fotografar uma menor.

Tentou vender a foto pra imprensa europeia, mas não conseguiu. Em compensação, a foto foi destaque no jornal O Globo e Jornal do Brasil. O repórter que o acompanhava conta, aos risos, que também chantageou um repórter pra obter o nome completo da Sandra. 

Depois de 28 dias presos, os jogadores foram liberados. Pagaram fiança e uma indenização à garota. Depois foram condenados, mas nunca cumpriram a pena. Os rapazes podem circular por aí livremente, como estão até hoje. Basta não pisarem na Suíça.

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Após saírem da prisão, os rapazes admitiram sua culpa. Eles estavam muito envergonhados. Saíram da Suíça com medo da recepção, de como seriam julgados após 28 dias incomunicáveis. O horário do voo pra Porto Alegre foi escolhido a dedo para evitar a imprensa. 

De fato, mal sabiam o que esperava os “Doces Devassos”, apelido que a imprensa esportiva gaúcha deu para os rapazes: um grupo de 500 pessoas entre imprensa e torcedores colorados e gremistas ocupava o Salgado Filho. No topo, as bandeiras do Inter e do Grêmio unidas.

O clima no desembarque era de festa. Envergonhados e pedindo desculpa, os jogadores do Grêmio demoraram para entender o que os gritos ensurdecedores de “PUTA, PUTA, PUTA!!!” e seu real significado. Eles eram heróis. Vítimas solitárias. Machos. 

Depois, a retomada. Fizeram ensaio de foto, entrevista de heróis sobreviventes. Vítimas. Só voltaram a ser notícia quando saiu a condenação na Suíça. Seguiram jogando no Grêmio, já que a diretoria recebeu milhares de cartas pedindo pra que os garotos não fossem punidos.

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Só precisaram pagar as custas dos advogados, processo e indenização mensalmente para o Grêmio.

Hoje, Cuca é treinador de um dos maiores times do país, o Santos, e teve passagem em diversos clubes no Brasil e no exterior.

Sandra teve depressão e tentou suicídio aos 15 anos.

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O MRN destaca que a condenação de Cuca não foi relacionada a estupro ou abuso, mas sim à prática de ato sexual com menor de 16 anos, proibida na legislação suíça.


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